‘Parecia cena de filme’, diz testemunha de ataque com bombas em banco no Cabula
“Nunca vi aquilo na minha vida. Parecia filme de ação. Muitos homens, todos com muitas armas por toda a rua. Bloquearam a passagem, deram tiros pra cima, renderam pessoas e saíram com sacos de dinheiro. Tudo muito organizado”, relembra a moradora de um condomínio nos arredores da Avenida Silveira Martins, no Cabula, que, às 3h desta quinta-feira (8), foi tomada por assaltantes que explodiram a agência do banco Santander.
As ações descritas ocorreram em apenas 10 minutos segundo a senhora que, assim como todos os outros que testemunharam a cena, preferiu não se identificar na hora de falar sobre o caso. Entre os transeuntes feitos reféns – um vídeo mostra os bandidos parando um veículo e é possível ver, também, pessoas com as mãos para cima -, ninguém ficou ferido, segundo a polícia.
A ação foi rápida, mas teve tempo suficiente para fazer um grande estrago na agência. Entrada destruída, estilhaços de vidro por toda parte, teto completamente comprometido e um caixa eletrônico em situação irrecuperável. Foi assim que a agência, que passou por perícia da Polícia Civil (PC), amanheceu.
Sem condições para funcionamento, as atividades no local foram suspensas e os funcionários voltaram para casa. O estado crítico da estrutura tem justificativa na intensidade das explosões que chamaram a atenção dos moradores da região, principalmente, por conta do barulho.
Estrutura da agência foi destruída (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) |
Um rapaz, que veio conferir a situação, afirmou que a explosão ecoou com força no prédio em que reside e que o estrondo foi tão forte que parecia dentro do condomínio.
“A gente ouviu um estrondo muito grande durante a madrugada. Moro em um prédio bem aqui atrás. Todo mundo levantou assustado pensando que era no interior do prédio porque realmente o barulho foi muito forte. Só pela manhã, que ficamos sabendo que o estrondo veio da agência”, relata.
Outro vizinho que também levantou no susto com o barulho disse a reportagem que o barulho foi aterrorizante e que não teve quem ficasse dormindo após a situação que deixou todos muito preocupados.
“Foi um barulho absurdo de grande. Todos lá em casa levantaram muito assustados. Primeiro veio um grande estrondo, depois muitos tiros que foram seguidos de outro estrondos. Ninguém teve coragem de colocar a cara na janela pra ver o que era. Ficamos ouvindo tudo e nos protegendo. Apesar de não ter demorado muito, o susto foi grande”, diz.
Academia parada
O assalto ao banco não interrompeu apenas o funcionamento do Santander. Além da instituição financeira, a academia Self It, que fica do lado do local do crime, também teve suas atividades interrompidas por conta da situação.
A reportagem do CORREIO procurou a direção do local para entender o porquê da paralisação das atividades na academia também, mas os funcionários não explicaram o motivo do não funcionamento e disseram que a Self It não iria se manifestar porque o ocorrido não tinha relação com a academia.
Academia interrompeu funcionamento nesta quinta (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) |
Os alunos que foram até lá, deram viagem de balde. Precisaram voltar para casa sem realizar nenhuma atividade no interior da Self It. Uma moça, que recebeu a notícia do não funcionamento do local na porta, afirmou que não sabia do roubo e foi pega desprevenida.
“Não fiquei sabendo de nada sobre o assunto. Acabei não ouvindo explosão nenhuma e não sabia que a academia não ia funcionar. Dei viagem perdida”, lamenta.
Outro aluno contou que até ouviu o barulho na madrugada, mas não sabia que o ocorrido teria sido ali. “É, fiquei sabendo agora que foi aqui. Não fazia a menor ideia que o barulho tinha vindo do lado da academia. A gente ficou assustado com barulho lá em casa, mas voltamos a dormir e não assistimos nada sobre agora pela manhã”, explica.
Bancários e população no prejuízo
Em 2020, sete agências foram atacadas na Bahia, sendo quatro delas em Salvador. O número é bem inferior ao que foi registrado no mesmo período de 2019, quando, até setembro, 21 bancos foram atacados, sendo cinco deles na capital baiana.
Mesmo assim, o número de ações tem impacto significativo na presença de agências em locais reincidentes. É o que garante o Adelmo Andrade, diretor de comunicação do Sindicato dos Bancários da Bahia.
“Situações como essas trazem um pânico para os bancários e criam um problema pra sociedade porque é mais unidade que precisa ser fechada pra fazer reforma e, depois, voltar pra normalidade. Em alguns, casos, quando as agências são localizadas em lugares que esse tipo de crime se repete, os banqueiros decidem fechar o negócio ali, o que faz com que pessoas sejam prejudicadas”, diz.
No Cabula, essa não é a primeira vez que esse tipo de crime ocorre. Segundo a mulher que testemunhou da varanda o acontecimento, já atacaram agências do Bradesco e da Caixa na região.
“Não é de se estranhar esses casos por aqui. Já aconteceu outras vezes, mas não com essa organização toda. Eu lembro de terem explodido as agências do Bradesco e da Caixa também. Acho que é porque a BR tem fácil acesso por aqui e eles podem fugir com mais facilidade”, opina.
Apesar da ocorrência assustar, o assalto não revela uma atividade comum em Salvador. Para Adelmo, a situação é pontual em território soteropolitano, o interior que é a região de foco desse tipo de quadrilha. “Esse tipo de ação é mais comum de acontecer no interior do estado. Em Salvador, temos poucas ocorrências disso. Acontecem, mas são coisas pontuais. Pelos dados que temos, as quadrilhas especializadas nesse tipo de roubo costumam agir fora da capital”, declara.
Investigações
Por meio de nota, a ascom da Polícia Civil afirmou que as investigações sobre o caso já estão em andamento e que ainda não há informações sobre os valores roubados.
“O Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) já iniciou as investigações sobre a explosão de terminais de autoatendimento, em uma agência bancária, no bairro do Cabula, na madrugada desta quinta-feira (8). Imagens de câmeras de vigilância estão sendo analisadas e diligências são realizadas para colher mais elementos que possam identificar e prender os criminosos. Ninguém ficou ferido e ainda não há informações se houve subtração de valores”, escreve.
Polícia Civil realizou perícia no local (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) |
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro