Prêmio Braskem de Teatro celebra os melhores do palco em 2019

Teatro Castro Alves lotado, tapete vermelho e muitos abraços. Essa seria a normalidade quando se fala em Prêmio Braskem de Teatro, um encontro tão esperado pelos artistas do teatro baiano. Neste ano, no entanto, a cerimônia da 27ª edição da premiação foi diferente e o encontro virtual. Por conta das limitações impostas pela pandemia, e a entrega das oito estatuetas precisou se reinventar, assim como se reiventou o próprio teatro. 

“Que saudades do teatro, que saudades do palco. Pelo menos platéia a gente tem” disseram os atores Marcelo Praddo e Denise Correia ao iniciar a cerimônia que conduziram, referindo-se aos indicados que acompanhavam a premiação de uma sala de conferência virtual para manter a reunião. Ao todo, 20 espetáculos diferentes foram contemplados com indicações, com destaque para Holocaustro Brasileiro e Vermelho Melodrama, com cinco e seis menções respectivamente.

Entre os vencedores, a diversidade entre os espetáculos premiados, deixa clara a qualidade da cena artística baiana. Ao todo, seis peças diferentes levaram para casa os troféus. “É uma imensa alegria, nesse momento que desafia todo mundo, mas principalmente os artistas da arte viva, da arte da cena, do teatro. A classe artística tem sofrido um desmonte completo não só pela pandemia mas também pela situação política do país. É um momento de agradecer a toda equipe e elenco. O teatro continua vivo, se espalhando por outras plataformas, mas resistindo”, disseram o diretor Jorge Alencar e alguns outros membros da equipe de Vermelho Melodrama ao receberem juntos o prémio concedido ao trabalho, consagrado melhor espetáculo adulto. Vermelho e Holclaustro Brasileiro foram os únicos espetáculos a vencer duas categorias cada.  (veja abaixo a lista de indicados e vencedores) 

Sobre a cerimônia diferente, o palco do teatro deu lugar ao estúdio da TVE, de onde a premiação foi transmitida. “O fundamental quando se muda a linguagem é respeitar a linguagem que estamos usando. A gente não ia conseguir trazer o mesmo calor da troca para uma câmera. Então desde o ínicio a gente resolveu assumir um programa de televisão mesmo para fazer da melhor maneira diante de todas as limitações que são necessárias”, relata Gil Vicente Tavares, responsável por conceber e dirigir a edição deste ano do Braskem. 

Para os artistas, apesar das estranhezas do formato e de tantas novidades, algo de conhecido seguiu presente: a alegria do reencontro – mesmo que virtual – e da reunião proporcionada pelo prêmio. “Esse é o nosso momento de reencontro. De troca. Quando dividimos com os colegas do que tínhamos visto, gostado, o lugar de pensarmos novos projetos para o novo ano. Isso é o fundamental do prêmio. Nesse momento é mais importante ainda, estamos saudosos desse contato, desse abraço e é muito bom ver os colegas, uma forma desse abraço chegar, mesmo que através das mídias sociais”, conta Jarbas Oliver, indicado pela quarta vez ao prêmio, desta vez pela atuação em Sonhos de Uma Noite de Verão na Bahia.

Teatro virtual
A cerimônia remota não foi a única diferença na premiação. A já tradicional mostra que traz de volta aos palcos os espetáculos indicados precisou acontecer através da internet. As peças foram todas disponibilizadas em vídeo para serem assistidas no canal do Prêmio no Youtube. A nova forma de teatro acabou despertando reflexões nos próprios artistas. “Manter o prêmio e a mostra, mesmo online, é manter viva essa energia do teatro, de alguma forma manter a troca entre o artista e o público. O teatro filmado é muito diferente porque o teatro é a arte da presença mesmo, mas tem sido diferente entender, perceber isso, a peça muda, mas a gente entende     que é uma outra coisa, uma outra camada que não é o espetáculo em si”, acredita a atriz Véu Pessoa, indicada por Vermelho Melodrama. 

