Para além da covid: a importância de manter as vacinas em dia
“Toda vacina é importante”. A afirmação do infectologista e professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Robson Reis, 39, não é uma novidade e nem causa surpresa em quem está lendo. Em tempos de coronavírus, tudo o que mais queremos é poder ouvir que uma vacina está testada e pronta para ser aplicada em larga escala para a população. Mas e as outras vacinas? Será que nos preocupamos da mesma maneira?
A ideia não é tirar o foco para a cura da covid-19, mas alertar que, assim como o vírus causador da pandemia que vivemos, é importante se prevenir de todas as doenças infecciosas com vacinas desenvolvidas, afinal, só superamos outras epidemias virais ou bacterianas justamente por conta do medicamento. E o desleixo com a prevenção não é uma característica que é inerente ao ser humano, não é mesmo? Na infância, não há mãe – ou pelos a grande maioria – que deixe o cartão de vacinação do filho ou filha atrasar, e isso segue até que seja criada uma certa independência.
Depois de adulto, outras questões são colocadas como prioridade e o cumpirmento do cartão de vacinação não é feito da forma que deveria. Em um documento publicado pelo Ministério da Saúde (MS) em 2015, que analisa o Programa Nacional de Imunização (PNI), mostra que, de 20004 a 2013, menos de 20% da população geral, de 30 a 49 anos, se imunizou corretamente contra a Hepatite B, por exemplo. Número totalmente oposto ao índice de imunização de crianças até os 14 anos, que ultrapassa 90% de cumprimento com as três doses da vacina.
O infectologista Robson Reis deu entrevista ano passado para o BA Meio Dia sobre a campanha de vacinação contra a gripe (Foto: Reprodução) |
Segundo Robson, o descaso dos adultos com as vacinas acontece justamente pelo sucesso delas. Entenda: “quem é adulto hoje não conheceu épocas de doenças infecto contagiosas quando não tinha uma vacina, como a caxumba, catapora, varíola… raramente conhecemos alguém que teve a poliomielite (paralisia infantil). Como não vivenciaram, acham que são doenças do passado e que não existem mais”, relatou o infectologista. Ele afirma que a sensação de segurança de uma vacina é tão grande que “se paga um preço para isso”, definiu.
A outra questão que interfere na presença de adultos em postos médicos é a falta de acompanhamento da sua saúde. No geral, muitos adultos também deixam de se prevenir com consultas clínicas de rotina, e acabam apelando para o consultório mediante um problema mais preocupante. Mas professor Robson destaca que o hábito de ir ao médico contribui para que as pessoas tenham a consciência de que é preciso se vacinar.
“Creio que o problema não é nem esquecer a vacina. Chamo a atenção para os profissionais de saúde, não só os médicos, que se propõe a acompanhar um paciente, se atentem para dar essa chamada no paciente, pedir que ele tenha o cartão de vacinas em dia”, completou Robson.
E é mais ou menos isso que acontece com a administradora Ana Paula Faria, de 50 anos. Com os dois filhos ou com a mãe, a cobrança é constante e os adesivos das vacinas estão lá marcando a presença na carteira. Já com ela, os cuidados surgem quando é um pouco mais cômodo, como a aplicação da vacina de gripe, que ela só tomou porque a dose foi aplicada na empresa onde ele trabalha. “Acho que é esquecimento ou uma falta de conhecimento mesmo. A gente acha que é adulto e que não temos essa necessidade toda, achamos que somos super e que não ficamos doentes”, relatou.
O secretário de saúde de Salvador, Leo Prates, reafirmou a importância de se manter em dia com a imunização, não só neste momento de pandemia, para evitar uma pressão no sistema de saúde para vacinar a população toda de uma vez em caso de surto. “Precisamos estar vacinados para evitar adoecer e criar ainda mais complicações. Neste momento é ainda mais importante porque o sistema de saúde está no limite, tanto o público quanto o privado”, afirmou. Para viabilizar esse processo de vacinação que a prefeitura criou, por exemplo, o modelo drive thru em diversos pontos da cidade.
