Um dia antes de medida restritiva, Cabula tem aglomeração e bancos lotados

É num conglomerado de atividades comerciais às margens dos 5,3 quilômetros de extensão da Rua Silveira Martins que se inicia, nesta quarta-feira (3), mais uma medida restritiva para frear o avanço do novo coronavírus em Salvador. O bairro do Cabula, um dos mais populosos da capital, terá uma série de regras, entre elas a restrição no comércio, a fim de evitar aglomerações. Nesta terça-feira (2), o CORREIO circulou pela região e flagrou muitas pessoas próximas umas das outras em vários locais, como pontos de ônibus, feiras e, principalmente, no entorno de agências bancárias. 

(Foto: Bruno Wendel/CORREIO)

As pessoas aglomeradas em frente às agencias buscam diversos serviços, desde depósitos bancários a saques, entre eles, o auxílio emergencial. “Os guardas colocaram as cadeiras, mas é mesmo que nada. Fica um monte de gente em pé na porta do banco. Eles (guardas) falam pra sentar. As pessoas obedecem, mas levantam novamente quando eles (guardas) dão as costas e fica por isso mesmo”, disse a dona de casa Adriana Nascimento, 30 anos, que estava na fila da agência da Caixa Econômica Federal para pegar o auxílio do governo. 

Além o Cabula, terão também medidas restritivas nesta quarta-feira o bairro vizinho de Tancredo Neves, Fazenda Grande do Retiro e Paripe, no Subúrbio Ferroviário.  Os novos bairros foram incluídos na lista porque registraram aumento no número de casos de pessoas contaminadas com o novo coronavírus. No caso do Cabula, até este domingo (31), eram 113 casos, sendo 98 em maio e 48 doentes nos últimos sete dias.

Apesar de guardas municipais, havia aglomeração na agência da Caixa
 (Foto: Bruno Wendel/CORREIO)

Na manhã desta terça, o vice-prefeito Bruno Reis disse que a prefeitura tem atuando nos bancos públicos ajudando a organizar as filas, mantendo o distanciamento entre as pessoas e construindo, em alguns casos, abrigos para a chuva e o sol. “Temos pressionado os bancos particulares para organizarem as filas, alguns já foram interditados e à Caixa Econômica, que está pagando o auxílio emergencial, estamos dando todo o apoio, organizando as filas, colocando cadeiras, medindo as temperaturas. Amanhã, no Cabula, chegado com todas essas ações da Prefeitura, vamos estar lá atuando ao lado dos bancos para organizar o funcionamento deles”, declarou Reis, durante entrega de cestas básicas no Mercado Municipal de Cajazeiras. 

Reis disse ainda, em relação aos bancos privados, que a Prefeitura precisa da ajuda da população na fiscalização, que as pessoas denunciem as aglomerações. “Feita a denúncia, a prefeitura autua. Em alguns casos, chegamos a interditar. Pagamentos de salários e benefícios têm que acontecer com a segurança necessária para este momento”, declarou. 

A situação não foi diferente no Bradesco: pessoas estavam muito próximas
(Foto: Bruno Wendel/CORREIO)

Bancos
O CORREIO começou a percorrer o Cabula por volta das 9h. Pela Rua Silveira Martins, a principal da região, tem início após a Ladeira do Cabula e corta todo o bairro até a Avenida Paralela. A rua tem um grande número de lojas, farmácias, supermercados, bancos, academias, bares, restaurantes, entre outros estabelecimentos. São mais de 300 negócios funcionando ao longo de seu trajeto.

Em frente à entrada do bairro de Nossa Senhora do Resgate, duas filas se formavam em lados opostos para ter acesso à agência Bradesco – uma exclusiva para o acesso de idosos.

“Esta fila aqui é de idosos, mas está todo mundo um perto do outro, porque não tem ninguém para organizar a fila”, reclamou o aposentado Antônio Carlos dos Santos, 61 anos.

Apenas alguns centímetros afastada de Antônio – o distanciamento recomendado pelas organizações de saúde é de 1,5m para evitar a contaminação pelo coronavírus –, a aposentada Maria Dias Moura, 63, defende a medida restritiva no Cabula. “Demorou. Já era para ter tido muito antes. O bairro tem muita gente e acaba sendo inevitável a aglomeração. Eu mesma me passei aqui. Vou até me distanciar”, disse ela ao CORREIO, ao mesmo momento que recuava para a lateral da fila. 

A situação não foi diferente na agência do Banco do Brasil, situado a poucos metros da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). As filas faziam volta no quarteirão e a aglomeração era inevitável. “ Os bancos sabem que precisam controlar o acesso de pessoas, mas precisam entender também que precisam ser rápidos no atendimento para a gente fica aqui fora espremido num calor retado”, desabafou o entregador Anderson Santos Souza, 37.

Quem também estava na fila da agência foi a aposentada Neuza Fernandes, 64. “Só vim aqui para fazer um pagamento e nada de entrar. Mas estou quase desistindo porque as pessoas aqui não estão respeitando o distanciamento e, pelo fato de ser idosa, faço parte do grupo de risco”, declarou ela ao lado do marido. 

No Hiperbompreço, uma das filas era para entrar no supermercado
(Foto: Bruno Wendel/CORREIO)

Hiper
No Hiper Bompreço Cabula havia aglomerações nas três filas formadas em frente ao estabelecimento. A primeira e a maior de todas era para ter acesso aos oito caixas eletrônicos no estacionamento. “É sempre assim. Quem vem aqui passa sempre raiva. Agora, tem também o risco de pegar coronavírus”, disse o analista logístico Jaudemir Oliveira Correia, 39. A outra fila é da lotérica. A turismóloga Elane Souza, 36, mantinha 1,5 de distância, mas as outras pessoas. “Infelizmente, por isso que medidas (restritivas) são necessárias. Aqui é um bairro muito populoso e vai do entendimento de cada um”, disse. 

Já a terceira fila, era para ter acesso ao supermercado. Um segurança disse que a entrada é controlada, conforme orientação da Prefeitura, e que pede para as pessoas se afastarem uma das outras na fila. “Mas não adianta. A gente cansa de orientar sobre os cuidados, mas não entendem. Aqui não entra sem máscaras e sem o uso do álcool em gel”, explicou o segurança ao CORREIO.

Partindo dessa resposta, a reportagem perguntou a primeira pessoa da fila por que não estava respeitado o distanciamento social. Foi então que a assistente administrativo Jucilene Almeida, 42, respondeu: “Eu estou afastada. Quem não cumpre são as outras pessoas que vão encostando na gente”. 

Feira 
Ao lado do Hiperbompreço, pessoas se juntam ao redor das feiras livres. Uma das bancas pertence ao feirante José Roberto Silva, 42. Ele disse que tem consciência de que amanhã não poderá vender suas frutas e verduras por causa da medida restritiva.  No entanto, José já vinha se preparando para tal situação. Desde quando começou a suspender temporariamente o funcionamento das feiras para evitar as aglomerações, ele passou a fazer economias. “Venho separando um dinheirinho pra não ficar prejudicado durante o período da restrição, pois sabia que um dia ia chegar aqui”, revelou. 

A Secretaria de Desenvolvimento e Urbanism de Salvador (Sedur) informou que vai fiscalizar os estabelecimentos confirme o decreto municipal que adota medidas mais duras. Já a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) informou que atua na fiscalização do comércio em geral desses bairros que passam por medidas restritivas, realizando notificações. A Guarda Civil Municipal vai apoiar as operações.

A todo momento pessoas pararam ao redor dos ambulantes
(Foto: Bruno Wendel/CORREIO)