Ministério da Saúde decide comprar vacina chinesa
Depois de muitas especulações, recusas e apelos, o Ministério da Saúde anunciou ontem que vai comprar 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina em fase de testes em São Paulo desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantã. E que a medicação será incluída no Plano Nacional de Imunização (PNI). A previsão é que a vacina esteja disponível no primeiro semestre de 2021.
A CoronaVac não está sendo testada na Bahia. Segundo o Instituto Butantã, é o imunizante contra o novo coronavírus em desenvolvimento no mundo com o menor índice de efeitos colaterais. Os dados de segurança foram apresentados nesta semana, levando em consideração o acompanhamento de 9 mil voluntários brasileiros já vacinados no País. Os resultados de eficácia, porém, inicialmente prometidos para outubro, só devem sair no fim do ano. A expectativa do governo paulista é que a vacinação comece em janeiro.
Duas vacinas contra a covid-19 são testadas na Bahia. A da farmacêutica Pfizer já ampliou por duas vezes o numero de voluntários. Começou com 500 e está em 1 mil. A meta é chegar a 1750 até o final deste mês. Nesta nova ampliação foram incluídos jovens de 16 anos e pacientes om HIV e hepatites B e C. Nas etapas anteriores, o público testado era de 18 a 85 anos. A vacina está na terceira etapa – chamada teste em larga escala. Num quarto estágio, os resultados dos testes em larga escala seguem para os órgãos regulatórios e só então pode ser produzida. As Informações são do Centro de Pesquisa Clínica das Obras Sociais Irmã Dulce, responsável pela pesquisa da vacina na Bahia.
Os estudos da segunda vacina testada no estado – a da AstraZeneca/Oxford – estão sendo conduzidos pelo Instituto D’Or (IDOR) no Hospital São Rafael e contabiliza, até ontem, 1854 voluntários vacinados, sendo que 1010 já receberam a segunda dose. A expectativa dos pesquisadores é aplicar a medicação em um total de 2500 voluntários na Bahia até o final de novembro. O Ministério da Saúde prevê que essa imunização comece a ser produzida pela Fiocruz a partir de abril de 2021.
O Governo da Bahia também anunciou a intensão de testar aqui a vacina desenvolvida na Rússia (Sputinik V). Ontem, a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) não respondeu aos questionamentos sobre as tratativas para a realização desta pesquisa. Uma quarta vacina, da farmacêutica Janssen, teve os testes suspensos em todo o mundo dia depois do anúncio de que seria testada em baianos em estudo conduzido por cientistas ligados ao Hospital Universitário Edgard Santos.
Investimento
Ontem, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello assinou um protocolo de intenções para a aquisição da CoronaVac após reunião virtual com governadores. Segundo informações do Ministério da Saúde, esta ação vai ampliar a oferta de vacinação para os brasileiros. Anteriormente, a pasta já tinha um acordo com a AstraZeneca/Oxford, que previa 100 milhões de doses da vacina, e outro com a iniciativa Covax, da Organização Mundial da Saúde para mais 40 milhões de doses.
Somadas, as três vacinas – AstraZeneca, Covax e Butantan-Sinovac – representam 186 milhões de doses, a serem disponibilizadas ainda no primeiro semestre de 2021 pelo PNI. “Temos a expertise de todos os processos que envolvem esta logística, conquistada ao longo de 47 anos de PNI. As vacinas vão chegar aos brasileiros de todos os estados”, garantiu Pazuello.
Para o protocolo de intenções de compra de doses da CoronaVac, uma nova medida provisória será editada para disponibilizar crédito orçamentário de R$ 1,9 bilhão. O Ministério da Saúde já havia anunciado, também, o investimento de R$ 80 milhões para ampliação da estrutura do Butantan – o que auxiliará na produção da vacina.
Além destas doses iniciais, a partir de abril, a Fiocruz deve começar a produção própria da vacina de Oxford e disponibilizar ao país até 165 milhões de doses durante o segundo semestre de 2021. O acordo do Instituto Butantan com a Sinovac também prevê a transferência de tecnologia e, com isso, o Butantan deve passar a produzir 100 milhões de doses por ano com sua nova fábrica.
A expectativa do Ministério da Saúde é que a vacinação comece em janeiro, a depender da liberação da Anvisa. Mas alerta que isso vai depender dos resultados da Fase 3 das vacinas, que testa eficácia, e de liberação da Anvisa.
Divergência agora é se vacinação será obrigatória
A decisão do Ministério da Saúde de comprar a CoronaVac – vacina que será produzida pelo Instituto Butantã em parceria com empresa chinesa – encerra especulações que indicavam que poderia haver uma resistência do governo federal em adquirir as doses do medicamento por causa de divergências políticas entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador paulista João Doria (PSDB).
Ao longo das últimas semanas, governadores e secretários de saúde de estados e municípios fizeram vários apelos para que o governo federal comprasse doses da CoronaVac, que, entre todas as testadas no Brasil, é a que está mais adiantada para poder ser disponibilizada à população em geral.
O que parece estar longe de um fim é se a vacinação contra a covid-19 será obrigatória ou não no Brasil.
Doria defende a obrigatoriedade. Bolsonaro tem insistido que não. Ontem, o Ministério da Saúde reafirmou que a vacinação não será obrigatória para os brasileiros.
“Já garanti que aqui os 45 milhões de brasileiros de São Paulo serão vacinados e a vacinação será obrigatória, exceto se o cidadão tiver uma orientação médica e um atestado médico que não pode tomar a vacina. E adotaremos as medidas legais se houver alguma contrariedade nesse sentido”, disse Doria na última sexta (16/10).
“[A vacina] Não será obrigatória. Quem está propagando isso aí, com toda certeza, é uma pessoa que pode estar pensando em tudo, menos na saúde. Essa pessoa está levando terror perante a opinião pública. Metade da população diz que não quer tomar essa vacina, esse é um direito das pessoas. O governo federal não obrigará ninguém”, rebateu presidente na segunda (19/10), sem citar o nome do governador.
Ontem, a deputada Carla Zambelli e o deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança, ambos do PSL-SP e da base do governo na Câmara, protocolaram um projeto de lei que torna crime um funcionário público de qualquer âmbito do Executivo obrigar a alguém a ser vacinado. A proposta é para que a conduta seja penalizada com reclusão de um a cinco anos, “se o fato não constitui crime mais grave”. A iniciativa vem dias após Zambelli afirmar que contraiu covid-19.