‘Gosto de mulher casada’: o que pensam e comentam os talaricos de Salvador
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Desde Capitu e Bentinho, nenhuma suposta traição dividiu tanto o Brasil quanto a protagonizada por Luísa Sonza, Vitão e Whindersson Nunes.
De um lado, tem o time que defende que a cantora estava solteira e, consequentemente, poderia namorar com quem bem entendesse. Do outro, os que supõem que toda essa história não passou de uma grande talaricagem – termo utilizado para descrever a situação onde alguém (talarico) se envolve com a ex de um amigo (talaricado).
Tudo isso porque Vitão, o Escobar da vida real, era amigo próximo dos ex-pombinhos, que terminaram o casamento em abril deste ano. O trio saía junto e fazia brincadeiras entre si. No Instagram, o cantor chegava a comentar “meu casal” em fotos de Lu e Whind.
Já o comediante fazia piadas. Uma delas sugeria que o amigo se juntasse a algum Luiz para abrir a marca “Luiz&Vitão”. Mal sabia ele que nove meses após este trocadilho haveria um Luísa & Vitão, com sua esposa dando vida à dupla.
Vitão é de São Paulo, sede da USP, universidade que em 2016 colocou Salvador como líder nacional no rankink de traição. Sendo assim, conversamos, por aqui, com alguns entusiastas desta prática.
Dentre eles está o publicitário Celso Queiroz*, que ao ser perguntado sobre o tipo de mulher que o atrai, não titubeia: “gosto de mulher casada”.
Ávido pelo perigo, ele defende a teoria de que tudo que é proibido é mais gostoso.
Em seu rol de vítimas, o “Ricardão” tem alguns amigos e até familiares. “Até hoje, nunca fui descoberto”, comemora ele, que não revela a sua “identidade secreta” com medo de represálias.
Apesar de ser pintado como vilão (ou Vitão), ele na verdade se considera um anti-herói, enxergando um lado positivo em seus atos.
“Olha, se as esposas deles dão chifre comigo, significa que elas não são boas o suficiente para eles. Meu trabalho serve também para abrir os olhos deles”, argumenta.
Leandro Cruz*, 28, compartilha do mesmo desdém pelo mandamento de não cobiçar a mulher do próximo. Apesar disso, ele se define como um talarico em reabilitação.
“Teve uma ex de um amigo meu que me procurou como ombro amigo quando estavam passando por uma crise. Mas essa amizade ‘fugiu do controle’ e acabamos namorando por dois meses. O relacionamento só acabou porque bateu a insegurança. Afinal, se ela traiu ele, poderia me trair futuramente também”, ponderou, na época.
Para garantir o sucesso em suas puladas de cerca, Leandro era estratégico. Quando se envolveu com a esposa do vizinho, ficou de conluio com o porteiro, que tinha a missão de o alertar caso o traído chegasse em casa antes do horário previsto.
“E assim aconteceu uma vez. Eu tava lá no ‘bem bom’ com ela quando o porteiro interfonou alertando que o homem tinha entrado no prédio. Precisei sair correndo, e enquanto descia pela escada de emergência, o brother subia pelo elevador”, recorda.
Para explicar sua predileção pelas comprometidas, Leandro acha que o gatilho está na adolescência quando, aos 13 anos, perdeu a virgindade com a mãe de um amigo. “Desde então, eu desenvolvi esse gosto peculiar”.
‘Hiprocrisia’
Já para Lara Aguiar*, conhecida como (ta)Larica, todo esse debate é uma grande hipocrisia. “Quem nunca foi ou quis ser talarico que atire a primeira pedra”, crava.
Uma das vezes em que foi algoz aconteceu quando seus dois melhores amigos estavam namorando.
“Teve um dia em que eu, de repente, acordei apaixonada pelo menino”, narra.
Ela ainda tentou controlar a emoção, mas ao saber que a amiga traiu seu crush platônico, partiu para o ataque e se envolveu no amor proibido. “Foi bom e ruim ao mesmo tempo”, avalia.
Divergências
Em meio aos “teóricos da talaricagem”, há algumas divergências. Alguns defendem a corrente de que o delito só ocorre se envolver amigos. Já outros, mais radicais, afirmam que qualquer traição é talaricagem, mesmo se a/o amante não tiver nenhuma relação com o(a) chifrado(a).
Manual define regras da talaricagem (Foto: Reprodução) |
Ampliando esta definição, surgem também os casos de talaricagem acidental. Pelo menos no início. O estudante Marcelo Cornuta* encontrou com um frete antigo no Carnaval de 2017 e se convidou a ficar no meio da galera dela.
Papo vai, papo vem e decidiram ir até o Porto da Barra tomar um banho de mar de Carnaval. Durante a caminhada, rolou um flashback. “Rapaz, a gente se pegou encostado num daqueles camarotes de PM. Depois do beijo, ela saiu andando mais pra frente, e quando chegamos na praia, me apresentou o namorado”, diz Marcelo aos risos.
A talaricagem seguiu alguns dias depois, quando a dupla se encontrou e foi para os finalmentes.
Hoje contadora, Flávia Ortiz* se meteu numa situação similar. Quando estava fazendo intercâmbio em Portugal, em 2018, deu match no Tinder com um brasileiro, amazonense de nascença.
A conversa fluiu, os dois se encontraram e passaram uma calorosa semana de inverno na capital lusitana.
Depois da primeira vez da dupla, ele contou que estava de casamento marcado aqui no Brasil, que aconteceria três dias depois da partida dele.
