Redes sociais e privacidade: amigos ou conhecidos podem ver anúncios com base na nossa navegação?
Tira-dúvidas comenta as tecnologias usadas para direcionar a publicidade na web e quais configurações existem para que você controle o uso dos seus dados. Se você tem alguma dúvida sobre segurança da informação (antivírus, invasões, cibercrime, roubo de dados etc.), envie um e-mail para [email protected]. A coluna responde perguntas deixadas por leitores às terças e quintas-feiras.
Redes sociais prometem privacidade, mas usuários precisam navegar por um labirinto de configurações e ajustes para evitar o uso de dados.
Stephen Lam/Reuters
Toda vez que estou pesquisando um produto no Safari, poucos segundos/minutos depois aquele mesmo produto aparece como “sugestão” no Instagram/Facebook da minha esposa no iPhone dela, que está conectado à mesma rede. Ou seja, tudo que eu pesquiso na web aparece sugestão pra ela. Com isso, se eu quiser fazer alguma surpresa, ela acaba descobrindo antes. Como bloquear esse tipo de “compartilhamento”? – Alexandro
Que situação chata, Alexandro!
Infelizmente, se isso está acontecendo e você quer comprar um presente surpresa para sua esposa sem que ela fique sabendo, talvez seja melhor fazer a compra em uma loja física. E, só para garantir, coloque seu celular em modo avião antes de se aproximar da loja.
O problema é que a conexão/rede que vocês compartilham pode não ser o único fator responsável por essas sugestões. Acessar a internet de outro local até pode ajudar, mas também pode não ter efeito algum.
As empresas que oferecem publicidade contextualizada (como é o caso do Facebook e do Google) são capazes de obter seus dados de navegação em muitos sites da internet.
Quando você visita um site com tecnologias como AdSense, Analytics (ambos do Google) e Facebook Pixel, a visita é associada ao seu perfil.
Além de você usar a mesma rede que sua esposa, é muito provável que o Facebook também saiba que vocês dois costumam interagir nas redes sociais.
Se você tem um perfil no Facebook e colocou que é casado com sua esposa, essa informação também pode ser usada para vincular os perfis, ou seja, gerar semelhanças entre as sugestões que vocês recebem.
Não existem detalhes específicos sobre como o Facebook e o Google vinculam os dados de perfil e navegação para escolher a publicidade que aparece para cada usuário – isso é parte do “molho secreto” da tecnologia dessas empresas.
O que podemos imaginar é que todas as informações do perfil e interações (curtidas, frequências de mensagens, e outros) podem ser usadas para essa finalidade.
Facebook deixa anunciantes direcionarem campanhas com base em informações do perfil, mas usuário pode ajustar configuração.
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Uma solução “rápida” é realizar sua navegação em modo anônimo ou privado (esse modo está disponível em qualquer navegador; veja aqui como iniciar uma janela privada no iPhone). Isso evita que as informações sejam facilmente atreladas ao seu perfil.
Saiba mais: As empresas de tecnologia te escutam para vender publicidade? É mais provável que elas nem precisem.
Como diminuir seus ‘rastros’ on-line
O Facebook e o Google oferecem dezenas de configurações e ajustes de privacidade que podem influenciar o que é levado em conta para definir os anúncios.
No Facebook, você pode encontrar essas configurações a partir da página Verificação de privacidade. Ela possui diversas seções e subseções e você terá de navegar em todas elas e conferir. Uma das seções mais importantes é a de preferências de anúncios.
Configurações de privacidade do Facebook permite escolher o que será levado em conta para anúncios contextualizados.
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Veja alguns dos ajustes disponíveis no Facebook:
Quais informações do seu perfil podem ser usadas em publicidade direcionada (relacionamento, emprego, formação). Por exemplo, se você colocou no seu perfil que tem formação em ensino superior, um anunciante pode direcionar anúncios de mestrado ou de segunda graduação para você. Se você desligar, esses anúncios podem não aparecer (ou você irá recebê-los mesmo sem ter concluído a faculdade, por exemplo);
Ativar ou desativar frequências de anúncios sobre álcool, política, criação de filhos e animais de estimação;
Ativar ou desativar anúncios com base em dados de parceiros, atividade fora do Facebook e interações;
Atividade fora do Facebook;
Histórico de localização;
Dados da própria rede social: quem pode ver suas publicações, quem pode procurar você pelo e-mail ou número de telefone. Esta última opção, se deixava ativa, pode associar seu número ao seu nome com facilidade.
O Google oferece duas páginas importantes para ajustes de privacidade. Uma delas é o “Check-up de privacidade”, onde você encontra algumas configurações, entre as quais estão:
Atividade na web. Monitora todos os sites que você acessa. Desativar o registro da atividade vai impactar gravemente as sugestões de notícias no app do Google, além dos anúncios.
Histórico de localização.
Histórico do YouTube. Os vídeos que você já assistiu ficam registrados no histórico. Eles são usados para recomendar outros vídeos.
A personalização de anúncios do Google é configurada em outra página e pode ser desativada. As configurações de privacidade dos anúncios do Google usados por outros sites podem ser configuradas no site do AdChoices. Depois que a página carregar, você pode clicar em “Opt out of all” para reduzir o rastreamento.
O ‘labirinto’ da privacidade
Como fica evidente pelo número de opções existentes em apenas duas empresas (Facebook e Google), proteger a privacidade na web é um verdadeiro labirinto.
Uma “configuraçãozinha” aqui e outra ali podem fazer a diferença entre um anúncio personalizado aparecer para você ou não. É fácil se perder ou se sentir intimidado pela quantidade de ajustes.
E isso vale apenas para esses dois serviços. Muitos outros sites possuem seus próprios ajustes de privacidade. É necessário configurar cada um individualmente.
Se você usa Windows e/ou uma conta Microsoft, vale a pena conferir as configurações de privacidade da conta Microsoft (você pode visualizar as informações e realizar ajustes on-line, mas muita coisa precisa ser ajustada no próprio Windows ou nos apps da empresa).
Embora leis como a GDPR na Europa e a Lei Geral de Proteção de Dados do Brasil tenham insistido na ideia de que cada cidadão possa controlar o compartilhamento e o uso dos seus dados, nenhuma lei enfrentou o maior problema: a criação de uma forma padronizada para manifestarmos nossa vontade.
Saiba mais: O que a LGPD muda para os cidadãos? Veja perguntas e respostas
Em vez de cada site nos perguntar se autorizamos o uso de “cookies”, por exemplo, seria muito mais fácil que os sites respeitassem uma configuração realizada uma única vez, preferencialmente no próprio navegador.
Infelizmente, não é assim. Os navegadores web até tentaram introduzir uma configuração chamada “Não Rastrear”, mas nem todas as redes de anúncios respeitam essa configuração.
Configuração ‘não rastrear’ no Google Chrome. Mesmo com esse ajuste ligado, ainda é necessário configurar preferência de privacidade para não ser rastreado.
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Por mais que cidadão tenha legalmente o controle dos seus dados, é mais difícil fazer esse controle ter efeito prático quando não há uma forma simples de comunicá-lo aos serviços que usamos.
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