Médicos alertam para risco de acidentes domésticos durante isolamento

Com o isolamento social por causa da pandemia de covid-19, médicos alertam para o cuidado com acidentes domésticos. Segundo a Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé (ABTPé), nesse período, é natural que as pessoas procurem atividades dentro de casa para ocupar o tempo, como fazer pequenas reformas e arrumações, além de praticar atividades físicas e aderir a brincadeiras da internet para se distrair.
Esse risco é maior sobretudo com crianças e idosos. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Geriatria, inclusive, revela que aproximadamente um terço da população acima dos 65 anos sofre ao menos um episódio de queda por ano, o que aumenta com o passar dos anos, chegando a mais de 50% nos maiores de 85 anos. Sendo que a maioria dessas quedas ocorrem dentro de casa.
Antes das recomendações do isolamento social por autoridades sanitárias, em janeiro e fevereiro deste ano, os atendimentos feitos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Salvador foi de 127 casos por mês. Já em maio, o total foi de 188 registros – o que representa aumento de 48%.
Especialistas ressaltam que idosos pertencem à população mais vulnerável a quadros mais graves por causas de acidentes domésticos. Dentre os mais comuns, a queda é o que traz mais risco de complicações, pois muitas vezes causam lesões sérias. “O que, à primeira vista, pode aparentar ser um local seguro, pode oferecer diversos riscos de acidente. Um simples tapete solto ou mal posicionado é capaz de provocar lesões potencialmente graves”, alerta Marcelo Midlej, médico e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ), Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e Médico do Esporte Clube Vitória.
O Brasil registrou 301.479 internações por acidentes domésticos em 2020. Entre eles, quedas, queimaduras e afogamentos são tidos como os mais comuns segundo dados do Ministério da Saúde. A demora em procurar ajuda especializada impede o tratamento de situações importantes e, consequentemente, gera um aumento das sequelas causadas pelo acidente, pontua Angelina Oliveira, enfermeira e diretora da Padrão Enfermagem Salvador, empresa especializada na intermediação de profissionais de enfermagem e cuidadores de idosos, adultos e crianças.
“A nossa casa pode se tornar um ambiente seguro para se estar, há mecanismos de isolamento redobrados para evitar o risco de contágio pelo vírus. Se um ente querido possui algum problema de saúde que requer acompanhamento, ficar sem os devidos cuidados por causa do isolamento não é uma boa decisão”, completa a diretora.
Cuidados
Diretor da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé (ABTPé), Danilo Ryuko Cândido Nishikawa destacou que quedas de altura (de escada, cadeiras e cama) e acidentes por instrumentos perfuro-cortantes – vidro, faca, serra, prego – acabam se tornando mais frequentes. “É preciso ficar atento, pois as quedas de altura podem causar lesões simples, como leves entorses do tornozelo, ou fraturas graves da tíbia, fíbula, calcâneo e metatarsos, que necessitem de tratamento cirúrgico.”
“A maior frequência do manuseio de instrumentos de cozinha ou de construção pode causar lesões nos tendões, nervos e vasos sanguíneos da mão, levando a consequências graves”, acrescentou Nishikawa, que é especialista em cirurgia do pé e tornozelo.
Também especialista em cirurgia do pé e tornozelo, o presidente da ABTPé, José Antônio Veiga Sanhudo, alertou para a necessidade de cuidado com brincadeiras disseminadas pela internet. “É preciso tomar muito cuidado ao tentar imitar os desafios e brincadeiras lançados na internet, pois o que era para ser diversão pode acabar em lesões que, dependendo da situação, podem deixar sequelas.”
Sanhudo ressaltou que as crianças e os idosos exigem mais atenção e cuidados dentro de casa, pois situações corriqueiras podem se transformar em acidentes. Com o confinamento, as crianças ficam mais agitadas e passam a explorar novos lugares na casa, o que pode colocá-las em risco. “A casa se torna o playground, o parque e a quadra de esportes. Com isso, podem ocorrer desde lesões menores, como imprensar o dedo nas portas e pequenas contusões, até fraturas do fêmur, tornozelo, cotovelo, mão e punho. Ficar de olho é a principal medida para protegê-las”, afirmou o especialista.
Segundo os médicos, os idosos apresentam fraqueza muscular, piora do equilíbrio e fragilidade óssea pelo avanço da idade e são mais suscetíveis a quedas dentro de casa. Acidentes domésticos podem causar, por exemplo, fraturas do fêmur, punho e ombro nos idosos devido a essas condições. “É importante evitar tapetes e objetos pelo chão da casa, isolar pisos escorregadios, manter os ambientes iluminados e não subir em bancos, cadeiras ou escadas”, alertou Nishikawa. “E, em caso de acidente, não hesite em procurar o pronto-socorro ortopédico.”