Pilotos baianos recorrem a automobilismo virtual durante pandemia
Nada de ronco dos motores, ultrapassagens e movimentação de mecânicos. O kartódromo de Lauro de Freitas está silencioso há mais de dois meses. Por conta da pandemia de coronavírus, a pista foi interditada e os campeonatos suspensos. Para driblar a saudade do automobilismo, muitos pilotos baianos estão recorrendo às corridas virtuais. É o caso do pentacampeão estadual de kart, Diego Freitas. O hobby de correr diante de uma tela passou a ser levado a sério durante o isolamento social.
“É a grande forma de matar a vontade de guiar carros de corrida, treinar um pouco de reflexo, se manter na ativa e também se divertir”, pontua Diego. “As sensações são bem parecidas em relação a uma competição real. Não é igual, já que no real você tem o risco de se machucar e no virtual não, mas a adrenalina, a ansiedade e a concentração são muito próximas”, afirma o empresário, 38 anos.
Ele tem participado de competições virtuais com frequência e treina de duas a três horas por dia. “Pra chegar no dia e dar tudo certo, estar afiado. O automobilismo virtual faz um paralelo bem próximo do real. Você tem dias de treinos e vai aperfeiçoando seu carro para que no dia da corrida esteja bem afinado e o melhor possível naquela pista, inclusive no momento da largada. Um erro na primeira curva pode estragar o resto da corrida ou te tirar dela”, explica Diego. “Tem dia que você se empolga e fica cinco ou seis horas no simulador, uma tarde inteira, uma noite inteira. Depende de como estiver o dia de trabalho”.
Pentacampeão baiano de kart, Diego Freitas participa de competições virtuais durante a pandemia (Foto: Acervo pessoal) |
Ninguém quer fazer feio, até porque o público está de olho em tudo. A maioria das corridas é transmitida ao vivo pela internet, com narração, comentário, além de replays de ultrapassagens e batidas. “Nesses tempos de pandemia, o automobilismo virtual vem sendo o refúgio da maior parte do público aficionado por automobilismo. Esse momento que a gente vive pode ser o pivô de uma transformação na forma como as pessoas em geral encaram isso que, pra gente, é um esporte. As pessoas passaram a buscar outras alternativas e abriram a mente para a possibilidade de assistir aos campeonatos”, pontua o piloto Daniel Machado.
Nos últimos anos, ele vem gradativamente acelerando menos na pista real, onde não conquistou títulos no kart, e cada vez mais na virtual, onde é tricampeão brasileiro. O baiano ficou com a taça da Fórmula 1 Brasil Clube, uma das maiores ligas de automobilismo virtual do país, em 2016 (duas vezes) e no primeiro trimestre de 2020.
Para melhorar a performance, Daniel utiliza um óculos de realidade virtual. “Ele serve para que eu possa me sentir o mais dentro possível do contexto da corrida, tendo uma experiência mais realista. Eu fico dentro do carro e consigo enxergar como se estivesse ali de verdade. É como se eu estivesse inserido no banco. É um recurso a mais para aumentar a sensação de pilotar de verdade, ter uma noção melhor de velocidade e conseguir perceber a tangência das curvas”, conta o prestador de serviços juridícos, 28 anos.
Daniel Machado é o principal piloto baiano de automobilismo virtual atualmente (Foto: Acervo pessoal) |
Os avanços tecnológicos tornam a experiência cada vez mais interessante. “A gente chega a um estágio de concentração dentro do automobilismo virtual que é muito parecido com o tipo de concentração que uma pista real impõe ao piloto. As pistas dos simuladores mais modernos são escaneadas a laser e praticamente transportadas com todos os detalhes do mundo real para o virtual, inclusive com elevações de pistas. Por isso, a gente tem que ter basicamente a mesma concentração e utilizar a mesma técnica do automobilismo real”, frisa Daniel.
Para participar de torneios de automobilismo virtual é necessário ter um computador com hardware capaz de sustentar a demanda do simulador escolhido, além de kit de volante e pedais. O investimento mínimo inicial em um equipamento que capacite o aspirante a piloto a competir sem ficar em muita desvantagem gira em torno de R$ 5 mil, mas há tecnologias de preços variados.
Principal piloto de automobilismo virtual da Bahia, Daniel Machado explica qual é a principal diferença do esporte praticado em uma pista de verdade.“No real, o piloto recebe informação de uma força física. Quando o piloto freia, o corpo dele é empurrado para frente numa dada aceleração. A mesma coisa quando acelera, só que o corpo é empurrado pra trás. Quando faz uma curva para a direita, o corpo é imprensado para a esquerda”, exemplifica. “E você tem uma adrenalina maior no real, porque ali de qualquer jeito você tem o risco de se machucar e isso às vezes freia o piloto. No virtual você não tem isso. Se você bater a 300 km/h você não vai ter nada. Você sai do carro e começa outra corrida”, completa Diego Freitas.