Mandetta vê “grande colaboração” em fala de Bolsonaro, critica quarentena e diz que fica no cargo
SÃO PAULO – Um dia após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) minimizar a pandemia do novo coronavírus em rede nacional, chamando a doença de “gripezinha” ou “resfriadinho” e criticando medidas de isolamento social adotadas por determinados estados, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, buscou tom conciliatório com a fala do mandatário e apresentou visão contrária à forma como a quarentena tem sido instituída por governadores.
Em coletiva de imprensa para a exposição dos números e políticas adotadas pela pasta em resposta ao avanço da Covid-19, Mandetta indicou que o movimento pode ter sido precipitado, considerando o atual estágio da doença no país. “Temos que melhorar esse negócio de quarentena, não ficou bom”, disse.
“A última vez em que o Brasil fez uso de quarentena por saúde foi em 1917, à época da gripe espanhola. Então, é normal, faz parte dessa situação, quando se fala em quarentena, nós errarmos, calibrarmos ou fazermos projeções em momentos um pouco fora e questionáveis. Se nós estamos iniciando o processo da curva, nós temos que ter muita calma, porque a quarentena é um remédio extremamente amargo, extremamente duro, e vai ter a hora em que vamos precisar usar”, afirmou.
O ministro listou uma série de pontos que justificariam o acionamento de tal mecanismo: caráter infeccioso da doença, fácil transmissão, o não-desenvolvimento natural de um sistema imunológico eficaz até o momento e uma alta taxa de letalidade ou implicações que acarretem em uso intenso do sistema de saúde.
Segundo ele, todos estariam presentes no caso do novo coronavírus, mas haveria medidas que poderiam ser adotadas antes do que ele chamou de “lockdown” (paralisação total de atividades). Dois exemplos citados por ele seriam a redução de mobilidade da população e a possibilidade de realizar fechamentos restritos a territórios menores, como bairros.
“Nós saímos praticamente do início dos números para praticamente um efeito cascata de decretação de lockdowns em todo o território nacional em paralelo, como se nós estivéssemos todos em franca epidemia. Isso causa uma série de transtornos para o próprio sistema de saúde”, afirmou.
Segundo o último boletim do ministério, divulgado nesta quarta-feira (25), o Brasil chegou a 57 mortos e 2.433 casos confirmados da doença. A taxa de letalidade calculada até o momento é de 2,4% e, de acordo com o ministro, poderá diminuir com o uso dos testes rápidos, que provocarão um aumento expressivo nas confirmações de infectados nos próximos dias.
Diante dos apontamentos de divergências com a fala do presidente e dos rumores de que poderia deixar o comando do Ministério da Saúde, Mandetta disse que permanece no cargo e defendeu o posicionamento de Bolsonaro em pronunciamento na véspera.
“Eu vou deixar muito claro: eu saio daqui na hora que acharem que eu não devo trabalhar, que o presidente achar, porque foi ele que me nomeou. Ou se eu estiver doente, o que é possível, eu ter uma doença, ou no momento em que eu achar que esse período todo de turbulência já tenha passado e que eu possa não ser mais útil. Nesse momento de crise agora, eu vou trabalhar ao máximo. A equipe está todinha focada. Nós vamos trabalhar com critério técnico”, disse.
Durante a coletiva de imprensa, o ministro disse que a pasta que comanda não é “insensível” às implicações econômicas da crise e mostrou-se de acordo com as preocupações de Bolsonaro, dizendo ver “grande colaboração na fala do presidente” – embora não tenha comentado o fato de o mandatário referir-se à doença como uma “gripezinha” ou um “resfriadinho”.
“Quarentena sem prazo determinado para terminar vira uma parede na frente das necessidades das pessoas, que precisam comer, abastecer suas casas, ir ao supermercado, que precisam ir e vir, porque isso faz parte da própria sobrevivência. As questões econômicas são importantíssimas e fizeram parte da linha da fala do presidente, onde ele coloca que, se não tivermos um cuidado com a atividade econômica, essa onda de dificuldade que a saúde vai trazer [pode] virar uma onda de dificuldade maior ainda em relação à crise econômica”, pontuou.
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