‘Made in Hong Kong’, vítima das tensões entre EUA e China
Para serem vendidos nos Estados Unidos, os produtos importados de Hong Kong agora devem ter a inscrição “Made in China”. Em Hong Kong, os funcionários da fábrica de molhos Koon Chun trabalham duro para cobrir centenas de milhares de garrafas com um novo rótulo “Made in China”, prova de que essa popular marca de Hong Kong é vítima das tensões sino-americanas.
Fundada há um século, a empresa familiar sobreviveu a uma guerra mundial, a inúmeras crises econômicas e ao lento desaparecimento da indústria manufatureira de Hong Kong, em benefício da força de trabalho muito menos cara da China continental.
Produz molhos de soja e de ostra que são muito apreciados em restaurantes chineses em todo o mundo. Mas, para serem vendidos nos Estados Unidos, os produtos importados de Hong Kong agora devem ter a inscrição “Made in China”.
Esta medida foi imposta por Washington em resposta à nova e draconiana lei de segurança nacional que Pequim passou a aplicar no território semi-autônomo. A nova regra foi anunciada em agosto pela alfândega dos Estados Unidos, dois dias antes de um embarque de 1.300 caixas de molhos Koon Chun para Atlanta.
Imagem de um mercado em Hong Kong anuncia produtos feitos no território, em 12 de agosto de 2020
Anthony Wallace / AFP
Da noite para o dia, os funcionários foram forçados a colar os novos rótulos em todas as mercadorias destinadas aos Estados Unidos.
“Era uma missão impossível”, disse Daniel Chan à AFP, na fábrica fundada em 1928 por seu avô.
A adoção da lei de segurança chinesa é vista como a resposta de Pequim a meses de manifestações pró-democracia em Hong Kong em 2019.
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Repercussões econômicas
A revogação em julho, como represália, do status comercial preferencial acordado pelos Estados Unidos a Hong Kong tem graves consequências. As repercussões econômicas foram imediatas na ex-colônia britânica, que já se encontrava em recessão. E os produtos “Made in Hong Kong” foram os primeiros a serem afetados.
Chan, que estudou em Harvard, nos Estados Unidos, esperava que o cenário político mudasse em Hong Kong, mas não tão rápido.
“Imaginava que algo aconteceria por volta de 2047, data oficial do fim do princípio ‘Um país, dois sistemas'”, diz Chan, referindo-se ao acordo de devolução que garantiu a Hong Kong 50 anos de liberdades desconhecidas no resto da China.
Os 90 colaboradores da empresa tiveram que se adaptar à mudança e agora têm de fabricar novos rótulos em que a menção “Made in Hong Kong” é substituída por “Made in China”.
As empresas obtiveram, porém, uma prorrogação depois que o ministro do Comércio de Hong Kong, Edward Yau, anunciou a decisão de Washington de adiar a regulamentação da nova rotulagem até novembro.
Mas o ministro ameaçou os Estados Unidos com uma ação na Organização Mundial do Comércio (OMS). Afirmou ainda que as exportações para os Estados Unidos de produtos de Hong Kong representaram apenas US$ 400 milhões em 2019, ou seja, menos de 0,1% das exportações do território.
Mas Chan não vê as coisas dessa forma, já que metade de sua mercadoria é destinada aos Estados Unidos, onde a marca é especialmente apreciada pela diáspora chinesa. E quando pensa no futuro, Chan teme que outros mercados internacionais sigam o exemplo.
“Em 20 ou 30 anos, as pessoas terão apenas ‘Made in China’ e esquecerão Hong Kong”, lamenta, antes de acrescentar: “Isso tudo é muito triste”.
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