Idealizadora de um dos primeiros projetos que levava o teatro para internet – o Na quarentena tem teatro – a atriz Fernanda Beltrão, indicada pelo trabalho de atriz em Dois pesos e duas medidas, acredita que a nova forma de fazer a arte cênica ainda está sendo construída. “A gente ainda tá entendendo o que é teatro virtual. Ele ainda não está definido, estamos tentando entender o que é mas é uma alternativa positiva, que dá um acesso ainda mais democrático e acessível para que o público possa assistir de casa”, diz. “Investir um pouco no registro e fazer um produto de mais qualidade para além da sala de teatro,acredito que é algo que veio para ficar”, completa Jarbas Oliver.

“A pandemia acabou acelerando o futuro. Acho que caminhamos inevitavelmente, para agregar à presencialidade, a possibilidade de fazer o virtual A arte é como o rio que sempre corre para o mar. O que poderia impedir com que a gente fizesse teatro fez com que a gente fizesse surgir dessa dificuldade novas possibilidades. É lógico que é uma adaptação complicada que estamos vivendo agora e que a gente sente falta da presencialidade, mas existem ganhos e muitos aspectos que a gente ainda vai perceber ainda se é ganho ou não. Existe um mundo a ser investigado por nós de teatro. O teatro é uma figura que resiste, mas que também se abre para as novidades e vai adiante’, acredita Onisajé, diretora indicada por Pele Negra, Máscaras Brancas. 

Veja os indicados e vencedores (destacados em negrito)

ESPETÁCULO ADULTO

·         Holocausto Brasileiro

·         Última Chamada

·         Pele Negra, Máscaras Brancas

·         Sonho de uma Noite de Verão na Bahia

·         Vermelho Melodrama

ESPETÁCULO INFANTOJUVENIL

·         Sarauzinho da Calú

·         O Jabuti e a Sabedoria do Mundo

·         Tati Búfala

·         Eu vou te dar Alegria

TEXTO

·         Gildon Oliveira e Jorge Alencar, por Vermelho Melodrama

·         Aldri Anunciação, por Embarque Imediato

·         Diego Araúja, por Holocausto Brasileiro

·         Gildon Oliveira, por Das Coisa Dessa Vida

·         Luis Antônio Sena Júnior, por Última Chamada

DIREÇÃO

·         Onisajé (Fernanda Júlia), por Pele Negra, Máscaras Brancas

·         Thiago Romero, por Última Chamada

·         Jorge Alencar, por Vermelho Melodrama

·         João Miguel, por Das Coisa dessa Vida

·         Diego Araúja, por Holocausto Brasileiro

ATOR

·         Ricardo Fagundes, por Das Coisa Dessa Vida

·         Eduardo Gomes, por Vermelho Melodrama

·         Jarbas Oliver, por Sonho De Uma Noite De Verão Na Bahia

·         Israel Barreto, por O avô e o rio / Revolução

·         Everton Machado, por Balada De Um Palhaço

ATRIZ

·         Márcia Lima, por Holocausto Brasileiro

·         Edvana Carvalho, por Aos 50 Quem Me Aguenta?

·         Ana Mametto, por Sonho De Uma Noite De Verão Na Bahia

·         Véu Pessoa, por Vermelho Melodrama

·         Fernanda Beltrão, por Dois Pesos, Duas Medidas

REVELAÇÃO

·         Elisleide Bonfim, pela atuação em Holocausto Brasileiro

·         Caio Rodrigo, pelo texto de As Cidades

·         Matheuzza, pela atuação em Pele Negra, Máscaras Brancas

·         Rodrigo Lélis, pela atuação em Osso

·         Cristina Leifer, pelo texto de Ensaios Sobre O Fim

CATEGORIA ESPECIAL

·         Aianne Bilitário e Marcos Lobo, pela cenografia de Escorpião

·         Luis Santana, pelo figurino e adereços de Vermelho Melodrama

·         Yacoce Simões, pela direção musical de Sonho de Uma Noite de Verão na Bahia

·         Euro Pires, pelo figurino de Aos 50 Quem Me Aguenta?

·         Erick Saboya, pela cenografia de As Cidades
 
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro