“Nós conseguimos achatar a curva”, diz prefeito de Ilhéus
Após passar por uma fase crítica devido ao avanço do coronavírus, Ilhéus, no Sul da Bahia, começa a ver no horizonte uma situação mais tranquila e menos caótica do que a registrada há algumas semanas. Dos quase 700 casos confirmados, mais de 65% já estão curados e a taxa de ocupação dos leitos de UTI exclusivos para a covid-19 está em cerca de 64%. Além disso, a taxa de aumento diário, que já foi de 33%, hoje está em torno de 4%, abaixo inclusive da média da Bahia, que é de cerca de 5%. A cidade tem, ainda, 40 mortes por covid-19.
Nesta entrevista ao site Alô Alô Bahia e ao Jornal CORREIO, o prefeito da cidade, Mário Alexandre (PSD), fala sobre as medidas adotadas para enfrentar o avanço da doença e sobre o início da retomada das atividades econômicas. O prefeito destaca que, hoje, o município conseguiu achatar a curva de crescimento. Segundo ele, o município, que tem forte apelo turístico, teve uma queda de 46% na arrecadação. Mesmo assim, ele diz que os salários dos cerca de 5 mil servidores estão em dia.
Assim como o prefeito de Itabuna, Fernando Gomes (PTC), Mário Alexandre acredita que o casamento de Marcela Minelli, irmã da influenciadora Gabriela Pugliesi, realizado em março, foi um dos focos de contaminação da doença na região Sul, que foi a mais atingida pela doença na Bahia.
A Região Sul foi bastante afetada pelo coronavírus. A que se deve isso, na opinião do senhor?
Nós temos uma região extremamente de referência no país. Somos a Princesinha do Sul, a Terra de Gabriela, temos o aeroporto, o porto, a rodoviária, todas as estradas, todo acesso de pessoas do país e do mundo. É realmente uma cidade bastante procurada e por isso fica muito mais suscetível a casos do coronavírus. Nós tivemos o primeiro caso, a contaminação se deu muito rápida e a gente agora tem equilibrado depois das medidas tomadas. A cidade tem tido incidência de contaminação muito parecida com a da Bahia e a do Brasil. Já chegamos a ter uma taxa de aumento de caso diária de 33%, hoje temos entre 3,8% e 4% e isso deixa a gente com mais segurança.
O prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, citou o casamento de Marcela Minelli, irmã da influenciadora Gabriela Pugliesi, como um foco grande de contaminação. O senhor concorda com ele?
Esse foi o primeiro caso que a gente teve que lidar. É claro que, se a pessoa está contaminada, transita pelo aeroporto de Ilhéus, pega um táxi ou aplicativo em Ilhéus, desce para alguns locais, o vírus acaba circulando. E foi assim que atendemos o primeiro caso de Itacaré. O paciente se contaminou e foram casos sucessivos de contaminação, que provavelmente nos faz pensar que a festa foi um dos focos iniciais dessa contaminação na nossa cidade e na nossa região.
Na semana passada o senhor já começou a flexibilizar a abertura do comércio. Em que se baseou essa decisão?
A gente tem muita responsabilidade no nosso gabinete de crise. Já tinham 4 semanas que os casos vinham se mantendo equilibrados, uma média de 3,8%, 4% de aumento diário, alguns dias até menos do que os outros locais do país. A gente já chegou a 30% e as medidas foram muito duras e hoje a gente começa com um plano gradual. Não significa uma abertura do comércio. A gente começa, com um planejamento estudado, feito pelo nosso gabinete de crise, em que a gente aos poucos vai abrindo aquelas lojas que contaminam menos, com todas as medidas restritivas e muita responsabilidade, além de uma avaliação semanal. Ou seja, se abrirmos alguma loja na fase 1 e notarmos alguma alteração, a gente recua. Se não aumentar, a gente continua para a fase 2. Então tem todo um processo gradual para o comércio com medidas restritivas de máscaras, lavagem das mãos, entrada gradual nos comércios. E a gente fez isso não só pelo comerciante, mas também para a população. Para tratar da vida do trabalhador, mas também de quem utiliza as lojas que estarão abrindo gradativamente.
O senhor acha que a cidade de Ilhéus já atingiu o pico da doença e agora está reduzindo?
Nós tivemos aquele pico inicial que foi realmente preocupante. Ontem (quarta-feira, 10) nós tínhamos confirmados 693 casos, com 452 curados. A gente tem acompanhado o ritmo de crescimento porque, quando há o ritmo de equilíbrio, a gente tem uma tranquilidade com reserva de leitos de UTI. Eu fiz agora um Covid-19 24 Horas. Atendimentos só de pacientes com covid-19, com sintomas, de domingo a domingo para casos leves.
Tudo isso leva a crer que temos mantido um controle maior. Hoje nós conseguimos achatar a curva. Já chegamos a 33% e agora estamos em 3.8%. Nós acompanhamos de perto e qualquer efeito, restringimos as medidas do comércio e caso haja qualquer aumento, voltamos à estaca zero. O monitoramento é feito diuturnamente para evitar o avanço acelerado.
Qual é a estrutura deste centro 24 horas que o senhor falou em relação a leitos, respiradores?
Temos médicos, enfermeiros, ambulância na porta. A gente atende aqueles pacientes que estão com sintomas menores, uma gripe, uma dor de cabeça, uma febre e lá eles são avaliados. Fizemos 4 leitos de emergência de UTI. A doença avança muito rápida então às vezes a pessoa chega na emergência e já começa a ter uma crise respiratória e é muito rápido. Já salva várias vidas quando se tem um leito específico para coronavírus. As ambulâncias são completamente isoladas, o isolamento delas é específico para isso, para que a gente possa cuidar e salvar a vida desses cidadãos.
No total, tanto na rede pública como na privada, quantos leitos de UTI a cidade tem e qual é a porcentagem hoje de ocupação que está?
Graças a Deus, com muito trabalho, nós temos 45 leitos de UTI destinados para pacientes com coronavírus e ainda no começo da semana que vem, no mais tardar, vamos ter mais 10. Com isso, vamos para 55 leitos de UTI. No interior da Bahia talvez seja a cidade que mais tenha leito de UTI. Hoje nós temos 29 leitos de UTI ocupados. Dá em torno de 64% de ocupação. Em janeiro comprei respiradores por causa disso, não fiz o Carnaval também pensando nisso, e eu sou médico, nós fomos treinados para salvar vidas.
No momento que a cidade estava com um número mais crítico, a gente teve em Ilhéus um alto número de profissionais da saúde com coronavírus. Chegou até a 80% no fim de abril. O que o senhor acha que chegou a isso?
Dos casos atuais, mais de 40% foram de profissionais da saúde. Isso é uma coisa nacional. Os médicos, enfermeiros, serviços gerais estão mais expostos e estão mais em riscos por estarem próximos aos contaminados. Quando você está no dia-a-dia, no contato direto com contaminados sintomáticos, então eles são mais suscetíveis a se contaminarem do que o cidadão comum. Mas graças a Deus a situação já passou. Até porque muitos já estão imunes. Tive muitos colegas que passaram por isso e estão salvos. A gente fica feliz que aquela taxa avançada seja menor. Depois nós vimos que a maior contaminação é quando você tira o Equipamento de Proteção Individual (EPI) e aí você tem contato com os vírus. É uma das coisas que foram colocadas e até mesmo a vivência dos profissionais com a situação.
Ilhéus tem um apelo turístico muito forte. O senhor consegue dimensionar esse impacto e o que está sendo planejado para o futuro?
No nosso governo, o turismo foi bastante reforçado. Todos os feriados, finais de semana eram 90%, 80% de ocupação hoteleira. Realmente foi uma queda muito grande com o fechamento de hotéis, pousadas, restaurantes. É uma cidade que estava com um ritmo bastante acelerado no turismo. Um dos grandes vetores da economia da cidade é o turismo. Estamos tratando não só com as categorias, com as questões tributárias, estamos também trabalhando com malhas aéreas. Então, estamos com três companhias aéreas para ver qual traz mais aviões para o fortalecimento mais rápido do turismo, comércio, da indústria.
Teve algum hotel, pousada que fechou as portas de forma definitiva?
Até agora não tivemos nenhuma informação. Sabemos da dificuldade, mas até então não tivemos nenhuma informação desse fechamento. O município estará apoiando, inclusive a malha aeroviária será reaberta com muita responsabilidade para que a gente possa já ir recuperando a nossa recuperação econômica. A gente vai trabalhar o turismo no nível nacional porque é muito difícil você pensar em um retorno a nível mundial porque quanto mais perto, mais barato. Inclusive, quem vir a Ilhéus poderá conferir a nova ponte (Ilhéus-Pontal), que será entregue agora em junho. É uma ponte turística linda, com certeza uma das grandes obras do Brasil.
Em termos de arrecadação, qual foi a redução que Ilhéus teve com toda essa situação de pandemia?
Foi 46% da nossa arrecadação. É importante falar das dificuldades, mas nosso foco é salvar vidas e estamos planejando com a nossa Secretaria da Fazenda a recuperação mais rápida possível, e graças a Deus os salários e vales-alimentação dos 5 mil servidores estão em dia. A gente vai levando e cortando na própria pele com despesas da Prefeitura. Para recuperar a economia, nós temos que estar vivos. Então o nosso foco é na saúde das pessoas.
Como médico, prefeito, como o senhor está vendo o debate em torno do uso ou não da cloroquina e da hidroxicloroquina em pacientes com coronavírus?
É muito empírico. Tem os efeitos colaterais, mas teve resultado em vários pacientes que foram testados. Eu falo com muita tranquilidade que o uso da cloroquina, a depender do paciente e da gravidade do caso, é uma das alternativas médicas da ciência. Claro que depende do paciente. Ainda acho que o melhor tratamento é o isolamento, usar máscara, hidratação, higienização. Não se tem ainda a certeza de medicamentos. Se falam até na ivermectina, mas nada comprovado.