Pesquisa da UFV sobre efeitos do consumo da farinha de chia vence Prêmio Capes de Tese 2020


Trabalho avaliou o efeito do consumo de farinha de chia na biodisponibilidade de cálcio, ferro e zinco. Sementes de chia foram introduzidas na dietas de ratos e frangos
UFV/Divulgação
Uma tese de duas pesquisadoras da Universidade Federal de Viçosa (UFV) sobre os efeitos do consumo da farinha de chia foi uma das vencedoras do 15º Prêmio Capes de Tese de 2020, divulgado no início de outubro.
O trabalho foi realizado por Bárbara Pereira da Silva, no Programa de Ciências da Nutrição, com orientação da professora Hércia Stampini Duarte Martino.
A pesquisa se diferenciou por considerar a chia como fonte de cálcio, zinco e ferro, e a potencialidade desse alimento em condições fisiológicas alteradas, especificamente, na menopausa. Além disso, observou o efeito da sua fração solúvel, como a fibra alimentar na saúde intestinal.
Pesquisa
As pesquisadoras da UFV, Hércia e Bárbara, vencedoras do Prêmio Capes
UFV/Reprodução
De acordo com as pesquisadoras da UFV, a semente de chia é considerada um pseudocereal que tem sido consumido cada vez mais pela população mundial devido aos seus efeitos protetores, funcionais e antioxidantes, atribuídos à presença de lipídios, fibra alimentar, compostos antioxidantes, vitaminas e minerais.
Dentre os minerais, destacam-se o cálcio, o ferro e o zinco. Mas, mesmo com essa importante concentração de minerais, a biodisponibilidade desses nutrientes, ou seja, a absorção e posterior ação deles em nosso organismo, ainda não é conhecida.
Assim, o objetivo da tese premiada foi avaliar o efeito do consumo de farinha de chia na biodisponibilidade de cálcio, ferro e zinco; no perfil de lipídio (que auxilia na identificação de irregularidades nas taxas de colesterol e triglicerídeos, por exemplo); na inflamação; no estresse oxidativo, ocasionador de danos celulares; e na saúde intestinal.
A análise utilizou a farinha de chia cultivada no Brasil, no Rio Grande do Sul, em três ensaios biológicos, dois deles com ratos, em crescimento e em condições de menopausa, e um com frangos, todos de acordo com o Comitê de Ética para pesquisas com animais.
Segundo a instituição, de forma geral, os resultados demonstraram que o consumo de chia melhorou a saúde intestinal, as taxas de colesterol e triglicerídeos, o processo inflamatório e o estresse oxidativo nos animais analisados.
O alimento contribuiu ainda para a absorção de ferro e zinco, mas apresentou baixa absorção de cálcio, quando utilizada como uma única fonte de cálcio na alimentação dos animais em crescimento.
Segundo a professora Hércia Stampini Duarte Martino, a pesquisa traz importantes contribuições para a área de Nutrição, como bioquímica da nutrição, dietética, compostos bioativos na saúde humana, biodisponibilidade de minerais e microbiota intestinal.
Ela afirmou que conhecer novas propriedades biológicas das substâncias bioativas presentes nos alimentos, como a chia, torna-se importante para dar subsídios às prescrições alimentares para que a população possa ser orientada nas escolhas alimentares saudáveis dos alimentos a serem consumidos.
“Este prêmio vem nos encorajar a seguir pesquisando para que possamos cada vez descobrir novas propriedades nutricionais dos alimentos e contribuir com a ciência da Nutrição. A chia continua sendo foco de pesquisa em nosso grupo na busca de novos conhecimentos”, afirmou a professora.
A pesquisa premiada tem ainda abrangência internacional, já que durante a realização da tese, Bárbara participou de doutorado sanduíche no Centro de Agricultura e Saúde Robert W. Holley, da Cornell University, Ithaca, Estados Unidos.
Bárara afirmou que representar Universidade e ser reconhecida pelo Prêmio Capes é “altamente gratificante, um momento ímpar e motivo de muito orgulho”. A pesquisadora lembrou que esse prêmio mostra a dedicação, o esforço e o comprometimento de todos os envolvidos no trabalho.
Prêmio Capes
O prêmio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) conta com apoio da Fundação Carlos Chagas, a Comissão Fulbright e o Instituto Serrapilheira.
Uma tese é premiada em cada uma das 49 áreas de avaliação reconhecidas pela Capes. Dos trabalhos agraciados sairão os vencedores do Grande Prêmio, oferecido ao destaque de cada uma das três grandes áreas do conhecimento: Ciências da Vida, Humanidades e Exatas. A cerimônia acontecerá em dezembro.
Os autores das teses selecionadas de cada uma das áreas de avaliação receberão uma bolsa de estágio pós-doutoral em instituição nacional e seus orientadores, um prêmio para participação em evento acadêmico-científico nacional, no valor de R$ 3 mil.
Dos trabalhos escolhidos para o Grande Prêmio, os orientadores receberão R$ 9 mil para participação em congresso internacional e os autores ganharão uma bolsa para estágio pós-doutoral de 12 meses em uma instituição internacional.
Além da pesquisa sobre os efeitos da farinha de chia, outras duas teses da Universidade Federal de Viçosa foram vencedoras: uma de Bioquímica Aplicada, sobre modelagem molecular e cinética enzimática e uma de Economia Aplicada, sobre ensaios da migração rural-urbana e mudanças climáticas no nordeste brasileiro.