Witzel crê em absolvição em processo de impeachment: ‘Julgamento é político e não tem base legal’
Apesar da continuidade do processo de impeachment ter sido aprovada com unanimidade na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o governador afastado Wilson Witzel (PSC) está confiante que será absolvido na próxima fase, em que a ação será submetida a uma comissão mista, formada por cinco deputados e cinco desembargadores. Em entrevista ao programa “Direto ao Ponto”, da Jovem Pan, nesta segunda-feira, 5, Witzel voltou a defender a sua inocência. “Tudo que tem sido falado sobre mim é absolutamente incendiário, não tem nenhuma prova que participei de qualquer atividade criminosa. Muito pelo contrário, tudo que eu fiz foi para impedir que qualquer organização criminosa se instalasse no Rio. Se conseguimos desarticular isso, é porque o meu governo teve transparência. Quem não deve, não teme, e eu não tenho absolutamente medo nenhum. Em breve estarei de volta ao governo do estado e o processo do impeachment estará encerrado para eu continuar minha vida política”, afirmou.
Hoje começou o rito final da ação que pede o afastamento do governador. A comissão mista do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) já o notificou na semana passada. Serão longos 120 dias, até o fim de janeiro, para decidir se ele vai ou não perder os direitos políticos. A primeira etapa prevê que a defesa de Witzel se manifeste. Esse prazo para argumentação é de 15 dias. Após esses 15 dias, o relator da matéria, deputado Waldeck Carneiro (PT), vai ter que emitir o seu parecer, e a avaliação precisa ser aprovada pela comissão. O governador disse estar confiante que o petista “fará um julgamento imparcial” e que, até agora, as declarações dos deputados que fazem parte da comissão “têm sido equilibradas”. “Tenho uma relação distante com os desembargadores, mas por julgamentos anteriores desses magistrados, penso que, diante do que será apresentado a eles, a decisão será favorável a mim e contra o impeachment”, afirmou. “Não vou desistir jamais. Tenho convicção que não pratiquei nenhum ato ilícito, até agora foi um julgamento político, sem base legal. Mas o tribunal misto, a própria declaração dos deputados, me deixou animado”, declarou.
Acusações
Witzel é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de integrar uma organização criminosa que movimentou propinas em um valor de R$ 554,2 mil, que teriam sido pagas por empresários da área da saúde ao escritório de advocacia da primeira-dama do Rio, Helena Witzel. O nome do governador apareceu durante uma delação do ex-secretário de Saúde Edmar Santos, acusado de ser um dos chefes de um esquema de corrupção que teria desviado R$ 1 bilhão em compras durante a pandemia do novo coronavírus. O ex-subsecretário de Saúde do Estado Gabriell Neves foi preso na “Operação Mercadores do Caos”, conduzida pela Polícia Civil do Rio e pelo Ministério Público. Ele é suspeito de integrar uma organização criminosa que visava obter vantagens em contratos emergenciais, sem licitação, para a aquisição de respiradores pulmonares utilizados no tratamento de pacientes graves com Covid-19.
Desde o início, Witzel nega as acusações de que tenha feito parte do esquema. “Não deveria estar afastado porque não encontraram absolutamente nada. Há apenas a palavra do Edmar. Essas delações hoje demonstram a falência de órgãos de investigação. A delação hoje é uma rota de fuga para quem cometeu o ato ilícito”, afirmou nesta segunda-feira. O governador afastado garantiu que não sabia nada sobre as irregularidades que Neves estaria cometendo, e disse que o nome dele foi “uma escolha técnica”. Já Edmar, de acordo com Witzel, foi escolhido pelo currículo. “(O governo) vinha atendendo muito bem, todas as medidas tomadas (durante a pandemia) foram acertadas, o erro foi o hospital de campanha, que foi um desastre. Foi uma tragédia, mas quando ele (Edmar) veio com a proposta do hospital de campanha, achei que seria realmente uma boa solução”, afirmou o governador.
Operação Lava Jato e Lula
Ao alegar que o processo contra ele é “de um rigor excessivo”, Witzel alfinetou a Operação Lava Jato. “O processo penal brasileiro em tempos de Lava Jato está se transformando em um circo, principalmente quando atinge políticos. Não sou contra a Lava Jato, mas vários são os casos que lá na frente estão dizendo: erramos”, afirmou citando, inclusive, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Não estou aqui para defender e nem acusar o Lula, mas as palestras que ele deu e foram consideradas naquele momento fruto de lavagem de dinheiro, cinco anos depois o Ministério Público pede arquivamento. Isso é inconcebível”, disse. O governador comentou, ainda, sobre as acusações de que teria “traído” o presidente Jair Bolsonaro, de quem era inicialmente apoiador, mas que rompeu no final do ano passado. “Em que eu traí ele? Existe alguma questão política que eu tenha feita em desacordo com o plano de governo dele? A questão da pandemia, ele entendeu que os governadores foram além da conta, mas todos estávamos aterrorizados porque não teria condições de dar atendimento a todas aquelas pessoas. Se não fizéssemos isolamento social, teriam pessoas morrendo nas ruas”, declarou.
O programa “Direto ao Ponto” é apresentado por Augusto Nunes. A atração vai ao ar todas as segundas-feiras, às 21h30, e receberá um convidado por semana, que será sabatinado durante uma hora e meia. A veiculação será no Panflix , na rádio e no site da Jovem Pan. O “Direto ao Ponto” é um programa de entrevistas e contará com mais quatro jornalistas na bancada. Ao vivo, com uma hora e meia de duração, ele irá promover debates sobre temas relevantes, com tom jornalístico, sem perder a imparcialidade e a credibilidade. Nesta segunda-feira, Witzel foi sabatinado por José Maria Trindade, da Jovem Pan de Brasília, Luís Ernesto Lacombe, da Rede TV, Percival de Souza, da TV Record e Isabele Benito, apresentadora SBT Rio.