Saúde mental na pandemia
Os casos de depressão, ansiedade e estresse têm aumentado muito neste período da pandemia, segundo dados divulgados e situações vividas por pessoas que conhecemos.
O isolamento social, a crise econômica, o desemprego, a morte de familiares e amigos, as incertezas e o medo repercutem na vida das pessoas, afetando a saúde mental.
Certamente, havia dados preocupantes no Brasil, antes da pandemia. Transtornos mentais existentes antes dela podem ter se agravado, especialmente, se foram interrompidos os tratamentos. As consequências da pandemia para a saúde mental poderão continuar além dela. Por isso, o assunto deve ser considerado com especial atenção.
Para o enfrentamento do problema, é muito importante a ajuda especializada no campo da saúde mental. É preciso superar o preconceito e buscar o tratamento adequado para doenças mentais, como ocorre em outras enfermidades que necessitam de auxílio médico. Além dos conhecidos meios, como medicamentos e psicoterapia, estão em andamento diversas iniciativas como grupos de apoio, cartilhas para a saúde mental, atendimento online e orientação para os familiares. Conforme o sábio alerta dos especialistas, os tratamentos não devem ser interrompidos, especialmente, durante este período desafiador da pandemia.
Dentre os diversos fatores importantes de proteção da saúde mental estão o sentido dado à própria existência, a redescoberta do valor e da alegria de viver, e as atividades religiosas. No campo da espiritualidade têm sido revalorizados, hoje, a meditação, o silêncio e a oração, assim como a participação numa comunidade fraterna e acolhedora.
Não bastam os esforços pessoais. O cuidado de si necessita do outro, a partir dos círculos mais próximos de relacionamentos, como a família. A experiência de ser amado é fundamental na superação de doenças mentais.
O amor que se expressa no cuidado de quem sofre contribui para a cura. Não podemos cansar de amar quem passa por momentos de angústia e depressão e necessita de maior atenção fraterna e de cuidados. Amigos, familiares e profissionais de saúde compartilham a tarefa bela e exigente de cuidar.
Contudo, os problemas não se restringem ao interior das casas ou ambientes de trabalho. Merecem especial atenção os que sofrem distúrbios mentais abandonados nas ruas, o que estão nas prisões e em situação de extrema pobreza. As doenças mentais não implicam em menor dignidade humana ou menos direito à assistência médica.
O “Setembro Amarelo”, realizado no Brasil, desde 2014, quer contribuir para a prevenção do suicídio, muitas vezes, associado a transtornos mentais. Essa triste realidade não pode ser ignorada; exige medidas efetivas para a sua prevenção, em vários níveis, especialmente no âmbito da saúde pública. É tempo de olhar com mais atenção e de cuidar da vida fragilizada pelas doenças mentais.
* Dom Sergio da Rocha é Cardeal Arcebispo de Salvador