Procura por imóveis sobe: 'melhor momento para comprar', dizem corretores

“O mercado nunca esteve tão bom. Esse é o momento de comprar”, dizem os corretores imobiliários. Pode até parecer conversa de quem quer vender seu peixe, mas dessa vez não é. De fato, o cenário econômico está propício para quem planeja fazer esse investimento. Isso porque é possível encontrar juros anuais a partir de 6,25% e até mesmo jogar o pagamento da primeira parcela dos novos contratos só para seis meses após a compra para os contratos firmados até dezembro.

Essas são apenas duas das medidas que fazem parte de um pacote anunciado pela Caixa Econômica Federal com ações para facilitar a compra de novos imóveis. O anúncio foi feito através de uma transmissão ao vivo nas páginas da empresa nesta quarta-feira (14). Segundo o banco, 830 mil famílias poderão ser beneficiadas, e as negociações podem mover um total de R$ 83 bilhões considerando renegociação de dívidas e novos contratos.

Além das novas taxas de juros, que começam a valer a partir do próximo dia 22 com uma queda de 0,5%, o banco anunciou ainda a possibilidade de pagamento parcial de parcelas para aqueles que desejam retomar  o pagamento dos seus financiamentos. “É uma novidade extremamente importante. Aqui estamos ajudando as famílias a passar por esse momento delicado, por isso a oferta dessa possibilidade de se pagar uma parte da prestação, uma redução que entendemos que nesse momento gera um benefício para a sociedade”, explicou Pedro Guimarães, presidente da Caixa. A redução faz com que seja possível pagar 75% do valor da parcela durante um período de seis meses ou reduzir até 50% do valor da parcela por três meses. 

Quem vende direto ao proprietário não esconde que o momento é positivo. “O mercado nunca esteve tão bom. As pessoas têm procurado muito, na grande maioria das vezes para uso próprio. Muita gente que por conta da pandemia está procurando um imóvel maior, com mais conforto”, conta o corretor Luiz Pinheiro, na área há 13 anos e que apenas na última semana finalizou o processo de venda de dois imóveis na capital.  “Além da própria pandemia, por conta da crise as pessoas tem visto nos imóveis uma forma segura de investimento já que aplicações financeiras podem ser um risco e poupança não tem rendido tanto. O imóvel é um bem com garantia de valorização e tem muita gente comprando também como investimento. Se a pessoa pode, esse é o momento de comprar”, acredita o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Bahia (Creci-Ba), Samuel Prado.  

Foi justamente por conta da pandemia e das mudanças na rotina que a professora aposentada Angélica Moura, 57 anos, decidiu se mudar. Vai sair de Brotas para o Imbuí depois da compra recente de um novo apartamento. “Escolhi um imóvel com bastante verde e maior para que a gente possa montar uma área de home office mais confortável. Nesses últimos meses ficamos muito tempo em casa e acabou sendo motivação para a mudança”, explica ela que vendeu o apartamento onde morava para comprar o novo e financiou parte do novo imóvel junto a própria Caixa. “Pesquisei e foram as condições mais favoráveis que encontrei’, conta ela que teve o auxílio de uma corretora em todo processo desde a venda do antigo até a escolha e compra do novo, em cerca de dois meses.

Novo uso
Quem trabalha na área de imóveis percebe que mudanças causadas pela pandemia vem modificando também o interesse pelos imóveis, justamente como aconteceu com Angélica. A novidade já vem sendo sentida pelas empresas do setor desde o meio do ano. A  OR – braço imobiliário do Grupo Odebrecht –, por exemplo, é uma das que nota o novo comportamento. “A pandemia acabou gerando uma mudança na forma em que as pessoas se relacionam com suas casas. Passamos da praticidade, do desejo por um apartamento funcional e prático, para a necessidade de maiores espaços, com área externa e as casas acabaram sendo muito procurada. Condomínios que oferecerem equipamentos como piscina, varandas, espaço gourmet, possibilitando às pessoas a viverem, dentro daquele espaço uma vida normal são muito procurados”, opina Daniel Sampaio, diretor superintendente da OR
 
