Novos sinais? Pacientes com covid-19 também podem ter sintomas gástricos

Febre, dificuldade de respirar, tosse seca. Os sintomas comuns causados pelo novo coronavírus já estão na memória do país. Dores abdominais, diarreia, vômito e náusea, no entanto, também podem estar na lista e fazer parte da rotina de quem enfrenta a covid-19. 

Desdobramentos incomuns em doenças respiratórias, os sintomas gastrointestinais também têm sido relatados por pacientes que já estão em tratamento da doença. Apesar da aparente novidade, especialistas explicam que desde os primeiros casos tais relatos já faziam parte da realidade nos atendimentos. 

Agora, com o vírus mais difundido e com um pouco mais de tempo de estudo por parte dos médicos, esse segundo grupo de sintomas também chama atenção de quem quer saber mais para poder se proteger. O CORREIO conversou com infectologistas para entender exatamente tudo que a covid-19 pode causar e qual a melhor forma de cuidar de quem apresente os sintomas diferentes daqueles já conhecidos.

“É importante dizer que não se tratam de novos sintomas. Os sintomas gastrointestinais aparecem desde o ínicio. Mas esse é um vírus novo, que ninguém tinha experiência, que os médicos estão conhecendo. Era algo que não era valorizado dentro do quadro”, explica a médica infectologista e professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Jacy Andrade. 

Segundo os especialistas, os sintomas gástricos podem, inclusive, aparecem dissociados dos respiratórios e ainda serem confirmados como um caso de covid-19 após o atendimento médico “A pessoa pode ter sim um quadro de febre e diarreia e durante a investigação se confirme como caso de coronavírus. São sintomas que estão sendo valorizados no diagnóstico e ajudado na hora da investigação”, completa Jacy. 

Apesar do aparente acréscimo na lista de sintomas, as recomendações quanto à visita ao médico seguem iguais. A infectologista Melissa Falcão, que coordena os trabalhos de enfrentamento da doença na cidade de Feira de  Santana – a primeira da Bahia a confirmar casos – explica que o simples aparecimento de um sintoma gástrico não deve levar o paciente ao hospital, assim como não deve acontecer com sintomas respiratórios leves. “A orientação segue a mesa. A pessoa só deve procurar uma unidade de saúde caso os sintomas necessitem de avaliação médica. Caso contrário, deve permanecer em casa, se cuidando e tomando os cuidados de isolamento”, aconselha. Entre os casos que devem levar o paciente ao hospital estão: dificuldade respiratória grave, dor abdominal intensa, e febre alta e persistente. “Não tem porque a pessoa assumir que qualquer quadro de dor de barriga, diarreia, é a covid e ir ao hospital. Se os sintomas apresentados são leves, o melhor a fazer é se cuidar em casa”, acrescenta. 

Cuidados

Quando o assunto é o cuidado para não se infectar, os cuidados são os mesmos independente dos sintomas predominantes em cada paciente. A doença é espalhada através do contato, então é preciso estar atento aos hábitos de higiene e manter as mãos limpas.

O médico infectologista Fábio Amorim, do Hospital Couto Maia, explica a importância dos cuidados na hora do contato. “Essa é uma doença de contato, ela se transmite assim, por isso é preciso lavar as mãos. Não adianta, por exemplo, sair na rua de máscara e ficar manipulando a proteção o tempo todo, você condena a máscara”, destaca o médico.

Quando o quadro apresenta mais sintomas gastrointestinais, o cuidado com o contato deve permanecer, inclusive com atenção ao uso do banheiro. “Os sintomas gastrointestinais sempre apareceram, e foram considerados na hora da avaliação. A gente inclusive orienta o paciente que teve alta hospitalar e vai fazer a quarentena em casa, de se possível isolar também um banheiro para uso exclusivo. Já que muitas vezes existe o risco de, no caso de uma higienização não for bem feita, apropriada, acabar ocorrendo também o contato no caso das fezes”, detalha. 

Sintoma universal 

O “surgimento” de novos sintomas é comum quando se trata de uma doença nova que está sendo estudada pelos médicos a medida que os casos aparecem e vão sendo tratados. Por isso é que apenas com o tempo e com o aumento no número de casos que os sintomas gastrointestinais foram ganhando relevância dentro dos casos da covid-19. No que diz respeito aos sintomas, apenas uma unanimidade entre os especialistas: não é possivel cravar aquele sinal que vá aparecer em 100% dos casos. 

É claro que existem aqueles sintomas que são considerados mais comuns e que aparecem em grande parte dos pacientes. No caso da covid-19 se repetem, principalmente, febre, tosse e alterações de paladar. Nem estes, contudo, são sintomas universais. “A doença se manifesta de forma diferente a depender de como cada corpo reage à infecção, por isso não existe um sintoma que todo mundo vai ter, é de pessoa para pessoa”, explica a médica infectologista Clarissa Ramos, do Hospital Cardio Pulmonar; 

Professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública o infectologista Robson Reis  explica que o mais importante é a avaliação médica de cada quadro. ‘O importante é que o médico possa avaliar aquela pessoa que tem sintomas mais acentuados, considerar o coronavírus, mas considerar os exames necessários e definir a melhor forma de tratamento, seja pelo internamento ou em casa”. 

Os profissionais chamam atenção, ainda, para a predominância dos sintomas respiratórios frente aos gastrointestinais. “É muito mais comum que os sintomas gastrointestinais venham associados aos respiratórios. Por isso os primeiros estudos não apontam tanto esses outros sintomas. Com o espalhamento da doença e mais pessoas infectadas é que esses novos sintomas puderam começar a ser estudados e considerados”, detalha Clarissa. 

Com a ajuda da médica, o CORREIO elaborou uma comparação entre sintomas da covid-19 e de outras doenças com sintomas similares. Veja abaixo: 

Covid-19 X Apendicite – A dor abdominal na apendicite é súbita e intensa. Costuma começar na região do umbigo e migrar. No caso da covid-19 dor abdominal, quando ocorre, é mais próximo a uma cólica. 

Covid19 X Dengue – Na dengue a dor no corpo é mais forte e a febre mais intensa. Na covid-19 não é tão comum ter as dores no corpo e a febre aparece mais baixa e mais duradoura. 

Covid 19 X Resfriado  – O resfriado comum afeta, principalmente, as vias aéreas superiores causando espirro, coriza e congestão nasal. Esses sintomas não são tão comuns na covid-19, e aparecem em cerca de 10% dos pacientes apenas. A nova doença se parece mais com a gripe e afeta principalmente as vias áreas inferiores (pulmão), causando a dificuldade de respirar;

Convid 19 X Conjuntivite – A conjuntivite pode aparecer como um sintoma da covid-19. Contudo é um quadro raro que, segundo estudos, acontece apenas para  1% dos infectados.  

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro