Rita Batista fala sobre racismo na TV e pede dados de presença negra na mídia baiana
Com uma trajetória de ocupação de grandes espaços na mídia baiana e brasileira como apresentadora, radialista e uma série de outras habilidades na comunicação, Rita Batista bateu um papo com a colunista Midiã Noelle, no Conexões Negras desta sexta-feira (2), sobre as dificuldades e a importância de ser uma pessoa preta dentro destes ambientes de comunicação.
Com passagens por veículos de cobertura nacional como Band e GNT, e locais como TV Aratu, TVE, Metrópole e atualmente na Rádio Globo, ela comentou a desproporcionalidade da representação de pessoas negras — sobretudo mulheres —, que são maioria da população do país, na mídia. “Daí, pode ficar parecendo que não existem mulheres que queiram fazer essas atividades, que queiram estar nesses espaços. Ou pior, ainda há o mito da meritocracia, quando se diz que elas não estão aptas a ocuparem esses lugares”, disse.
Frequentemente convidada por estudantes para depor sobre o assunto em Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), Rita relatou que costuma aceitar estes convites, mas sente um incômodo quanto à ausência de pesquisas sobre dados do mercado da comunicação neste sentido.
“Eu sempre falo: ‘Desculpa me meter no seu trabalho, que já está aí fechadinho para você ganhar seu diploma e resolver a sua vida. Mas parem de pesquisar a gente! A gente já sabe. Pesquisa o mercado, vai lá na porta da emissora, do jornal, da rádio e pergunta: Quantos profissionais vocês têm aí? E quantos deles são negros? Quantos mostram a cara?’”, sugeriu.
Com uma longa história de trabalho na televisão, Rita relembrou como este meio impôs pressões estéticas contrárias à sua identidade enquanto mulher negra. “A televisão lida diretamente com a imagem, então eu tive muitos ‘problemas’ com o meu cabelo e sempre era uma desculpa técnica, de que ele não era simétrico”, recordou.
Rita tentou dar solução trançando os fios, mas novamente apontaram problema e ela ouviu frases descabidas como: “Ah, mas de cabelo trançado fazendo jornalismo? Vão prestar mais atenção no cabelo do que na notícia”, contou. A apresentadora lembrou o apoio da chefe Arla Coqueiro para conseguir a liberdade de manter um cabelo afro.
“Eu ficava irritada quando via uma pessoa preta na mídia que não militava por nada. Depois, a maturidade me fez ver que é cada um fazendo o seu. A pessoa estar ali naquela posição já é um ato político, já é um protesto. A presença do corpo negro por si só já incomoda. Tem gente que beija minha mão, mas se pudesse não falava comigo. Só que eu sou ótima nessas relações, me saio muito bem porque fui treinada por Dona Rosinha, minha avó, que foi me ensinando direitinho”, brincou.