Para o executivo a mudança não é temporária.“Esse é um movimento linear que deve se estender até que se encontre segurança e uma nova estabilidade para lidar com o vírus.  Foi algo que começou depois dos primeiros meses de isolamento, quando passou aquele susto inicial e as pessoas começaram a aprender como conviver de alguma forma com a situação e deve seguir”, completa Daniel 

Para as construtoras as vantagens oferecidas pelos bancos são fundamentais para elevar a procura. Clientes tem se valido bastante, por exemplo, do pagamento das parcelas iniciado depois de seis meses, benefício prorrogado pela Caixa no último pacote de medidas até dezembro. “Os últimos meses tem sido de maior procura. Seja como intenção de compra ou como venda finalizada em si, os números são bastante positivos. O movimento nas modalidades de financiamento da Caixa Econômica Federal, flexibilizando as taxas de juros e a carência do pagamento em até 6 meses para novos financiamentos proporcionam um momento favorável para quem quer comprar ou investir” explica André Ferreira, da área de incorporação construtora e incorporadora Sertenge, que tem entre seus empreendimentos o Lumina Residencial, um condomínio localizado no bairro de Cajazeiras, próximo à praia de Piatã que investe justamente em pontos que a pandemia acabou valorizando.

André explica que alguns atrativos sempre chamaram atenção dos compradores mesmo antes do isolamento, mas que o período em casa acabou por potencializar algumas vantagens. “Alguns aspectos dos residenciais sempre tiveram grande apelo, como uma boa área verde, piscina e outros equipamentos de lazer. Dentro do apartamento, as varandas e sacadas são, já há muito tempo, um diferencial. Com  a perspectiva de termos o teletrabalho e o estudo em casa sendo continuado para muitas pessoas, ao menos por algum tempo mais, as características das plantas também ganharam mais atenção”, acredita ele. 

Cuidados 
Apesar das vantagens e dos equipamentos completos, quem pensa em aproveitar para comprar um imóvel precisa estar atento. É que os benefícios oferecidos pelos bancos e os próprios atrativos dos imóveis podem funcionar como gatilhos perigosos para saúde financeira de quem compra. “Se esse é o momento ideal ou não para a compra de um imóvel isso vai depender de como está organizada a vida financeira de quem vai comprar e não pode ser baseado apenas nas vantagens”, explica o economista e educador financeiro Edísio Freire.

O professor reconhece que o mercado está favorável mas alerta que a decisão da compra precisa passar por uma análise pessoal cuidadosa, “Olhando para o mercado sim, esse é um bom momento. Por conta da crise muita gente precisou vender para se capitalizar, o que acabou gerando imóveis com preços abaixo do mercado disponíveis. Os próprios bancos também precisaram oferecer um pouco mais de competitividade e isso reflete em taxas um pouco melhores”, diz o educador. 

Para quem quer comprar, no entanto, ele dá uma dica. “Não é como se estivéssemos comprando uma calça, uma blusa, que podemos desistir daqui a dois dia. É a compra de um bem, com impacto de longo prazo no orçamento, então a pessoa precisa ter certeza de que é um valor que ela pode comprometer. Se isso estiver seguro, então esse é sim um bom momento para compra”, avalia. Ele chama atenção, ainda, para as vantagens trazidas pelos bancos. “As pessoas precisam saber que nada é de graça. Quando o banco permite que você paguem seis meses depois ele está te cobrando os juros que iriam incidir naqueles meses embutidos do saldo devedor. O que acontece é que a gente não sente os juros porque eles são diluídos, mas estão lá. É preciso que a pessoa esteja atenta a todos os detalhes na hora avaliar a compra”, finaliza. 

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro