Nordeste é a região com maior aumento de compras online durante a pandemia
Se, antes, para comprar algum produto as pessoas se deslocavam mais, percorriam vitrines e “batiam perna” para comparar preços, hoje, tudo está mais acessível para quem tem internet. A comodidade e a dificuldade de ir até as lojas por conta da pandemia do novo coronavírus, já que muitas ficaram fechadas por decretos, fizeram o comércio eletrônico disparar as vendas em todo o Brasil. Segundo o estudo mais recente da Neotrust Compre&Confie em parceria com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), o faturamento do e-commerce no Brasil cresceu 75,5% neste ano, entre janeiro e agosto. O Nordeste foi a região do país que mais teve aumento no número de vendas: 108% a mais que o mesmo período de 2019.
O aumento no volume de compras no país também foi maior, com alta de 80% em relação ao ano passado, embora o gasto médio dos consumidores tenha reduzido de R$ 414 para R$ 403,60. Após o Sudeste, os nordestinos são os principais responsáveis pelo aumento da receita do setor e somam 14,4% do faturamento.
A ABComm também sinalizou, na pesquisa, que 150 mil lojas aderiram às vendas online em todo o país, principalmente as que pertencem às categorias de moda, alimentos e serviços. Já as que registraram maior crescimento no lucro foram cama, mesa e banho; alimentos e bebidas; e móveis (veja tabela completa no final da matéria).
Segundo o CEO do Neotrust Compre&Confie, André Dias, os resultados refletem a mudança de comportamento do consumidor, que deve continuar a realizar mais compras pela internet mesmo após a pandemia. “Os consumidores devem ficar cada vez mais engajados nas compras à distância e movimentar de forma significativa o consumo de categorias relacionadas às necessidades básicas do dia a dia”, avaliou Dias.
A estudante de odontologia Beatriz Lima, 23 anos, de Salvador, nunca tinha feito uma compra pela internet. Ela preferia ter o primeiro contato com o produto nas lojas e costumava ir aos shoppings toda semana. Porém, com a pandemia, esse hábito mudou. “As empresas começaram a lançar muitas promoções, frete grátis, 10% de desconto na primeira compra, então ficou mais barato comprar pela internet. Antigamente eu não comprava nada online, sempre preferia ir na loja”, contou a estudante. Os pedidos em aplicativos de entrega de comida também aumentaram, segundo ela.
Outro morador da capital baiana, Feliciano Barreto, 51 anos, também optou por mais compras nos ambientes digitais nesses últimos meses. “Comecei a comprar mais na pandemia pela internet, porque para ir na loja é mais difícil. Online você tem o acesso mais fácil, rápido, mas você fica num vício terrível, toda hora querendo comprar uma besteira”, confessou Barreto, que é administrador de condomínios. Um dos seus novos vícios, descoberto durante a quarentena, foi a compra de vinhos pelo aplicativo Evino, especializado nesse tipo de bebida. Outras compras realizadas por ele foram produtos de casa, como eletrodomésticos e calçados, além de uma bicicleta.
Mais encomendas nos Correios e transportadoras
Nessa cadeia de segmentos que viabiliza o e-commerce, as transportadoras registraram aumento no número de entregas. No caso da Jadlog, o movimento das cargas está quase mesmo que na época da Black Friday do ano passado, com 200 mil encomendas por dia. O volume de entregas cresceu 500% no Nordeste em agosto e setembro deste quando comparado ao início da pandemia, em março. Para dar conta do recado, a empresa contratou 300 pessoas, sendo 200 para as sedes de Salvador e Recife, e viabilizou mais 20 caminhões para a região.
No próximo ano, pelo menos novas 5 franquias serão instaladas em território nordestino, a fim de acompanhar a demanda. “Estamos sentindo no mercado brasileiro a tendência que foi observada na Europa, de aumento dos pedidos online. Como as pessoas estão evitando sair de casa, as compras pela internet cresceram muito, incluindo desde itens de consumo básico e de higiene até bens de consumo duráveis como computador e televisão, entre outros”, afirma o CEO da Jadlog, Bruno Tortorello. Os envios que mais cresceram com a empresa foram de lojas como Mercado Livre, Amazon, Magazine Luiza e M.Martan.
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Correios) informou que a demanda cresceu. Até meados de junho, a empresa observou aumento de 25% no fluxo postal, principalmente, em demandas de comércio eletrônico. Por ser tratar de “informações sensíveis e estratégicas ao negócio”, os Correios não deram mais detalhes. A empresa também informou que ampliou a mão de obra terceirizada, linhas de transporte e deu prioridade às encomendas de transações eletrônicas.
(Foto: Arisson Marinho/CORREIO) |
Empresas optam por entrega por aplicativo
Algumas empresas têm optado pela modalidade online, após observarem o crescimento no mercado. Foi o caso da empresa baiana Le Biscuit, que investiu R$ 25 milhões para aderir ao e-commerce, e redes de supermercados. O Big Bompreço lançou este ano, por conta da pandemia, o Big em Casa, venda delivery por aplicativo. No caso do Extra e Pão de Açúcar, as vendas on-line somente no primeiro semestre de 2020 superaram 25% do volume vendido em 2019. No segundo trimestre de 2020, as duas redes registraram um aumento de 272% nas vendas on-line de alimentos, na comparação com o mesmo período do ano passado. Mais de mil colaboradores foram contratados só para o e-commerce, que ganhou a primeira sede no Nordeste, em Recife.
O aplicativo Ifood, que trabalha com serviço de entrega de refeições, apresentou um maior cadastro de restaurantes. Na Bahia, o crescimento foi de 53% entre março e agosto de 2020 comparado ao mesmo período do ano passado. Os pratos mais pedidos pelos baianos nesses meses foram hambúrguer, carnes e açaí. No Nordeste, os mais queridos são hambúrguer, carne, refrigerante, pizza e sanduíche/wraps. A empresa também informou que mais 40 mil empreendimentos fizeram cadastro no aplicativo, um aumento de 60% em relação a 2019. Hoje, são 150 mil entregadores cadastrados na plataforma.
Categorias com maior crescimento nas vendas on-line entre janeiro e agosto de 2020, comparado ao mesmo período de 2019
Cama, Mesa e Banho: + 163,4%, faturamento de R$ 850 milhões
Alimentos e Bebidas: + 141,5%, faturamento de R$ 1,10 bilhão
Móveis: + 132,3%, faturamento de R$ 5,06 bilhões
Brinquedos: + 124,03%, faturamento de R$ 600 milhões
Utilidades Domésticas: + 111,7%, faturamento R$ 1,29 bilhão
Eletroportáteis: + 100,2%, faturamento de R$ 1,81 bilhão
Decoração: + 99,9% e faturamento R$ 410 milhões
Beleza e Perfumaria: + 99,20%, faturamento de R$ 3,39 bilhões
Bebês: + 94,1%, faturamento de R$ 76 milhões
Telefonia: + 93,9%, faturamento de R$ 14,59 bilhões.
Fonte: ABComm e Neotrust Compre&Confie
Regiões brasileiras com maior aumento no faturamento em vendas on-line (janeiro e agosto de 2020, comparado ao mesmo período de 2019
Nordeste: + 108%, corresponde a 14,4% da receita total
Norte: +78,4%, corresponde a 2,8% da receita total
Sudeste: +68,9%, corresponde a 60% da receita total
Centro-Oeste: + 64,8%, corresponde a 6,5% da receita total
Sul: + 59,3%, corresponde a 13,3% da receita total
10 CONSELHOS PARA FAZER COMPRAS SEM SAIR DE CASA
1. Comprar no dia certo: Sim, existe melhor dia para comprar online. Segundo o consultor Digital da AGR Consultores, Alex Von Metzen, evite fazer compras no fim de semana. “De certa forma, o fim de semana é análogo ao ‘horário nobre’ da internet, e os preços refletem isso”, afirma.
2. Sites confiáveis: Alguns Procons divulgam anualmente uma lista de sites que devem ser evitados pelo consumidor, como alerta o advogado do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Igor Marchetti. “Além disso, identifique sempre se há o cadeado na barra de navegação. Este é um requisito de segurança importante para transações com cartão de crédito”.
3. Preços dinâmicos: Muitos produtos online têm preços diferentes para cada tipo de consumidor, baseados não só nas redes sociais, mas também na localização do cliente. “Para conseguir preços mais justos, você pode se deslogar das suas contas nas redes sociais, limpar o histórico de pesquisa e os cookies e utilizar um navegador anônimo como o Tor, por exemplo”, diz Alex Von Metzen.
4. Reputação: O vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Rodrigo Bandeira, diz que 150 mil novas lojas virtuais foram abertas durante o período agudo da pandemia. “Outras novas lojas devem surgir. por isso é importante buscar na própria internet a reputação da loja e avaliar esta experiência”.
5. O segredo do carrinho: Mantenha os itens no carrinho de compra por alguns dias antes de comprar, como destaca Alex Von Metzen. “O sistema de vendas é notificado de que a compra não foi finalizada e pode estar programado para enviar cupons de desconto, como incentivo para concretizá-la”, ensina.
6. Custos x prazos: Quanto mais rápida a entrega, também mais caro será o valor do frete, lembra Rodrigo Bandeira, da Abcomm. “Observe atentamente todas as condições do prazo de entrega e não deixe de comparar estes custos”, recomenda.
7. Caça aos cupons de descontos: Pesquise cupons de desconto, verifique se eles são cumulativos e utilize outras formas de abatimento como cashback, programas de fidelidade e promoções da própria loja. “Às vezes há promoções disponíveis que não foram publicadas abertamente”, garante Alex Von Metzen.
8. Ótima oferta ou cilada?: Desconfie de qualquer oferta ‘boa demais’ porque ela pode não ser verdade. Outro alerta está no valor do frete. Não adianta receber um bom desconto se o frete é alto. “Economizar no frete é sempre uma estratégia válida, assim como utilizar os comparadores de preço e verificar também o histórico de preço desses produtos”, complementa Von Metzen.
9. Direito de arrependimento: O advogado do Idec Igor Marchetti ressalta que, nas compras online, o consumidor tem o direito de arrependimento garantido. O Código de Defesa do Consumidor (CDC) permite o cancelamento em até sete dias. No entanto, devido à pandemia, até o dia 30 de outubro, a medida não se aplica a compras no formato delivery de mercadorias perecíveis, como alimentos, bebidas e remédios. “Esta é uma das reclamações mais recorrentes que registramos”.
10. Avaliações: Confiar nos comentários é mais uma dica do consultor Alex Von Metzen. “Sempre veja as avaliações. Quanto mais, melhor. Se for uma avaliação 5 estrelas, com apenas 5 avaliações, pode ser que estas tenham sido forjadas. Estude bem as características do produto no anúncio e as compare com outras”
*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro e com a colaboração da repórter Priscila Natividade