Politização da vacina contra Covid-19 causa desconforto em governadores
Governadores se manifestam sobre o cancelamento anunciado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, da compra da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pelo Instituto Butantan em conjunto com um laboratório chinês. Muitos deles se dizem perplexos com a decisão e falam até em buscar a Justiça. Pressionado por Bolsonaro, o Ministério da Saúde voltou atrás e negou acordo com o governo de São Paulo. Porém a pasta reafirmou que há um protocolo de intenções. A declaração do presidente ocorreu um dia após o ministro Eduardo Pazuello anunciar a aquisição de 46 milhões de doses da Coronavac, vacina contra o coronavírus produzida pelo laboratório Sinovac em parceria com o Butantan, e sua inclusão no Programa Nacional de Imunizações. O líder da nação postou nas redes sociais que qualquer vacina, antes de ser disponibilizada à população, deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Ele acresceu que o povo brasileiro “não será cobaia de ninguém” e declarou que o Brasil não irá comprar doses do possível composto chinês, contrariando a posição do ministro Pazuello.
Após as declarações, a resposta de governadores foi imediata pedindo equilíbrio e racionalidade ao presidente. Flávio Dino, governador do Maranhão, apontou no Twitter que Bolsonaro agora quer fazer a guerra das vacinas, só pensando em palanque e em guerra. Ele sugeriu que o presidente jogue War ou videogame com o americano Donald Trump, pois enquanto estivesse entretido não atrapalharia os que querem tratar com seriedade os problemas da população. Em outra publicação, o governador também defendeu o Butantan. “Instituto Butantan não pertence ao governo chinês. É um patrimônio do povo brasileiro, fundado há mais de 100 anos, e merece respeito. É um grande fornecedor de vacinas ao Min. da Saúde. Qual a autoridade de Bolsonaro para tentar desmoralizar uma instituição e seus cientistas ?”, questionou.
Já o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, enfatizou que a análise tem que ser técnica e não política. Rui Costa, governador da Bahia, também se manifestou destacando que Eduardo Pazuello tomou uma medida sensata ao garantir acesso a vacina de qualquer país para salvar vidas. O baiano prestou solidariedade ao ministro, acrescentou que a Covid-19 já matou mais de 150 mil pessoas no Brasil e que o presidente da República não pode desmoralizá-lo e desautorizá-lo. O governador do Piauí, Wellington Dias, acentuou que o compromisso assumido em reunião com governadores com o Ministério da Saúde foi de se comprar a vacina produzida no Brasil da Fiocruz, desenvolvida pela Universidade de Oxford, e do Instituto Butantan, que tem parceria com o laboratório chinês. Dias lembrou ainda que a saúde do povo tem que estar em primeiro lugar.
João Azevêdo, governador da Paraíba, indicou que o gesto de Jair Bolsonaro. “É para deixar todo mundo perplexo” e lembrou que a vacina não é de direita ou de esquerda, o que interessa é que tenha eficácia. Camilo Santana, governador do Ceará, expressou seu sentimento dizendo que não se pode jamais colocar posições ideológicas acima da preservação de vidas. Agora, após as declarações do presidente, os governadores ameaçam até recorrer à Justiça para ter acesso as vacinas validadas pela comunidade científica.
*Com informações do repórter Daniel Lian