Movimento tímido e clientes sem máscara nos bares no primeiro dia de retomada

No Rio Vermelho, bares abriram mas respeitando regras do protocolo municipal

A retomada das atividades nos bares de Salvador, nesta segunda-feira, 10, ainda foi tímida. Independente da pandemia, segunda-feira não é um dia tradicional de movimento nesses estabelecimentos e muitos não costumam funcionar no primeiro dia útil da semana. Ainda assim, tanto clientes quanto donos dos espaços estão esperançosos com o reinicio.

A reportagem do CORREIO percorreu alguns bares nos bairros considerados mais boêmios da cidade: Rio Vermelho, Pituba e Barra. Nesses locais, encontrou poucos clientes, mas empolgados pela possibilidade de sentar e tomar uma cerveja gelada, acompanhada da famosa resenha com os amigos. 

Na Barra, quase nenhum bar abriu. Mas nem foi por falta de clientela em potencial. Diversas pessoas se exercitavam e passeavam no calçadão. Nas proximidades do Porto e do Farol, só o Bar do Guga, que opera de domingo a domingo, retornou às atividades. A diferença do local em comparação ao período anterior a quarentena era notável. A quantidade de mesas e cadeiras era muito menor e os curtos espaços entre as mesas deram lugar ao distanciamento de um e meio, como manda o protocolo.

Cerca de dez pessoas se dividiram entre cinco ou seis mesas ocupadas. Entre elas, Andrea Anjos, técnica em enfermagem, e Edileide Santos, técnica em nutrição, que dividiam uma mesa e uma cerveja. Andréa disse que não suportava mais beber em casa e decidiu convidar a amiga para saborear uma cerveja gelada no primeiro dia. 

“Eu queria poder voltar a frequentar um lugar tão comum pra mim. Nesse período, tenho ficado em contato com muitas pessoas doentes e isso me deixa um pouco pra baixo. Queria dar uma animada, fazer algo que eu sentia muita falta”, contou.

Edileide também reclamou do período em casa e afirmou: “A saudade de tomar uma na Barra era enorme. Quando ela me convidou, aceitei logo. A gente tem um pouco de receio, mas, se estão permitindo o retorno, creio que o risco seja pequeno”, disse.

As duas reconheceram que não estavam com a máscara como recomendado, mas afirmaram que o risco era pequeno. “A máscara tá aqui guardada, não tô usando. Com esse distanciamento e o bar vazio, não vejo muito problema”, argumentou Andrea.

Clientes guardavam as máscaras mesmo que a regra seja beber e recolocar; já os funcionários estavam equipados (Foto: Tiago Caldas/CORREIO)

Quem não viu tanta segurança assim foi Diego Amaral, que foi ao bar ver se o lugar era um ambiente seguro. “Eu estava com muita saudade. Não sei se estou certo em retornar, acho que não. O risco existe e é grande. O contato é inevitável. E as pessoas não se acostumam a beber e colocar a máscara. Todo mundo guardou, inclusive eu, que não aguentei”, confessou o motorista.

Dário Oliveira, gerente do Bar do Guga, afirmou que a volta era necessária e que as adaptações feitas na estrutura do bar deixariam as pessoas seguras. “O negócio precisa funcionar. Temos contas que precisamos quitar. Aqui, a gente tá funcionando em cima do que a prefeitura solicitou. Tínhamos 70 mesas e agora estamos com 25, uma diminuição considerável. A distância das mesas é de dois metros, mais que suficiente. Tudo isso para fazer o retorno possível”, declarou.

Sobre a expectativa da procura dos clientes, o gerente disse que já esperava um número baixo e que a volta é feita justamente para garantir que o retorno seja progressivo. “Não esperava casa cheia, longe disso. Sabemos que essa realidade é lá para dezembro se tudo correr bem. Mas abrir, mesmo que pra poucas pessoas, já é positivo pra nós”, falou.

Rio Vermelho

No Rio Vermelho havia uma quantidade maior de bares abertos e, consequentemente, uma presença mais robusta de clientes. Apesar de apresentar um volume maior em relação a Barra, os bares ainda estavam distantes da lotação. Coisa considerada normal por Marcos Roberto, garçom do Parador Z1 há 10 anos.

“Além de reabertura, estamos na baixa estação. O movimento é pequeno mesmo. Agora, deixe chegar setembro e outubro para você ver, não vai sobrar mesa por aqui”, previu. 

Quem não esperou a alta estação para retornar aos bares foi Breno Macêdo, que aproveitou a reabertura para tomar uma e, de quebra, apresentar para a namorada para a mãe. “Oxe, a saudade era grande demais. Tomar uma assim com esse tempo gostoso e sair de casa é maravilhoso. Para mim, a reabertura é ótima. Espero que continue e só melhore. Com menos restrições e a gente voltando para a nossa vida normal”, relatou Breno, que também guardou a máscara e não utilizou no período que estava no bar. 

Diferente de Breno, as amigas Viviane Siqueira, gerente operacional e Nayze de Santana, atendente, ficaram de máscara, que só retiravam na hora de dar um gole na cerveja. “Usando máscara e matando a saudade. Eu estava louca pra voltar a frequentar bares, que são lugares muito naturais e me deixaram com uma falta imensa. Voltei no primeiro dia mesmo porque não aguentava mais. Mas, como eu estou seguindo o protocolo, me sinto segura aqui”, contou.

Nayze disse que veio com um pouco de receio, mas viu que as adaptações realizadas na estrutura do local respeitavam o protocolo e ficou mais confiante. “Eu tenho um pouco de medo, sim. Mas os bares estão se readaptando e oferecendo o melhor ambiente possível para que não haja uma disseminação de casos decorrentes da reabertura. Equipada e atenta, vejo poucas chances de me contaminar”, argumentou.

Pituba

O movimento da Pituba foi parecido com o do Rio Vermelho. Jonathan Café, proprietário do bar O Preto, disse que a ansiedade para a volta era grande e que o esforço para que o retorno fosse seguro foi ainda maior. “

A gente adaptou o espaço, diminuiu a quantidade de mesas de 70 para 20, estabeleceu o pedido por QR code e treinou os garçons. Tudo pra oferecer o melhor e mais seguro serviço nessa volta”, contou.

Liandra Nogueira, empresária, elogiou as medidas e disse que a volta acontece sem perigo. “Aqui, tá tudo certinho. Não tem cardápio, o pedido é por QR code. Isso melhora a minha experiência e me deixa mais segura. Eu vim com medo, não vou mentir. Mas tive que vir conferir porque acho que beber fora é muito mais gostoso. Em casa, a sensação não chega nem perto disso aqui”, contou.

Outro que estava ansioso para voltar ao Preto foi Pedro Lima, estudante de direito. “Rapaz, que saudade danada que estava da rua, do Preto. Beber em casa já enjoou demais. Lá, eu bebo sozinho. Aqui, tenho uma companhia e posso bater uma resenha. E tá tudo muito seguro pelo que vejo aqui”, disse.

Um outro cliente, que não quis se identificar, disse que o comportamento das pessoas só prova que a volta vai causar mais um surto. “Ninguém está de máscara. Todos sem o tempo inteiro. Era para bicar a cerveja e colocar a máscara, mas ninguém respeita. Isso não vai dar certo. Eu vim para ver se era seguro. Agora, vejo que não é”, reclamou.