Meu lindo pai
Os Humanos nascem nus, carecas, chorando. E precisam ser Humanizados por Humanos que já estão no Planeta há mais tempo e sabem das coisas. Alguns têm sorte, como eu, que fui humanizada pelo meu Pai. Com ele, aprendi a alimentar o Espírito e o Corpo. A Amar o Livro e a Gastronomia. E a combater a desigualdade que divide Humanos iguais em Fortes e Fracos.
Se estivesse vivo, hoje, Aloysio José de Castro estaria com 124 anos e seria jovem e bem humorado. Amaria frequentar La Taperia, comigo, e perguntar ao Chef Jose Morchon – O que vamos comer hoje? Adoraria pirraçar o Chef Alessandro Narduzzi e depois comer, com prazer, qualquer coisa que ele fizesse. Vestiria as melhores roupas para jantar no Isola Dei Sapori de Marco e Sylvia, ou almoçar no Cremonini. Comeria, feliz, a Moqueca Sem Leite de Coco de Maria Flor, aprendiz de Manuel Querino, na República, com vermelho comprado em Neinho, Boca, Rasta e Courinho do Mercado do Peixe. Mas não rejeitaria a Moqueca com Leite de Coco de Tereza Paim.
Tentaria entender o Tik Tok. Perguntaria se Felipe Neto é a Xuxa deste início de século. Lamentaria a saída de Jaime Sodré. E se recusaria a ouvir notícias sobre o coronavírus, o único vírus que consegue empatar em desumanidade com o vírus da corrupção, tanto no Líbano, onde administradores públicos guardam 2.750 toneladas de nitrato de amônio para explodir, matar e destruir. Quanto no Brasil, onde gestores corrompem tanto, tudo, que desviam até as verbas de combate ao vírus concorrente.
Tentaria entender porque na lista dos livros mais lidos, no Brasil, hoje, estão A Revolução dos Bichos e 1984, de George Orwell, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, e Fahrenheit 451, de Ray Bradubury, e leria de novo Eça de Queiroz, Alexandre Herculano e Castro Alves. Mas não se espantaria com as minhas recomendações contemporâneas.
Se meu Pai estivesse comigo, amanhã, conversaríamos sobre lugares perfeitos como o Castelo de Banfi, em Montalcino, na Itália, como a Feira Guelaguetza, em Oaxaca, no México, como as Ramblas de Barcelona, na Espanha, como o Centro Histórico, na Baía. E quando eu lhe dissesse – Pai, o mundo está tão triste que até a Baía que tem os neurônios nos quadris entristeceu. Ele me responderia com aquele sorriso que saia do corpo inteiro – Minha filha, isso passa! Viver é sempre bom.