Mandetta admite que vai deixar o Ministério da Saúde: ‘Já chega, né?’

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, já admite sua saída, afirma estar cansado e diz que espera somente o presidente Jair Bolsonaro escolher seu substituto. Na quarta-feira (15), ele deu uma coletiva já em tom de despedida, ao lado do secretário-executivo João Gabbardo e do secretário de Vigilância e Saúde, Wanderson de Oliveira. Mandetta recusou a demissão de Wanderson e afirmou que todos vão sair juntos. “Entramos juntos e sairemos juntos”, disse, se referindo à equipe.

“Fico até encontrarem uma pessoa para assumir meu lugar”, disse em entrevista à Veja, depois da coletiva. Questionado se não tinha mais como continuar no governo, ele negou. “São 60 dias nessa batalha. Isso cansa”, afirmou.

Segundo o ministro, foram 60 dias “tendo de medir palavras”, explicando estratégias para Bolsonaro, acreditando que os dois estavam de acordo, para depois vê-lo mudando o discurso. “Você conversa hoje, a pessoa entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente. Você vai, conversa, parece que está tudo acertado e, em seguida, o camarada muda o discurso de novo. Já chega, né? Já ajudamos bastante”, avalia.

Mandetta afirmou que não sabe se a política do Brasil para conter o avanço do coronavírus irá mudar, mas destacou: “O vírus se impõe. O vírus não negocia com ninguém. Não negociou com o Trump, não vai negociar com nenhum governo”, afirmou, citando os EUA, país com maior número de mortos pela covid-19.

O ministro disse que ainda não sabe também o que fará depois de deixar o governo, mas vai trabalhar para “ganhar o pão”, citando que ainda tem um filho na faculdade. Afirmou, contudo, que não tem intenção de ir para outro governo de estado ou para uma prefeitura.

Há vários nomes cotados para substituir Mandetta. Osmar Terra, deputado federal e ex-ministro da Cidadania, é crítico do isolamento social e tem usado redes sociais para falar da quarentena. Ele é um dos nomes citados. Antonio Barra Torres, diretor-presidente substituto da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa) pe outo. Ele foi da Marinha e está próximo de Bolsonaro durante essa crise. A médica do Hospital Albert Einstein Nise Yamaguchi, nome de destaque que defende o uso da cloroquina, é outro.

Para tentar evitar a pecha de “ideológico”, o presidente pode convidar também médicos conhecidos, saindo dos nomes políticos. Nelson Teich, oncologista e presidente da Clínicas Oncológicas Integradas (COI) é um destes nomes, próximo ao ministro Paulo Guedes. O presidente do conselho do Albert Einstein, Claudio Lottenberg, chegou a falar abertamente da possibilidade, e disse que se for convidado para o cargo vai aceitar.