Jaguaribe em 1992: praia lotada e barracas funcionando

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Praia de Jaguaribe lotada e Barraca do Gaúcho funcionando no verão de 1992 (Foto: Luiz Hermano/Arquivo CORREIO) |
Parece um passado distante, mas faz só dez anos que a orla de Salvador não conta mais com barracas de praia. Essa de Jaguaribe foi fotografada em 25 de fevereiro de 1992 – alto verão na capital baiana – por Luiz Hermano. Mas o ‘desaparecimento’ das barracas é bem mais recente – elas começaram a ir ao chão em 2009. Primeiro, Pituaçu; depois, Jaguaribe. No ano seguinte, a justiça federal mandou demolir mais 353 barracas que ainda restavam na orla da cidade, por conta de uma disputa que havia começado quatro anos antes, em 2006.
O dia 23 de agosto de 2010 foi tenso na orla. Naquele dia, máquinas da prefeitura iniciaram o trabalho de derrubada. Só naquela segunda-feira, 102 estruturas foram ao chão, mas não pacificamente. Donos e funcionários de barracas, que tinham suas vidas atreladas ao trabalho na orla, bradaram, choraram, xingaram, imploraram, sem sucesso.
Os repórteres Jorge Gauthier, Arisson Marinho, Bruno Menezes e Robson Mendes acompanharam a demolição de perto. Pessoas atravessaram a pista, bloquearam o trânsito em protesto e até usaram fogo para tentar impedir a demolição, que aconteceu mesmo assim.
“O fogo foi o instrumento de muitos para evitar a derrubada. ‘Prefiro ver pegando fogo do que ver um trator derrubar minha via de trabalho’, bradava o barraqueiro Eduardo Melo dos Santos, que sofreu um infarto depois de receber a notificação de derrubada de sua barraca. Além da barraca dele, manifestantes atearam fogo em outras duas em Itapuã”, dizia um trecho da reportagem de Jorge Gauthier naquele ano.
As primeiras barracas a cair foram as de luxo, algumas avaliadas em até R$ 1 milhão. Os donos se juntaram no lamento aos garçons, que trabalhavam nos estabelecimentos e, a partir daquele momento, não tinham mais para onde ir. As demolições seguiram até o final da semana. Todas as barracas que ocupavam a faixa de areia da orla foram demolidas. Ficaram de pé somente os restaurantes que eram instalados na parte de cima, como o Jangada e o Língua de Prata, em Itapuã – estes dois foram demolidos em 2015 no processo de revitalização da orla de Itapuã.
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No dia 23 de agosto de 2010, 102 barracas foram demolidas na orla de Salvador (Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO) |
As demolições
O processo que resultou nas demolições das barracas de praia de Salvador começou em 2006. Em outubro daquele ano, o Ministério Público Federal entrou com uma ação contra a prefeitura porque esta havia começado a fazer ampliações nas barracas, sem licença ambiental, na faixa de areia. Em maio de 2007, a Justiça mandou derrubar as barracas, mas a prefeitura intercedeu e entrou com uma ação para tentar impedir a derrubada.
Os barraqueiros entraram com uma ação contra o juiz federal Carlos D’Ávila, afirmando que ele não tinha imparcialidade para julgar o caso, e o processo ficou parado até o ano seguinte, 2008, quando o Tribunal Regional Federal negou o recurso. Em 2009, os barraqueiros entraram com outra ação contra o juiz e o processo foi novamente suspenso. Mas, a prefeitura retirou o pedido judicial que impedia a derrubada.
Naquele mesmo ano, o município apresentou uma proposta para reduzir o número de barracas na orla de Salvador de 496 para 266. O juiz aceitou a proposta, mas um novo recurso suspendeu o processo. Em agosto de 2009, a Vigilância Sanitária de Salvador encontrou irregularidades em 137 barracas e pediu a demolição delas – foi aí que começou a derrubada em Pituaçu e Jaguaribe, com 98 demolições.
No final de julho de 2010, o juiz Carlos D’Ávila ordenou a demolição das 353 barracas que restavam na orla de Salvador e nas ilhas que pertencem à cidade: Ilha de Maré, Ilha de Bom Jesus dos Passos e Ilha dos Frades.