Flávia diz que se sentiu mal de início, mas conta que valeu a pena. “Já tinha rolado a primeira, né? Pensei ‘bora nessa, você que se resolva’. Depois do último dia, bloqueou o crush em tudo que era possível e ainda mudou o número do celular só por precaução.
As vítimas
O estudante Jorge Santiago*, 20, tinha um amigo que considerava como irmão. Por conta disso, quando enfrentou uma crise em seu namoro, foi se aconselhar com o brother. O talarico, já vislumbrando a possibilidade da garota ficar solteira, sugeriu que Jorge colocasse um fim na união.
Relacionamento terminado, o trio foi para uma festa junto com outros amigos. Atento, Jorge logo notou um clima diferente entre seu amigo e a ex. “Eles estavam muito próximos”, recorda. Incomodado com a situação, deixou o recinto e foi para casa.
Uma semana depois, mais uma festa. Desta vez ele nem pode avaliar se os dois estavam próximos ou não porque a dupla “misteriosamente” sumiu. Então a ficha caiu: Jorge foi talaricado.
Ele ainda confrontou os dois, que negaram veementemente as acusações. Mas as evidências eram tão claras que, mesmo com a negativa, Jorge não se convenceu.
E o destino provou que o estudante estava certo. O amigo e a ex estavam ficando e estão juntos até hoje. Passado o sofrimento, Jorge hoje brinca com o caso. “Um homem sem chifres é um animal indefeso”.
A professora Juliana Amaral*, 25, também teve uma “amiga de Taubaté”. Após terminar um namoro de anos, ela procurou o ombro da sua “best” para afogar as mágoas.
Duas semanas depois, a criatura apareceu namorando o ex de Juliana. “Eu lá abrindo meu coração, e ela pegando meu boy”, recorda.
‘Foi pra feira, perdeu a cadeira’
Uma coincidência marcava a amizade de Carlos Simões* e Leonardo Bastos*: eles tinham diversas ex-peguetes em comum. Mais curioso ainda era o detalhe que Leonardo sempre beijava as meninas depois de Carlos – que notava este “acaso”, mas não dava muita bola.
O problema aconteceu quando Carlos, que vivia um namoro de 3 anos, foi para um intercâmbio, deixando combinado com a amada que o relacionamento fechado se manteria durante o afastamento.
Com o concorrente do outro lado do oceano, Leonardo enxergou a oportunidade perfeita para agir, escolhendo uma festa de Dia das Bruxas para pôr em prática a sua arte das trevas. Antes do ‘reggae’, Leo ainda mandou um zap dizendo para Carlos ficar despreocupado pois “ele não deixaria ninguém chegar perto dela”.
“E cumpriu sua promessa. Não deixou ninguém chegar nela, só ele”, avalia Carlos.
‘Nossas ficantes’ (Foto: Reprodução) |
Alegando estar bêbado, o jovem se aproximou da namorada do brother para fazer uma abordagem inicial e reconhecer o terreno. Percebendo a maldade no papinho, a menina se afastou, dizendo que não tinha interesse.
Mas o fura-olho foi ardiloso e resolveu apelar para não sair da festinha no 0x0. “Ele começou a inventar mentiras sobre mim, dizendo que eu tinha feito isso e aquilo”, acusa Carlos.
A estratégia funcionou e, irritada com o namorado, que nada tinha feito de errado (em tese), a garota caiu nos braços do talarico.
Porém, como o beijo foi resultado de algo momentâneo, a garota se arrependeu e, quando o sangue baixou, contou toda a história para Carlos.
“O pior foi que ele negou tudo, dizendo que ela tinha inventado a situação para fazer nossa amizade acabar”, lembra o talaricado.
Nome igual, boy igual
Bruna Fernandes*, 23, tinha uma amiga de infância cuja sintonia era tão grande que tinham até o mesmo nome. Elas viviam juntas, frequentavam a casa uma da outra e ficavam grudadas no recreio da escola. Mas nem toda essa ligação foi suficiente para manter de pé a amizade quando um boy surgiu no meio.
No ensino médio, a adolescente engatou um relacionamento com um garoto. O namoro durou um ano e meio – uma minieternidade para quem tem 15 anos. Após terminarem, o trio estava em uma festa do colégio quando, bêbada, Bruna notou alguns olhares estranhos da xará.
Sem entender muito bem a situação, a garota foi alertada por outra colega sobre o que estava acontecendo. “Acabei ouvindo o que temia: minha melhor amiga e meu ex estavam ficando, e a escola inteira sabia, menos eu”.
O baque foi tão grande que, desolada, Bruna precisou trocar de colégio para seguir a vida.
Quem também foi vítima de uma fura-olho infantil foi Alice Alencar*, 22, que viu seu “País das Maravilhas” ruir por causa de uma ‘muy amiga’.
“Meu namoradinho da época foi para um cruzeiro com a família e acabou que, coincidentemente, essa minha amiga também estava junto. Não deu outra, eles acabaram ficando”, lembra ela que, em terra firme, ficou a ver navios.
Mesmo sendo algoz, a ordinária ainda tentou jogar a culpa pra cima de Alice. “Ela ficou dizendo que ele não era minha propriedade e podia fazer o que quisesse. Enquanto isso, eu fiquei chorando”, recorda.
*Todos os nomes dos personagens da matéria foram trocados para preservar as identidades
**Com orientação do editor João Gabriel Galdea. Colaborou o repórter Vinicius Nascimento.