Gabriel Póvoas lança música em homenagem à Jorge Portugal no Sarau do CORREIO

O cantor baiano Gabriel Póvoas, 34 anos, vai lançar uma música inédita no Sarau para Portugal, que acontece neste sábado (8), às 18h, no Instagram do CORREIO (@correio24horas), em homenagem à Jorge Portugal, educador, poeta e compositor baiano morto na última segunda-feira (3).

A canção, que foi batizada de Interlúdio, foi composta um dia depois da morte de Jorge e foi inspirada em uma poesia de Clarissa Macêdo, que também homanegeou o letrista santo-amarense.

Ao CORREIO, Gabriel contou como a composição surgiu. “Eu já venho compondo em cima de poemas há um tempo. Quando Clarissa fez a poesia um dia depois da morte de Jorge, eu pensei em fazer uma canção que homenageasse essa figura tão importante para a Bahia. A gente conversou sobre isso e eu comecei a produzir a canção imaginando que ele quisesse que a sua memória gerasse mais música e mais poesia” conta o cantor, que conheceu Jorge de perto quando ele participou do Sarau da Sílabas, um projeto do cantor.

Sobre o processo de composição, Gabriel disse que, apesar de acontecer em um momento de muita tristeza pela morte do educador, a construção de Interlúdio foi prazerosa por fazê-lo lembrar de tudo que a figura de Jorge representa para ele. “Digamos que eu esteja, de certa forma, acostumado a compor sobre circustâncias tristes da vida. Eu enxergo também de outra perspectiva músicas assim. É mesmo uma homenagem onde eu estou lembrando dele e da sua relação com o bairro de Itapuã. O ato de escrever e tocar a música não propaga tristeza ou qualquer coisa do tipo. É uma lembrança positiva da grande pessoa que é Jorge Portugal”, declara.

O Sarau para Portugal será um momento de poesia e música em homenagem ao educador. Além da apresentação de Gabriel Póvoas, a live, que será exibida no Instagram do CORREIO neste sábado (8), às 18h, vai contar com a colaboração de nomes como João de Moraes Filho, Roberto Mendes, J. Velloso, José Inácio Vieira de Melo, Raimundo Sodré, Marcelo Caetano e Margareth Menezes. 

“Jorge Portugal me inventou. Ele me ensinou que a palavra nao é apenas substantivo, é poesia. Jorge era a palavra do meu canto. Eu estou pela metade. Faço questão de participar desse sarau porque quero que meu amigo permaneça aqui”, disse Roberto Mendes após ser convidado para a transmissão.

Jorge Portugal
Nesta segunda-feira (03), o professor, escritor, poeta e apresentador morreu, aos 63 anos, por falência cardíaca aguda, conforme informado pela assessoria do Hospital Geral Roberto Santos, onde estava internado. 

“O Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) comunica, com pesar, o falecimento de Jorge Portugal, por volta das 20h15 (horário de Brasília), de falência cardíaca aguda. O professor e ex-secretário de Cultura da Bahia estava internado na unidade de terapia intensiva (UTI) cardiovascular da instituição. A diretoria do HGRS apresenta sua solidariedade aos familiares e amigos ao tempo que se coloca em oração”, diz a nota da unidade.

Ele, que completaria 64 anos na próxima quarta-feira (5), foi levado ao local no início da tarde desta segunda-feira (3), pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Só durante o trajeto, ele sofreu quatro paradas cardíacas.

Segundo a assessoria da unidade, Portugal foi admitido “em estado crítico” e estava em coma induzido até o início da noite. Assim que foi admitido no hospital, foi colhido material para teste RT-PCR, exame que identifica o novo coronavírus, o que tem sido uma medida protocolar. 

Além de ter sido professor de muita gente na Bahia, Jorge Portugal era também compositor, poeta e apresentador. Natural de Santo Amaro, no Recôncavo, Portugal era um compositor e letrista aclamado, com parcerias de sucesso com Roberto Mendes, em ‘Só Se Vê Na Bahia’, e com Raimundo Sodré, em ‘A Massa’.

