Professores voluntários usam plataforma digital para transmitir conteúdo do Enem à estudantes carentes no interior de MG


Cursinho popular funcionava desde 2018 na sede de um Centro Comunitário em Buritizeiro, mas os voluntários se adaptaram por conta da pandemia. Alunos acompanham as aulas pela internet
Arquivo pessoal
Voluntários de um cursinho popular, que prepara jovens carentes para o Exame Nacional do Ensino Médio, em Buritizeiro (MG), se adaptaram para levar o conhecimento, mesmo em tempos de pandemia. As aulas estão sendo transmitidas por uma plataforma digital de segunda a sexta das 19h às 21h.
Cada professor repassa o conteúdo de casa utilizando recursos próprios. O cursinho funcionava na sede de um Centro Comunitário com capacidade para 20 alunos, mas, agora com as aulas remotas o conteúdo pode chegar a mais pessoas.
“É possível colocar até 100 alunos nas chamadas e já temos 35 inscritos. Quem não consegue acompanhar a aula ao vivo porque tem dificuldade em relação à internet, pode baixar os arquivos depois e fazer as atividades em casa”, explica uma das diretoras do projeto Larissa Rocha.
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A tecnologia também ajudou a suprir uma demanda antiga do cursinho: a falta de professores na área de exatas.
“Tínhamos muita dificuldade de encontrar professores nessa área, principalmente de física porque os poucos profissionais que têm na cidade, estão sobrecarregados. Agora, com as aulas remotas podemos contar com a colaboração de voluntários de outras cidades”.
Jefferson repassa o conteúdo de física de Curvelo, na região Central
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Neste ano, o professor de física ensina o conteúdo cobrado no Enem direto da Região Central de Minas. Jefferson Pereira da Silva é natural de Buritizeiro, mas se mudou para Curvelo em 2015 para cursar Engenharia Civil no Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET). Ele diz que sempre teve vontade de ajudar no projeto, mas nunca conseguiu por conta da distância.
“Eu vejo como uma realização pessoal minha por contribuir e estou muito feliz. É bem gratificante porque conheço a situação de carência do bairro onde esses jovens vivem”.
Jefferson passou a infância nesse mesmo bairro e conta que sempre teve incentivo dos pais para estudar, uma realidade bem diferente da maioria dos colegas.
“Meus pais tiveram que trabalhar desde cedo e só minha mãe conseguiu concluir os estudos, e lá em casa estudar sempre foi prioridade, mas nem todos os jovens do bairro tem essa oportunidade, muitos precisam trabalhar para ajudar em casa. Quando entrei na faculdade, ainda não existia o cursinho, mas tive uma base boa no ensino médio porque consegui uma bolsa em um colégio particular e fui aprovado no Cefet”.
Futuro melhor para os filhos
Jaquelane Oliveira dos Santos tem 22 anos e se matriculou no cursinho popular pela primeira vez. Mãe de dois filhos, de 3 e 6 anos, ela tenta conciliar a rotina em casa, trabalho e os estudos.
“Sempre sonhei em fazer uma faculdade, desde antes dos meus filhos nascerem, e hoje penso em me formar para dar uma vida melhor para eles. Ainda não decidi se vou tentar medicina ou direito, mas se Deus quiser serei aprovada”.
Jaquelane sonha entrar na faculdade para dar um futuro melhor para os filhos
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A estudante nunca trabalhou de carteira assinada e a fonte de renda vem da venda de produtos de beleza e de bombons. Há um ano, ela aprendeu a fazer os doces pela internet e vende em comércios da cidade. O dinheiro é usado para ajudar o companheiro com algumas despesas e ela conta que não teria condições de pagar pelo cursinho, por isso a iniciativa tem sido importante.
“O cursinho está sendo muito bom porque está dando oportunidade para as pessoas que não tem condições de pagar, como é o meu caso. Com o dinheiro que ganho, pago conta de água, luz, padaria, medicamentos” diz.
Mudança de vida
Cursinho funcionava na sede de um Centro Comunitário antes da pandemia
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O cursinho popular do Instituto Opará foi criado em 2018 por estudantes, professores e líderes comunitários, baseado nos pilares da educação, cultura e geração de renda.
“O objetivo é trabalhar a perspectiva de futuro com os jovens da periferia com base na educação e cultura. Queremos que eles tenham outras opções podendo ingressar na faculdade, investindo na carreira que sonham”, disse uma das diretoras do Instituto Larissa Rocha.
Cerca de 100 jovens já participaram do cursinho e muitos conseguiram realizar o sonho de ingressar em uma faculdade.
Jayne foi aprovada no curso de enfermagem em Uberlândia; foto foi tirada no dia de apresentação de um seminário
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É o caso da estudante de enfermagem Jayne Oliveira que se matriculou na primeira turma. Ela foi aprovada pelo Prouni em uma faculdade de Uberlândia e foi a primeira da família a ingressar na universidade.
“Eu estudava em casa e fiz o Enem duas vezes antes do cursinho, mas não tive média para ser aprovada em nenhum curso. As aulas foram muito importantes, sem elas eu não teria conseguido. Depois de estudar no cursinho, tentei o Enem e fui aprovada em nutrição e enfermagem. Sou muito grata e depois que me formar pretendo voltar para a minha cidade e buscar uma oportunidade lá mesmo, perto da minha família”.
Serviço
Instituto Opará realiza oficinas e eventos culturais
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Além do cursinho, o Instituto Opará oferece oficinas temáticas, empréstimos de livros e realiza eventos culturais para a sociedade de forma geral. Por conta da pandemia, somente a ‘geloteca’ segue funcionando com livros diversificados à disposição dos moradores.
O projeto é mantido por doações e está cadastrado em uma plataforma digital, onde as pessoas podem deixar a contribuição mensal. Outras informações podem ser obtidas no site.
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