Guerra de espadas tomava ruas de Cruz das Almas em 1979

No primeiro São João da história do CORREIO, elas já estavam lá. Um dos elementos mais marcantes dos festejos juninos em algumas cidades do interior da Bahia, a guerra de espadas foi fotografada em 24 de junho de 1979 na cidade de Cruz das Almas.

A tradição é antiga, coisa de mais de um século, estimam estudiosos. Na imagem, capturada há 41 anos por Sonia Carmo, é evidente a mistura entre diversão e temor, característicos da guerra de espadas: o espadeiro se diverte, sem grande proteção nem medo. Já os vizinhos se dividem entre apreciar o espetáculo e se proteger das fagulhas que saem da espada de bambu. O cachorro, ali encolhido, parece assustado com a barulheira.

Guerra de Espadas em Cruz das Almas no São João de 1979
(Foto: Sonia Carmo/Arquivo CORREIO)

O espetáculo de luzes, no entanto, é um dos maiores encantos da guerra de espadas. O pesquisador Moacir Carvalho, que estudou a importância da guerra justamente em Cruz das Almas, diz em seu artigo ‘Brincando com fogo: origens e transformações da guerra de espadas em Cruz das Almas’ que, possivelmente, a guerra de espadas no Recôncavo seria “o resultado de uma síntese simbólico-material entre motivos militares e religiosos”.

Mas, no local, uma reorientação funcional do objeto teria colocado a guerra de espadas em outro patamar: o lúdico, já que está inserida justamente em festejos – no caso, o do São João.

“Era um fogo de artifício dentre outros e, como fogo de artifício, já compunha em sua origem um quadro de um tipo de experiência excitativa, fundamentalmente noturna e que exigia do tocador algum tipo de competência corporal para se evitar queimaduras e para tornar a experiência esteticamente agradável de se ver e exibir”, escreve Moacir.

Espetáculo de luzes é bonito de se ver, mas provoca atendimentos a queimados todos os anos
(Foto: Sonia Carmo/Arquivo CORREIO)

O espetáculo, sem dúvidas, é bonito de se ver, mas não menos perigoso: todos os anos, o setor de queimados do Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador, recebe dezenas de casos de pessoas feridas durante a guerra de espadas em Cruz das Almas e outros municípios.

A tradição cultural popular chegou a ser proibida pelo Ministério Público Estadual (MP-BA) em 2011, o que não impediu que a brincadeira continuasse a acontecer. Este ano, por conta da pandemia do coronavírus, até mesmo as associações de espadeiros pediram que a atividade fosse suspensa, por segurança.

Mesmo assim, a paixão fez com que alguns fossem às ruas na noite de São João.