‘Perdi minha mãe por falta de atendimento’, diz filho de morta com suspeita da covid em Feira

“Perdi minha mãe por falta de atendimento, pela omissão dos órgãos públicos”. A fala do jovem Rithelle Vicente Silva Bezerra, 27 anos, é o resumo da indignação de uma família que chora a morte da comerciária Rosilda Vicente da Silva, 45, em Feira de Santana (108 quilômetros de Salvador), na última sexta-feira (12). Ela foi tinha suspeita da covid-19, fez o teste, mas a família ainda não recebeu o resultado. No mesmo dia, o município confirmava, através de boletim, 110 novos casos da doença na cidade e seis mortes.
Há uma semana, quando Rose, como era conhecida, deu entrada numa policlínica municipal da Rua Nova, com sintomas de febre, ninguém cogitou que ela podia ser mais uma vítima da covid-19. “Eles nos mandaram de volta para casa, com uma receita de antigripal. Ninguém falou ou desconfiou da covid”, conta o Rithelle.
Três dias depois, o quadro se agravou e a família levou Rose para uma policlínica no bairro Feira X, onde suspeitaram da covid-19 e fizeram o teste para detectar a doença. A colocaram no oxigênio pela primeira vez e sugeriram isolamento para paciente. No entanto, ela recebeu alta e foi novamente encaminhada para casa, dessa vez com a promessa que a Secretaria de Saúde local procuraria a família para realizar as medidas de contenção necessárias.
No dia 11, a família decidiu que não esperaria mais e encaminharam Rosilda para um hospital particular, onde foram aconselhados a levarem a paciente para uma emergência. A família então encaminhou Rose para o Hospital Clériston Andrade e, novamente ela foi colocada no oxigênio e pediram para aguardar que a regulação encaminhasse Rose para a Unidade de Terapia Intensiva. Sem o suporte de vida necessário, a comerciária não resistiu e morreu.
“Não pude sequer me despedir de minha mãe. Minha irmã de 14 anos era muito apegada a ela e sequer nos possibilitaram um acompanhamento psicológico, que ajudasse nesse momento”, disse Rithelle, que segue em isolamento, longe da irmã, longe de toda a família e com sintomas de febre.
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Embora fosse uma pessoa sem histórico de problemas de saúde, o quadro da comerciária se complicou rapidamente durante a semana (foto: arquivo pessoal) |
De acordo com o sobrinho Murilo Silva, Rose não tinha nenhuma doença pré-existente, era saudável e praticava atividade física rotineiramente. “Minha tia era uma pessoa cheia de vida, jovem, alegre, amada por todos”, completou. Segundo ele, a família está em choque, mas buscará os meios legais que possibilitem que outras famílias a não passem por isso.
De acordo com boletim divulgado pela prefeitura de Feira de Santana, de 6 de março a 12 de junho o município contabiliza 1.416 casos da covid-19 e um total de 28 mortes. Do total de casos, 489 pacientes já estão recuperados.
Os bairros SIM e Tomba continuam sendo as localidades que mais registram casos da covid-19 em Feira de Santana. A Prefeitura, através da Divisão de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde, divulgou a relação atualizada de casos da Covid-19 por bairros e localidades nesta sexta-feira, 12. O SIM continua sendo o que registra maior número de casos: 81. Em seguida aparece o Tomba com 54 casos confirmados e na sequência o bairro Papagaio, com 41 registros.