Jovem negro denuncia seguranças de supermercado na Ponta Verde, em Maceió, por injúria racial


Adolescente de 17 anos disse que seguranças sacaram uma arma e o acusaram de furtar bicicleta – que era dele – e lanches que ele tinha comprado no estabelecimento momentos antes. Supermercado disse que vai apurar o caso. Adolescente gravou vídeo relatando constrangimento que sofreu em supermercado na Ponta Verde, Maceió; caso foi denunciado à Polícia Civil como injúria racial
Reprodução/Vídeo
Um jovem negro de 17 anos denunciou à Polícia Civil, na tarde desta quinta-feira (17), dois seguranças do supermercado Unicompra, na Ponta Verde, em Maceió, por injúria racial. Ele alega que foi acusado de furtar a própria bicicleta e lanches pelos quais tinha pago no estabelecimento momentos antes. O caso aconteceu na quarta (16).
A assessoria do Unicompra informou ao G1 que só tomou conhecimento do ocorrido nesta manhã e informou que a situação vai ser apurada.
Em entrevista ao G1, o estudante do 2º ano do ensino médio contou que ele e um amigo compraram lanches no supermercado e deixaram as bicicletas no estacionamento do estabelecimento. Depois de lancharem, os jovens seguiram para a Praça do Skate, que fica ao lado, mas foram seguidos pelos seguranças.
“Acabou o lanche, nós montamos na bicicleta e fomos para a Praça do Skate, que estava cheia de amigos meus reunidos. Vieram dois seguranças, um armado e o outro que puxou minha camisa me chamando de ladrão. Já chegaram dizendo ‘e aí, neguinho, vamos que você roubou’. Eu não oferecia risco algum para ninguém e mesmo assim eles sacaram a arma. O segurança olhou para a cara do meu amigo, de pele clara, e mandou ele embora. Foi injúria racial com a minha cor”, afirmou o adolescente, inconformado com a situação.
Ele também contou que, depois da abordagem na praça, os seguranças o conduziram de volta para o supermercado, alegando que ele também tinha roubado os lanches, mas ele comprovou que havia pago pelo alimento.
“Eles me acusaram de ter roubado minha própria bike, além dos lanches que eu tinha comprado, e não deram a mínima para a nota fiscal que estava no meu bolso. Me conduziram até o Unicompra novamente, o local estava lotado, todo mundo me olhando torto. Isso foi muito constrangedor. Veio o segurança superior deles, que alegou que eu tinha roubado a bicicleta, porque não coloquei o cadeado. Eles não deixaram eu falar com o gerente, porque no fundo sabiam que estavam errados”, lamentou.
Acompanhado do pai e de uma advogada, o adolescente registrou um Boletim de Ocorrência no 2º Distrito Policial da Jatiúca. A investigação vai ser encaminhada para a Delegacia de Crimes contra a Criança e o Adolescente. “É uma situação triste e dolorosa para mim e toda família”, disse o pai dele, Paulo Manoel Do Carmo Junior.
A advogada Jucilene Carvalho, que representa o adolescente e a família dele, falou sobre o crime de injúria racial.
“O crime em espécie se enquadra como injúria racial pois ofendeu a honra do menor pelo simples fato dele ser negro, tendo em vista que o mesmo estava junto com outros adolescentes e apenas ele foi abordado e tratado como menor infrator, que estava furtando a mercadoria do supermercado, mercadoria essa que foi paga e sua própria bicicleta. E ainda foi tratado como ‘negrinho’, disse a advogada.
Jucilene Carvalho falou também sobre a diferença entre os crimes de injúria racial e racismo.
“Quanto ao crime, é salutar fazer a distinção entre injúria racial e crime de racismo. A injúria racial consiste em ofender a honra de alguém valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. O crime de racismo atinge uma coletividade determinada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça. A injúria racial está prevista no artigo 140, parágrafo 3º, do Código Penal, que estabelece a pena de reclusão de um a três anos e multa”, explicou.
A advogada ainda orientou o que qualquer pessoa deve fazer diante do crime de injúria racial e lamentou a falta de uma delegacia especializada para esses casos.
“Procurar a delegacia mais próxima e fazer um boletim de ocorrência para que esse tipo de crime não venha a se repetir. Infelizmente não temos delegacias especializadas para tratar de casos de injúria racial”, explicou.
O adolescente ressaltou a importância da denúncia, para que crimes por causa da cor da pele não fiquem impunes.
“Família de negro, pobre e favelado, não fui o primeiro nem o último a passar por isso. Eu também sou skatista, eles [seguranças] já nos olham com preconceito. O que não podemos é baixar a cabeça para esses caras”, disse.
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Um jovem negro de 17 anos denunciou à Polícia Civil, na tarde desta quinta-feira (17), dois seguranças do supermercado Unicompra, na Ponta Verde, em Maceió, por injúria racial. Ele alega que foi acusado de furtar a própria bicicleta e lanches pelos quais tinha pago no estabelecimento momentos antes. .
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