Participação de fundos de renda fixa nos investimentos cai ao menor patamar desde 2011, aponta Anbima

Para José Ramos Rocha Rocha, presidente do fórum de distribuição da entidade, esse movimento reflete em parte a queda da Selic. Os fundos de renda fixa alcançaram a menor participação da série histórica de investimentos da Anbima, desde 2011, destacou José Ramos Rocha, presidente do fórum de distribuição da entidade, que representa o mercado de capitais e de investimentos.
No varejo tradicional, a fatia caiu de 13,5% para 11,1% em 12 meses. Na alta renda passou a representar 27,1%, ante 36,1% de um ano atrás. No private banking saiu de 10,1% para 7,2%.
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Para Rocha, esse movimento reflete em parte a queda da Selic. O Comitê de Política Monetária (Copom) levou a taxa a 2,25% ao ano no fim do primeiro semestre e a inéditos 2% ao ano na reunião quarta-feira (5).
“Na timeline dos últimos dois anos, os juros vêm caindo e ficou muito pesada a taxa de administração no retorno dos fundos de renda fixa”, disse Rocha em conferência com a imprensa. “Essa nova queda de 0,25 [ponto percentual] ontem é mais um fator empurrando… as coisas não acontecem por um único motivo.”
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Ele lembrou, contudo, que o setor vem se ajustado e promovendo a redução dos custos nas carteiras de renda fixa mais tradicionais.
Para Rocha, a recuperação da captação que se viu em julho nos fundos de renda fixa – interrompendo uma sequência de meses no vermelho e atraíram R$ 35,4 bilhões – tem relação com essa calibragem da taxa de administração e também com a lacuna entre juros longos e curtos.
“A curva de juros pode ter queda ainda, existe uma certa boca de jacaré entre a taxa de um ano e a de dez. Se o investidor acreditar que pode fechar, os fundos carregados em papéis longos num nível de taxa mais alta podem capturar ganhos”, disse. “O BC tem feito muito esforço para diminuir essa boca de jacaré.”
Com os estímulos do Auxílio Emergencial, que levou a abertura de contas de poupança e inflou os números gerais em quase 45 milhões em um ano, para 102 milhões no total, a caderneta ganhou participação relativa no bolo de investimentos.
Em um ano, no varejo tradicional passou de 67,1% para 68,8%. Na alta renda, em meio a busca por um porto seguro, a fatia cresceu de 12,1% para 13,8% entre junho de 2019 e de 2020. Nessa mesma toada, o CDB aumentou de 9,8% para 11% entre os indivíduos com maior poder aquisitivo.
No varejo tradicional, o CDB teve um incremento de 17,1% no primeiro semestre em relação a igual intervalo no ano passado. Na alta renda, de 48,4%, e no private de 52,5%.
Rocha comentou que esse incremento também está ligado aos esforços dos bancos para reforçar o funding e a liquidez no sistema na modalidade que escoa para o crédito em geral. “Foi um papel importante mais no começo da pandemia”, disse.
Ele citou que o crédito cresceu 1% de maio para junho, conforme as últimas estatísticas do BC, e que mês a mês a carteira vem evoluindo. “Faz sentido que as instituições venham a captar e com ofertas em melhores condições para facilitar e dar melhores condições no custo de crédito na ponta também.”
Crédito no private banking
Segundo a Anbima, a posição de crédito no segmento de private banking chegou a R$ 47,8 bilhões ao fim de junho, com alta de 18,8% no primeiro semestre e de 33,5% na comparação anual. A fatia que mais cresceu foi a do capital de giro (56,6%) de janeiro a junho, a R$ 7,1 bilhões, mais do que dobrando o volume observado ao fim do primeiro semestre de 2019.
De acordo com Rocha, a demanda foi associada ao que ocorreu nas grandes corporações como reflexo da Covid-19. Nas duas semanas que vieram na sequência da decretação da pandemia, em meados de março, as grandes empresas fortaleceram seus caixas, tomaram seus limites e até recorreram aos recursos de holdings familiares para enfrentar o que viria pela frente.
A isenção do IOF no crédito no início de abril tornou as operações ainda mais vantajosas, disse o executivo, em especial no segmento do agronegócio, que vem dando certo suporte para atividade econômica. “O cliente do private vê o setor aquecido e toma crédito rural, CPR, reinveste no negócio e gera riqueza que depois volta para investimentos.”
A procura, prosseguiu o executivo, tem se concentrado em operações de curto prazo, e daí o peso do IOF, de 1,5%, quando excluído, é ainda mais representativo. Considerando-se o custo do dinheiro mais um spread de crédito, o cliente do private banking consegue se financiar com taxas na casa dos 5% ao ano, ante algo perto de 6,5% com o tributo. É um nível comparável também ao do segmento corporativo.
“É uma redução bastante expressiva no custo do dinheiro. Para cliente que tem visão de negócio – e na prática o dinheiro de terceiros é mais barato que o próprio – ele aproveita a oportunidade (…) os ativos caem de valor e os empresários aumentam a participação em empresas, compram imóveis”.