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Nos últimos anos, a corrupção vem sendo sistematicamente apontada como a origem de todos os males do país e responsável maior pelos diversos problemas que impedem o verdadeiro acordar do Gigante, apesar do breve despertar celebrado alguns anos atrás. A corrupção drena recurso da saúde, da educação, da segurança, da infraestrutura e impede que o Brasil cumpra a sua sina de grande nação.

É inegável que a corrupção é um mal real e disseminado em todas as esferas de governo e poderes. Estudos realizados pela FIESP indicam que 1,38% a 2,3% do Produto Interno Bruto do país são desviados pela má apropriação dos recursos públicos, o que se traduz em valores no intervalo de 100 a 150 bilhões de reais em 2020, os quais se aproximam, respectivamente, do orçamento da educação e da saúde. Segundo a Transparência Internacional, o Brasil, que ficou entre a 65ª e 76ª posição no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) entre 2012 e 2015, vem caindo de posição e em 2019 passou a ocupar a 106ª posição entre os 180 países ranqueados. Tanto quanto a posição absoluta, preocupa a derivada que aponta tendência de crescimento nos anos mais recentes. 

O Brasil realmente não figura bem em rankings internacionais. Aliam-se à preocupante 106ª posição no IPC, a 79ª posição no ranking de IDH, a 60ª posição (entre apenas 76 países avaliados) no ranking mundial de qualidade de educação e a 125ª posição no ranking de sistemas de saúde (composto por 191 países).  No entanto, se as posições ocupadas no terceiro e quarto quartil em diversos índices nos parecem incompatíveis com a nossa situação de quinto maior pais em extensão territorial, sexto em população e décimo em tamanho da economia, entre todos os rankings internacionais que nos mal classificam, destacamo-nos de forma especialmente negativa no ranking  de desigualdade. Somos o sétimo país mais desigual do mundo, ficando à frente apenas de seis nações africanas.

Para que se possa avaliar o significado desse indicador, respeitando-se a limitação desse pequeno espaço de reflexão, nos é suficiente dizer que a redução da desigualdade nacional ao nível da desigualdade observada no vizinho Uruguai, seria suficiente para que imediatamente, sem nenhuma alteração na renda agregada, reduzíssemos em mais de 50% o número de pobres do país. Incorporando-se à economia os 100 a 150 bilhões de reais desviados da corrupção, poderíamos a médio e longo prazo aprimorar o sistema educacional e de saúde com efeitos inquestionáveis sobre a qualidade de vida da população brasileira, mas em ordem de grandeza não comparável às intervenções que possam ser aplicadas no nível de desigualdade.

Os acordes monocórdicos das queixas e dissabores da corrupção são justificáveis e compreensivos. Num país onde tanto falta, nos causa ainda maior desconforto a subtração institucionalizada dos bens públicos. No entanto, isso não esconde o caráter excludente e seletivo da eleição da corrupção como mal maior desse país tão desigual. A Seletividade, no entanto, fica como tema para uma nova prosa.

Horacio Nelson Hastenreiter Filho é professor Associado da Escola de Administração da UFBA