Deixou a Secretaria da Cultura da Bahia em 2017, alegando questões pessoais e profissionais. Na TV, foi o idealizador e apresentador do programa “Aprovado”, exibido na TV Bahia. 

Emotiva ao atender a ligação, sua esposa, Rita Portugal, não pode falar com a reportagem por estar na sala de espera da UTI (Unidade de Terapia Intensiva), onde aguardava mais notícias do marido. “Tô aqui orando”, disse Rita, às 19h50. Menos de 30 minutos depois, veio a notícia de sua morte. 

Homenagens
O educador, que ficou conhecido por obras voltadas para estudos universitários, como o livro Redação é Assim, adotado por cursos pré-vestibulares de Salvador, foi um grande mestre para muitos. Sempre sorridente, Portugal se consolidou como apresentador de televisão ao liderar por nove anos Aprovado, programa educativo voltado para estudantes universitários na TV Bahia.

Entre as letras de sucesso compostas por Jorge Portugal está Só Se Vê Na Bahia, escrita em parceria com Roberto Mendes, e outras composições, que ficaram marcadas nas vozes de Gal Costa, Maria Bethânia e Elba Ramalho, Margareth Menezes, como Vida vã, Filosofia pura e A massa.

“Portugal era um dos maiores letristas da música popular brasileira de todos os tempos. Era uma pessoa apaixonada pela Bahia, por Santo Amaro.”, definiu o cantor e compositor J. Velloso, amigo do músico. “Me tornei compositor muito mais pela convivência com Roberto [Mendes] e Portugal do que por ter nascido em uma família de artista. 

“Presenciei pela primeira vez o que era a criação de uma música através do trabalho dele com Roberto. Foi ali que entendi”, relembra Velloso. “A influência dele em minha música sempre permeia, até quando eu não tenho consciência. Ele tinha uma precisão poética e a Bahia era bem pintada pelas palavras de Portugal. A Bahia vai se empobrecer”, reflete o compositor. 

Depois de ter recebido a notícia que ele tinha sido internado, Velloso disse que a música que mais o lembrava de Portugal no momento era “Assim como ela é”, que foi gravada com Roberto Mendes.

Autoridades
O prefeito de Salvador, ACM Neto, lamentou a perda. Segundo o prefeito, “a Bahia e o Brasil perderam um grande mestre da língua portuguesa, responsável pela formação de milhares de estudantes, a quem generosamente ele entregava os seus conhecimentos para que conseguissem passar no vestibular e entrar na faculdade”.

“É um dia triste para a Bahia e para todo o povo de Santo Amaro, cidade onde nasceu. Jorge Portugal, além de um grande professor da nossa língua, foi também um grande compositor, autor de canções que marcaram a música popular brasileira. Quero manifestar a minha solidariedade aos seus familiares e amigos”, acrescentou ACM Neto.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), decretou luto no estado nesta terça-feira (4). “Imensamente entristecidos, lamentamos a morte do ex-secretário de Cultura do Estado Jorge Portugal. Educador, poeta, compositor, Jorge era um homem de múltiplos talentos, exercidos com a energia e a simpatia que inspirava todos à sua volta. Era, antes de tudo, um homem apaixonado pela Bahia e pelo seu povo que estiveram sempre no centro do seu trabalho, fosse como administrador público, professor e artista. Como diz um dos seus versos: “Uma nação diferente, toda prosa e poesia, tudo isso finalmente, só se vê, só se vê na Bahia”. Nossos sentimentos para seus amigos e familiares por essa grande perda”.

O diretor teatral Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), também lamentou a morte do amigo e lembrou que ele é “um cidadão brasileiro, baiano e Santamarense de responsa, esse sempre foi Jorge Portugal. Impossível falar dele sem um sorriso nos lábios, uma leveza na alma e muita poesia no coração. Portugal ressignificou o ensino com sua excepcional  verve comunicativa e valorizou, como ninguém, nosso jeito de ver o mundo e se relacionar com ele. Com sua partida, as palavras perdem seu brilho e a nossa língua perde um de seus melhores tradutores. Vá em paz grande mestre!”.

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*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco