Histórias da Sula: veja lista com cinco jogos marcantes da copa
Com retorno marcado para esta terça-feira (28), a Copa Sul-Americana é marcada por partidas memoráveis, goleadas e jogos polêmicos. Bem ao estilo sul-americano de se jogar futebol. Por isso, selecionamos partidas importantes ao longo das 18 edições do torneio – desde que assumiu sua identidade como Copa Sul-Americana – para contar a história desses confrontos.
Assim como acontece na Libertadores, a supremacia argentina é tema de algumas dessas lembranças. Boca Juniors e Independiente são os maiores campeões da Copa, cada um com dois títulos, e o maior artilheiro da competição é o atacante Hernán Barcos. O Pirata marcou 19 gols pela Sul-Americana e escreveu sua história no Brasil atuando por Cruzeiro, Palmeiras e Grêmio.
No hall de brasileiros campeões estão Internacional, São Paulo, Athletico Paranaense e a Chapecoense, cada um com uma taça. O clube paulista, aliás, é protagonista de uma das partidas mais polêmicas do torneio, quando chegou à final em 2012 contra o Tigre. Goiás e Ponte Preta também aparecem na lista por terem ficado no ‘quase’ e amargaram derrotas para os rivais hermanos na final.
A partida que nunca terminou
Ainda no primeiro tempo, a PM teve que entrar em campo para conter a confusão entre os jogadores (Foto: Reprodução) |
Não há outra maneira de abrir uma lista com jogos históricos da Copa Sul-Americana que não seja com a final entre São Paulo e Tigre, da Argentina. A partida de volta, no Morumbi, aconteceu no dia 12 de dezembro e deu ao tricolor o primeiro e único título da Sula. Mas ele não veio da forma esperada.
Após um empate por 0 a 0 na Argentina, as duas equipes entraram em campo pensando apenas na vitória, já que qualquer empate levaria o jogo para a prorrogação e, se permanecesse, aos pênaltis. Em um gramado bastante castigado por conta de um show da cantora Madonna que aconteceu dias antes da final, o time do São Paulo não encontrou dificuldades e abriu o placar com Lucas Moura aos 22 minutos.
O meia-atacante, aliás, fez ali sua última partida com a camisa do São Paulo. Vendido na época ao Paris Saint-Germain por R$108 milhões, Lucas recebeu de Rogério Ceni a taça para ser levantada após o fim da partida. Ou melhor, após o fim da metade dela. Antes do fato histórico, o São Paulo fez 2 a 0 com Osvaldo – hoje no Fortaleza – e foi para o intervalo com uma boa vantagem.
Ao retornarem para o campo no segundo tempo, nem os jogadores nem a torcida entendiam o motivo da demora dos argentinos de subir do vestiário. Passaram-se 5, 10, 20… 30 minutos e o Tigre não retornou ao gramado. O delegado da partida confirmou o fim do jogo e entregou a taça da Sul-Americana para o São Paulo.
O motivo alegado pelos adversários para não subir para o campo foi de que a Polícia Militar de São Paulo teria ameaçado o elenco com armas de fogo, deixando todos os atletas apreensivos, e por isso resolveram não voltar.
Nenhum desses fatos foi confirmado, mas o repórter da Globo Marco Aurélio Souza informou após o ocorrido que os argentinos tentaram invadir o vestiário do São Paulo, gerando a confusão com os policiais. O clima do jogo já estava quente quando, pouco antes do final da primeira etapa, Lucas provocou Orbán, do Tigre, com um pedaço de algodão ensanguentado que estancou a pancada que o meia sofreu do argentino.
Zebra pra cima dos argentinos
Jogadores do Cienciano posando para foto antes da final contra o River Plate (Foto: Reprodução) |
Aqui vai uma história clássica quando se fala de ‘zebra’ no futebol. O termo remete a um resultado inesperado, em que a equipe favorita é derrotada por outra de menor expressão ou de qualidade inferior. Em 2003, na segunda edição da Sul-Americana, o modesto Cienciano, clube do Peru, surpreendeu na competição e chegou à final contra o todo poderoso River Plate.
A partida de ida já era uma prova do que estava por vir no Peru. O Cienciano arrancou um empate por 3 a 3 em um Monumental de Ñunez lotado – com direito aos rolos de papel higiênico e papel picado no gramado. Natural de Cusco, o Cienciano precisou mandar o jogo em Arequipa por conta da capacidade mínima do estádio para uma final, que é de 40 mil pessoas.
Mesmo fora do seu território habitual, Los Imperiales – apelido do clube – fizeram o simples e tenso placar de 1 a 0. Com um jogador a menos, o gol saiu em uma cobrança de falta do zagueiro Carlos Lugo aos 35 minutos do segundo tempo. Para completar, o meia Julio García também foi expulso aos 42 da segunda etapa. Nada que tirasse o título dos peruanos. Parece história de filme, mas foi real.
Para se ter uma ideia do tamanho do feito conquistado na noite de 19 de dezembro de 2003, o Cienciano ostenta apenas 3 títulos no seu currículo: a Sula, a Recopa Sul-Americana de 2004 (quando venceu o Boca Juniors, que havia sido campeão da Libertadores) e um título da Série B peruana em 2019. Por outro lado, o River Plate já acumulava na época duas Libertadores e Mundial Interclubes. Após altos e baixos, o Cienciano está de volta à primeira divisão do Peru e ficou em 10º lugar no Torneio Apertura do país em 2020.
Atropelo vascaíno
O lateral-direito Fagner ainda vestia a camisa do Vasco em 2011 (Foto: AFP) |
Pelas oitavas de final da Sul-Americana, em 2011, o Vasco aplicou uma das maiores goleadas da história da competição: 8 a 3. A vítima foi o Aurora, da Bolívia. Na época, poucos acreditavam em um placar tão largo, principalmente pelo desempenho do clube carioca na partida de ida: 3 a 1 para o Aurora.
Naquele ano, o Vasco comandado por Cristóvão Borges vivia um bom ano, brigando na parte de cima da tabela do Brasileirão e, naturalmente, dividia as atenções da copa continental com a briga pelo Campeonato Brasileiro. O placar foi aberto logo no início do jogo com Bernardo, que logo depois viu o clube boliviano empatar. Mas depois do 2º gol o Vasco não deu chance e atropelou o Aurora engatando 8 a 3, para a alegria da torcida. O Vasco terminaria em 3° lugar na competição.
Quem também se destacou na noite iluminada em São Januário foi Alecsandro, que marcou dois gols e deu uma assistência, além de Juninho Pernambucano. O ídolo do Vasco não havia jogado as partidas anteriores por causa de uma lesão e retornou marcando um gol na goleada histórica. Fernando Prass, Fagner e o volante Allan também faziam parte do elenco do Vasco.
Derrotas para os hermanos
Goiás perdeu nos pênaltis para o Independiente (Foto: Reprodução) |
Nos últimos 10 anos quatro brasileiros chegaram na final da Sula. Em duas dessas decisões, amargaram derrotas para clubes argentinos. A primeira delas foi em 2010, quando o Goiás alcançou sua primeira e única final de um campeonato continental.
A campanha foi animadora: deixou para trás Grêmio, Peñarol, Avaí e Palmeiras e enfrentou o Independiente na decisão. Mas todo torcedor sabe bem que jogar com o Independiente não é bom negócio. Maior campeão da Libertadores, o time argentino também foi campeão da Sul-Americana em cima do Flamengo, em 2017, e na edição atual eliminou o Fortaleza da competição.
Em 2010 o Goiás conseguiu levar a disputa para os pênaltis. Na ida, aqui no Brasil, o Esmeraldino venceu por 2 a 0 e foi com uma boa vantagem para a partida no Estádio Libertadores da América. Mas a pressão argentina em Avellaneda foi maior e, após o 3 a 1, a taça seria decidida nas penalidades.
O time era comandado pelo técnico Arthur Neto, que viu Rafael Moura, Rafael Tolói e Everton Santos converterem para o Goiás. Só que o atacante Felipe, que entrou no decorrer do jogo, mandou a bola na trave. Festa dos argentinos dentro de casa.
O jogo de ida no Moisés Lucarelli terminou 1 a 1 (Foto: Rodrigo Capote / UOL) |
A segunda derrota para os rivais sul-americanos aconteceu três anos depois. Em 2013 a Ponte Preta chegou à final contra o Lanús e, após um empate em casa por 1 a 1 também perdeu o título fora de casa.
A derrota foi por 2 a 0 no dia 11 de dezembro, e os gols da vitória argentina foram marcados por Ayala e Blanco, ambos no primeiro tempo. Além do fim do sonho para a torcida da Ponte, o clube também foi rebaixado no Campeonato Braisileiro.
Eternos campeões
O goleiro Danilo fez história na semifinal contra o San Lorenzo (Foto: Nelson Almeida / AFP) |
Talvez este seja o momento mais simbólico da Copa Sul-Americana. Apesar de todos os fatores citados, a essência do futebol está no respeito pelo adversário e isso não faltou ao final do campeonato em 2016. A caminho de Medellín, o elenco da Chapecoense tinha virado o xodó da torcida brasileira e mesmo os rivais de Santa Catarina torciam pelo sucesso da Chape na decisão contra o Atlético Nacional.
A final não aconteceu por causa do acidente com o avião que conduzia o time da Chapecoense para a Colômbia. O Atlético Nacional, então, decidiu abrir mão do possível título e deixar com a Chape em forma de homenagem.
Antes do luto, porém, com certeza a partida do dia 23 de novembro de 2016 não sai da memória de um bom admirador do futebol. Era a semifinal contra o San Lorenzo, da Argentina, time que tem como torcedor o Papa Francisco, e o empate em 0 a 0 na Arena Condá garantiu o Verdão do Oeste naquela final. A ida tinha sido 1 a 1 e o critério de desempate era o gol marcado fora de casa.
Em um jogo pegado, com 7 cartões amarelos distribuídos pelo árbitro uruguaio Daniel Fedorczuk, a partida também se mostrou equilibrada nos números. Foram 8 chutes para cada lado, 21 faltas cometidas por cada equipe e uma posse de bola de 53% a 47% para os argentinos.
O destaque ficou mesmo para o final. No último lance do jogo, aos 48 minutos do segundo tempo, o atacante Blandi recebe uma bola na pequena área após cobrança de falta e chuta. O goleiro Danilo faz uma defesa impressionante com o pé direito, evita o gol do San Lorenzo e determina a classificação histórica do clube para a final. O lance fica ainda melhor na voz do narrador Deva Pascovicci, do grupo Fox Sports, que cobriu a classificação da Chape e morreu no trágico acidente aéreo que matou outras 70 pessoas, incluindo grande parte da delegação da Chapecoense.
Veja a defesa de Danilo com a narração de Deva
*com orientação do editor Herbem Gramacho