Lençóis é segundo município a reabrir turismo na Chapada e preocupa moradores do Capão
O turismo na Chapada Diamantina dará mais um passo para sua total reabertura em meio à pandemia do novo coronavírus. A partir de amanhã (1/10), Lençóis será o segundo município a retomar as atividades turísticas na região – o primeiro foi Mucugê – e deve puxar a fila de outras cidades que também pretendem reabrir a atividade em outubro. Só que o que poderia ser motivo de comemoração para quem vive do setor, se transformou em preocupação para os moradores do Vale do Capão, um dos destinos mais conhecidos da Chapada. Isso porque a prefeitura de Palmeiras – onde o vale está localizado – pode autorizar a volta dos visitantes a partir do dia 4. E eles são contra. Inclusive, desde de março que eles se organizaram para fazer barreiras e impedir a entrada de pessoas que não são da comunidade para evitar contaminação dos moradores pelo novo coronavírus.
Segundo o Conselho Gestor do Vale do Capão (CGVP), a retomada do turismo deve ser gradual, em novembro, e desde que acompanhada de uma rígida fiscalização, o que não estaria assegurado pela prefeitura de Palmeiras. Para tentar chegar a um acordo, o Conselho – formado por 14 coletivos, entre associações de guias e moradores – terá uma reunião na manhã de hoje (30) com a gestão municipal. “Como que eles querem reabrir se não tem coleta de lixo adequada, banheiro público não funciona, não tem planejamento de fiscalização para os restaurantes. São vários pontos que precisam ser revistos e os protocolos são muito vagos”, questionou, pedindo anomimato, um dos integrantes do Conselho à reportagem. Ele pontua ainda que não é contra a retomada econômica, mas a favor de que ela seja feita de forma segura.
Como será a reabertura de Lençóis e do Vale do Capão? Confira o podcast especial sobre o assunto:
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O Que a Bahia Quer Saber · A reabertura do turismo na Chapada Diamantina e todo o rigor em torno dela
O secretário de saúde de Palmeiras, Walney da Silva Paula, ressalta que não há ainda uma data definida para o retorno do turismo no município. “Não definimos ainda a data de reabertura, estamos fazendo as coisas gradativamente. Os moradores estão sempre sendo ouvidos”.
Legalmente, a suspensão dessas atividades, por decreto municipal, tem validade até 4 de outubro. Apesar da indecisão, o secretário informou que um selo sanitário já foi criado para os estabelecimentos que seguirem as regras de higiene e que as visitas da equipe de vigilância sanitária para emitir o certificado começaram ontem (29).
Enquete
O CGVP disse ter feito uma enquete com cerca de 800 dos 8.500 moradores de Palmeiras e que só 3% deles foram a favor. O conselho alega também ter recebido inúmeras denúncias de descumprimento das regras e que ninguém foi penalizado ou notificado pela prefeitura.
O desrespeito às normas do decreto municipal foi notado pela moradora de Palmeiras Cleide dos Santos**. “Nos bares e restaurantes, já tá meio que liberal, muita gente sem máscara e falta fiscalização”, relatou. Já Delio Dias é a favor da retomada. Ele é guia de turismo no Capão e proprietário de uma agência de viagem. “Tem seis meses que a cidade está fechada. Muita gente tá passando dificuldade e o prefeito tem que tomar uma atitude”, opinou.
O diretor de qualificação e segmentos turísticos da Secretaria de Turismo da Bahia, Jorge Ávila, afirmou que um protocolo único foi criado para que todos os municípios da Chapada Diamantina e que a previsão é que tudo volte gradativamente em outubro. “Foi tudo pensado em conjunto e encaminhado para a Secretaria de Saúde da Bahia”, informou.
O protocolo serve de referência, mas não é obrigatório. Lençóis, por exemplo, é o único que adotou a apresentação obrigatória de um teste de covid-19 para os turistas que quiserem entrar na cidade.
Segundo o boletim epidemiológico da secretaria de saúde de Palmeiras, a cidade tem 22 casos de coronavírus e 1 óbito. O Hospital Regional de Seabra, inaugurado em 2017, é o único que atende a todos os 13 municípios da região e tem 101 leitos, sendo 10 de UTI e 5 para tratamento de pessoas com covid-19. O prefeito de Palmeiras Ricardo Guimarães não atendeu às ligações ou respondeu às mensagens da reportagem.
Veja o protocolo sanitário estabelecido pela prefeitura de Palmeiras, que o Conselho Gestor do Vale do Capão interpretou como “vago”:
Moradores querem implantar barreira sanitária
Dentre as reivindicações que o Conselho Gestor do Vale do Capão apresentará hoje à Prefeitura de Palmeiras – como contraponto à abertura de Lençóis – é a implantação de uma barreira restritiva na estrada Palmeiras-Capão; com permissão para a entrada apenas para morador e parente de primeiro grau com comprovante de residência; entrada de turistas apenas com comprovante de hospedagem; criação de um plano de fiscalização; monitoramento dos atrativos turísticos; conclusão do banheiro público da vila; instalação de três lavatórios para mãos; testagem periódica e aleatória de pessoas da comunidade; melhoria da coleta de lixo; e reestruturação da feira. O prefeito de Palmeiras, Ricardo Guimarães, não retornou aos contatos da reportagem para comentar sobre as reivindicações.
Os moradores do Capão foram notícia em todo o Brasil por, em março, realizarem eles mesmos um barreira na estrada para impedir a entrada de pessoas de fora da comunidade.