Por trás das câmeras
Aqui não me refiro aos bastidores da televisão, mas às câmeras mais utilizadas ultimamente, que são as dos aparelhos celulares e dos computadores.
Com a pandemia do coronavírus instalada, as Instituições de Ensino Superior (IES) tiveram que pensar rapidamente em como continuar funcionando. Em sua grande maioria, os professores tiveram de se reinventar com algo que não era tão novo para eles. No caso das IES particulares, a mudança foi abrupta, porque a frase, com um choque de realidade, passou a ser: O mundo mudou!
Professores que eram somente do ensino presencial, começaram a pensar e atuar no ensino virtual. Claro, isso não é à distância. Pensávamos que o ensino virtualizado chegaria ao mundo, talvez, em cinco anos – mas, com a pressão do momento, veio para ficar.
E agora? O que fazer para que os alunos aprendam mais? Já que o mundo mudou, por que o processo de ensino-aprendizagem não mudaria? A educação, em qualquer nível de ensino, precisa de ritmo. A novidade, agora, é que a orquestra mudou completamente: está em vários lugares a um só tempo, e os instrumentos tocados são feitos dos materiais mais surpreendentes, os músicos criam novos acordes. Por isso, o que se ouve é um outro conjunto harmônico, não de três ou quatro notas, tocadas de uma só vez, mas de muito mais.
A esta novidade, a de um ritmo criativo inesperado, nova dança deve corresponder, a fim de que os passos não se percam, nem se atrapalhem. Olhos, ouvidos, mãos e pés redescobrem a atenção de que são capazes, os recursos que estavam adormecidos, ou por acomodação, ou por falta de estímulos. A consciência da necessidade desta envolve professores, pais e, principalmente, estudantes.
É natural que os velhos passos resistam ao novo ritmo que está sendo tocado. Essa resistência, ainda por parte de vários estudantes, insiste em deixar as câmeras de seus celulares desligadas. Então, o que acontece?
As notas que a orquestra toca não são ouvidas, ou caem num buraco negro. Se, por vezes, as câmeras são ligadas, tão grande é o intervalo do tempo de desligamento, que a comunicação se perde. E, aí, ritmo nenhum pode acontecer, a dança não evolui, a harmonia tão desejada – aprender e saber como, por que e para quê se está aprendendo – escapa, transforma-se no que é antieducação, desânimo, fracasso.
Os bastidores (nossas casas) são tudo o que acontece por trás das câmeras. Neles, a acomodação é, muitas vezes, a nota dominante, seja por preguiça, ou outro comportamento equivalente, seja pelo desejo, que não se realiza, de fazer outras coisas.
O novo, que se impôs com esta pandemia, se por um lado é grave e ameaçador, cheio de riscos, por outro lado abre-se para a possibilidade do que é criativo, de respostas não mais prontas, pré-fabricadas. Respostas essas que são acordes discordantes da velha audição, dos mesmos velhos e cansados passos, cujos executantes não mais se afinam com seus parceiros. Em consequência, a educação – que é essencialmente diálogo – se frustra, a empatia desaparece, a autoestima vai lá para baixo.
Guilherme Marback Neto é Reitor da Unijorge e Professor da Escola de Administração da Ufba.