Pandemia pode colocar em risco as eleições presidenciais americanas?

Donald Trump Presidente dos EUA

NOVA YORK – Duas postagens de Donald Trump no Twitter fizeram a rede social a incluir avisos sobre informações potencialmente incorretas espalhadas pelo presidente dos Estados Unidos.

A reação de Trump foi imediata. Primeiro, no próprio Twitter, ele vociferou contra um suposto cerceamento de sua liberdade de expressão – mesmo que os tuítes não tenham sido apagados.

Depois, assinou um decreto que acaba com certas proteções legais que impedia que empresas como Twitter, Google e Facebook sejam processadas por causa do conteúdo produzido por seus usuários.

Para a oposição democrata, entretanto, mais importante que o bate-boca de Trump com o Twitter é o que dizem as mensagens publicadas pelo presidente.

https://platform.twitter.com/widgets.js

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Não TEM COMO (ZERO [possibilidade]!) a votação pelo correio ser menos que substancialmente fraudulenta. Caixas de correio serão roubadas, cédulas serão forjadas e até mesmo impressas e assinadas ilegalmente. O governador da Califórnia está enviando cédulas para milhões de pessoas que vivem no estado, a despeito de quem sejam ou como chegaram lá, vão receber a sua. Depois virão profissionais dizendo para essas pessoas, muitas das quais nem sequer tinham pensado em votar antes, como, e em quem, votar. Será uma Eleição Fraudada! De jeito nenhum!

Com as infecções pelo coronavírus ainda em crescimento em diversas áreas do país e a possibilidade real de novos surtos no outono – quando acontece a eleição presidencial, marcada para 3 de novembro -, há muitas dúvidas sobre como será realizada a votação.

Como em todo o mundo, as seções eleitorais americanas têm filas e aglomerações, duas potenciais oportunidades para a disseminação do vírus.

Com a vitória assegurada de Joe Biden na disputa do Partido Democrata, Nova York tentou cancelar as primárias no estado, previstas para 23 de junho, por causa da pandemia. A Justiça determinou que elas sejam realizadas assim mesmo – mas espera-se que os níveis de participação sejam muito baixos.

Em Wisconsin, depois de um intenso vaivém judicial que só foi resolvido pela Suprema Corte, a votação das primárias foi mantida na primeira semana de abril. Dias depois, as autoridades sanitárias do estado detectaram pelo menos 40 casos de Covid-19 entre as pessoas que saíram de casa para votar.

Vários estados americanos permitem que as cédulas sejam enviadas pelo correio. Normalmente, esse método é reservado para os eleitores que não estarão em seus domicílios eleitorais no dia da votação, mas estados como Utah, Colorado, Havaí, Washington e Oregon já adotam o voto à distância como regra.

A questão vai muito além do método escolhido para a votação e da suposta falta de segurança do voto pelo correio (que, de resto, é considerado seguro).

O que a oposição democrata teme é que a obrigação de comparecer às urnas pessoalmente resulte em altos índices de abstenção, o que favoreceria as chances de reeleição de Trump.

Impacto eleitoral da votação à distância não é claro

Um grupo de pesquisadores da Universidade Stanford publicou um estudo no início de maio avaliando o impacto das cédulas enviadas pelo correio. Analisando dados de eleições de 1998 a 2018, eles concluíram que o voto pelo correio representa um aumento modesto na participação e não oferece vantagem alguma para democratas ou republicanos.

Apesar da falta de evidências, o Partido Republicano, de Trump, há décadas tenta criar obstáculos para os eleitores. Na primeira metade do século passado, havia testes de alfabetização, com o objetivo de impedir que negros pudessem votar.

Mais recentemente, em 2010, houve investidas contra o registro de eleitores – que em alguns estados poderia ser feito até no próprio dia da eleição.

O voto não é obrigatório nos Estados Unidos, e acredita-se que muitos eleitores negros tenham deixado de votar em 2016, já que Barack Obama não era candidato. Como a eleição presidencial é indireta no país, vencer em determinados estados “fieis da balança” é essencial. Foi justamente em três deles – Pensilvânia, Wisconsin e Michigan – que Trump obteve vitórias surpreendentes, em parte explicadas pela abstenção de parte do eleitorado.

A controvérsia sobre a votação deve perdurar, mas o presidente já deixou clara sua posição. Num tuíte publicado na quinta-feira, Trump repetiu que permitir votos pelo correio vai levar a fraudes maciças e “ao fim do nosso grande Partido Republicano”.

Mas, há pouco mais de dois meses, ele próprio mandou seu voto nas primárias republicanas da Flórida. Em vez de ir pessoalmente a uma das seções na cidade de Palm Beach, ele preferiu jogar golfe em seu resort.

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