“É um vírus de potencial de contágio grande, é importante as pessoas estarem vacinadas, até porque pode levar a óbito”, Leo Prates, sobre a necessidade de se prevenir da influenza .
Leo está na linha de frente no combte ao coronavírus com o trabalho na secretaria de saúde (Foro: Divulgação) |
Cuidados
Bom, se você que está lendo se encaixa nesse grupo que dá a escapadinha da agulha, não precisa se assustar e resolver tomar todas vacinas que não lembra de ter se imunizado de um só vez. Robson alerta que, para a maioria das vacinas, não há grandes riscos à saúde tomar uma nova dose caso tenha esquecido, desde que já tenha um tempo considerável. Por isso, o infectologista reforça que a melhor alternativa é sempre procurar um profissional da área de saúde e se informar, até porque existem exames que o paciente pode fazer para detectar se tem anticorpos de uma determinada doença, o que indica que ela teria sido imunizada.
No site do Ministério da Saúde, qualquer um pode consultar o calendário de vacinação, que é dividido por faixa etária. A maioria das vacinas na fase adulta são aquelas que complementam doses que não tenham sido tomadas em outros períodos da vida, como a tríplice viral – que previne sarampo, caxumba e rubéola. Reis exemplifica que, quem não lembra se tomou ou não as doses, até os 29 anos se imuniza com duas doses, e quem tem de 30 a 49 anos com mais uma aplicação.
“Quando você não se vacina, coloca em risco não só sua vida, mas também da comunidade. Se vacina não é um benefício único, é para todos”, reforçou o infectologista
Há também a situação de vacas como uma reforço. Na infância é recomendada a aplicação da DTP, que previne a difteria, tétano e coqueluche. Depois dessa aplicação, a cada dez anos a pessoa recebe mais uma dose para se imunizar contra o tétano. Além da Hepatite B, como o documento do MS mostrou, que é possível se vacinar na fase adulta.
E sobre a ‘milagrosa vacina’ contra o coronavírus, a expectativa segue alta para que, até o fim do ano, os laboratórios conseguem ter um medicamento eficaz para a prevenção do vírus. Mas o importante é lembrar que, mesmo quando o medicamento chegar, esse ‘novo normal’ ainda vai imperar, e não basta se imunizar e esquecer totalmente dos outros cuidados. “A vacina é o método mais eficaz, mas não podemos deixar o resto de lado. Queremos nos proteger do corona, mas não podemos nos descuidar, até porque outras doenças não deixam de existir”, alertou o médico, que acredita que nesse novo cenários os hábitos de higienização vão ser mais comuns.
Para Ana Paula, a espera pela vacina contra a covid a fez repensar essa realidade sem a prevenção correta. Como ela mesma brincou, “quando tudo isso passar vou colocar minhas vacinas em dia e tomar juízo”.
Confira as vacinas previstas pelo Calendário de Vacinação do Ministério da Saúde
“É muito importante que os adultos mantenham suas vacinas em dia. Além de se proteger, a vacina também evita a transmissão para outras pessoas que não podem ser vacinadas. Imunizados, familiares podem oferecer proteção indireta a bebês que ainda não estão na idade indicada para receber algumas vacinas, além de outras pessoas que não estão protegidas. Veja lista de vacinas disponibilizadas a adultos de 20 a 59 anos’, alerta o texto do próprio Ministério da Saúde.
- Hepatite B – 3 doses (a depender da situação vacinal anterior)
- Febre Amarela – dose única (a depender da situação vacinal anterior)
- Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – Verificar a situação vacinal anterior, se nunca vacinado: receber 2 doses (20 a 29 anos) e 1 dose (30 a 49 anos);
- Dupla adulto (dT) (previne difteria e tétano) – Reforço a cada 10 anos
- Pneumocócica 23 Valente (previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose (Está indicada para população indígena e grupos-alvo específicos)