O Bahia de 1990: um time que chegou perto da terceira estrela

Artilheiro do Brasileirão de 1990, Charles é marcado por Cafu, do São Paulo e observado pelo volante Flávio

Bordar a terceira de estrela de campeão brasileiro é o sonho de 10 em cada 10 tricolores. Nas últimas temporadas o título do Brasileirão tem se mostrado bem distante da realidade, mas há 30 anos o Esquadrão bateu na trave e quase conseguiu ampliar o número de títulos nacionais.

Entre o final da década de 1980 e início dos anos 90, o Bahia teve motivos para sorrir quando o assunto eram os torneios nacionais. Se em fevereiro de 1989 o Esquadrão calou o Beira-Rio ao segurar o 0x0 com o Internacional – depois de vencer o primeiro jogo da decisão por 2×1, na Fonte Nova – e conquistar o segundo título brasileiro (válido pela temporada de 1988), dois anos depois o tricolor chegou forte e quase repetiu o feito.

Mas nem tudo eram flores. O Bahia vivia clima de desconfiança, já que um ano antes havia lutado contra o rebaixamento no Brasileiro de 1989. Além disso, o time treinado por Luiz Carlos Carbone perdeu o título baiano para o Vitória após vencer os dois primeiros turnos e iniciar com vantagem o quadrangular final.

Em 1990 o elenco passava por reformulação. Muitos dos campeões brasileiros de 1988 haviam sido negociados e deixado o clube. A espinha do time contava com remanescentes importantes como os volantes Paulo Rodrigues e Gil e os atacantes Marquinhos e Charles, que seria um dos grandes nomes do futebol brasileiro naquela temporada.

Além deles, o Esquadrão conseguiu reunir boas peças, como o goleiro Chico, o lateral direito Mailson (formado na base), o zagueiro Jorginho e abriu os cofres para ter o atacante Naldinho e o meia Luís Henrique, contratados da Catuense. Luís Henrique foi o último atleta a ser convocado para a Seleção Brasileira defendendo o Bahia.

Na direção técnica, Carbone deu lugar para Candinho. O resultado começou a aparecer no Campeonato Brasileiro.

Fórmula diferente
A fórmula do Brasileirão era simples. Os 20 clubes participantes da Série A eram divididos em dois grupos com dez cada. As equipes de uma chave enfrentavam as da outra em turno único, e o campeão de cada grupo se garantia nas quartas de final, que marcaria o início do mata-mata.

Antes, havia uma segunda fase, em que os confrontos aconteciam dentro do próprio grupo, selecionando mais duas equipes para as quartas de final – novamente o campeão de cada grupo. Os outros quatro classificados para o mata-mata eram definidos pela classificação geral, que levava em consideração a soma de pontos das duas fases.

No primeiro momento, o Bahia ficou no grupo A, que teve o Atlético-MG como campeão. O Esquadrão somou 11 pontos em dez jogos e terminou na quinta colocação. A campanha teve quatro vitórias, três empates e três derrotas (na época uma vitória valia dois pontos).

Na segunda fase, o tricolor repetiu a pontuação e terminou na segunda colocação, empatado com o líder Santos. O Peixe superou o Bahia no saldo de gols (quatro contra três). Em nove jogos, o Esquadrão somou três vitórias, cinco empates e uma derrota.

Na soma geral das campanhas, o Bahia acabou na terceira colocação, com 22 pontos. Assim, o time baiano se garantiu nas quartas de final, junto com Grêmio, Atlético-MG, São Paulo, Santos, Bragantino, Corinthians e Palmeiras. Detalhe para cinco paulistas entre os oito classificados.

O Bragantino de Luxa
Nas quartas de final, disputadas em novembro, o adversário foi o Bragantino. O time era treinado pelo emergente Vanderlei Luxemburgo e havia surpreendido o país três meses antes ao conquistar o Campeonato Paulista daquele ano. Entre seus destaques, o Bragantino tinha o volante Mauro Silva, que seria titular da Seleção no tetra em 1994, os laterais Biro-Biro e Gil Baiano – que depois defenderia Palmeiras e Vitória – e o meia Mazinho (homônimo do mais famoso).

As equipes fizeram dois jogos bem equilibrados. No primeiro, houve empate por 1×1 no estádio Marcelo Stéfani, atual Nabi Abi Chedid, em Bragança Paulista. O Bragantino saiu na frente com gol de João Santos, aos 16 minutos do primeiro tempo, e o Bahia conseguiu o empate no segundo tempo, no gol contra de Ivair, que desviou uma falta cobrada por Wagner Basílio.

No dia 1º de dezembro, quase 40 mil torcedores foram à Fonte Nova empurrar o Bahia, mas foi o Bragantino quem saiu na frente. Aos 36 minutos do primeiro tempo, Mazinho, de cabeça, colocou o Massa Bruta em vantagem.

A reação tricolor começaria no segundo tempo. Aos nove minutos, o zagueiro Jorginho – irmão de Júnior Baiano – subiu mais que a defesa do Bragantino e empatou o duelo. Aos 17, Luís Henrique construiu a jogada no meio-campo e achou Naldinho livre. O baixinho cruzou rasteiro e Charles, com o gol aberto, completou para as redes.

Apesar da virada, a classificação ainda teria uma dose de drama, já que um minuto depois do gol de Charles, Barbosa marcaria para o Bragantino, deixando tudo igual. O gol que garantiu o Bahia na semifinal do Brasileirão saiu aos 31 minutos. Em cobrança de falta forte, Wagner Basílio decretou o triunfo na Fonte Nova por 3×2.

Semifinal: o Corinthians de Neto
A um passo de uma nova final, o Esquadrão tinha pela frente o Corinthians na semifinal e iniciava o duelo com vantagem de empatar os dois jogos, já que tinha melhor campanha do que o adversário.

O Bahia conseguiu uma boa exibição no jogo de ida, no estádio do Pacaembu. Com apenas dois minutos, Wagner Basílio voltou a cobrar falta forte, superou o goleiro Ronaldo e colocou o Esquadrão em vantagem no placar.

O tricolor, no entanto, encontrou pela frente um inspirado Neto. O meia do Corinthians vivia grande fase e carregava o time paulista. O destaque do camisa 10 era a bola parada.

E foi em jogada de Neto que o Bahia sofreu o empate e a virada. O meia já havia obrigado o goleiro Chico a fazer boa defesa em chute direto. Até que, aos 12 minutos, ele cobrou escanteio, a defesa tricolor não se entendeu, e Paulo Rodrigues marcou contra.

Aos 18 minutos do segundo tempo, Neto voltou a aparecer. Em cobrança de falta frontal, o camisa 10 mandou uma bomba que Chico não segurou e virou o placar, definindo o triunfo corintiano no Pacaembu. O resultado inverteu a vantagem. O Corinthians passou a jogar por um empate enquanto o Bahia precisava de uma vitória para ir à final.

No jogo da Fonte Nova, o tricolor martelou a defesa adversária, mas o pé não estava calibrado e o Bahia abusou das chances perdidas. Sem conseguir tirar o zero do placar, amargou a eliminação e ficou com o sentimento de que o terceiro título brasileiro estava perto.

Na decisão, o Corinthians enfrentou o São Paulo, que havia eliminado o Grêmio na fase anterior. O time alvinegro venceu os dois jogos por 1×0, ambos no Morumbi, e conquistou o primeiro título brasileiro da sua história.

Time-base
A quarta colocação na Série A de 1990 é até hoje a melhor posição que o Bahia alcançou no Brasileirão depois do título de 1988. A campanha teve o devido reconhecimento e o atacante Charles, um dos destaques daquele time, terminou como artilheiro isolado do torneio, com 11 gols anotados. O meia Luís Henrique seria convocado para disputar a Copa América do ano seguinte, na Seleção treinada por Falcão.

O time-base do Bahia era Chico; Maílson, Jorginho, Wágner Basílio e Gléber; Paulo Rodrigues, Gil e Luís Henrique; Naldinho, Charles e Marquinhos. Técnico: Candinho.