Frigoríficos criticam ‘demonização’ da atividade por casos de Covid entre funcionários


ABPA, que representa indústria de carne de porco e de frango, afirma que setor teve cuidado com a saúde dos trabalhadores e reclama da ação do Ministério Público do Trabalho. Frigoríficos adotaram medidas de prevenção para tentar evitar o contágio da Covid entre trabalhadores
Divulgação/JBS
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa frigoríficos de carne de porco e de frango, criticou nesta quarta-feira (15) o que chama de “demonização” da atividade por casos de Covid-19 entre funcionários do setor.
“As pessoas não se contaminam nos frigoríficos, não dá para demonizar, e só os frigoríficos estão sendo demonizados”, diz o diretor-executivo da ABPA, Ricardo Santin, durante coletiva de imprensa virtual.
As empresas de carne suína e de frango empregam cerca de 500 mil pessoas, e são poucos os dados que falam sobre a contaminação desses trabalhadores. A ABPA fala que há divergência entre o número de casos confirmados por testes rápidos (de anticorpos) para os moleculares (leia mais abaixo).
A associação diz que o Ministério da Saúde é o responsável por este levantamento. O G1 questionou o governo federal e aguarda retorno.
Medidas de proteção
O presidente da ABPA, Francisco Turra, afirma que as empresas seguem medidas preventivas e de proteção dos funcionários desde o dia 12 de março, antes mesmo da quarentena adotadas pelos estados do país.
“Ninguém nos ensinou, nós tomamos a iniciativa (de medidas de controle). Não há um trabalhador infectado que permaneça na fábrica. Falar que os frigoríficos são foco (de Covid) causa pânico. O vírus não nasceu nos frigoríficos.”
Os frigoríficos são considerados como atividade essencial na pandemia e, portanto, não paralisaram seu funcionamento. Os locais possuem baixas temperaturas e costumam reunir muitos funcionários nas linhas de produção, o que é um risco para o contágio (leia mais abaixo).
Funcionamento evitou sacrifício de animais
A ABPA afirma que, se o setor frigorífico tivesse parado em meio à pandemia, consumidores, por meio da alta dos alimentos, e produtores rurais poderiam ser prejudicados.
A estimativa da entidade é que uma paralisação generalizada poderia causar o abate sanitário, que é aquele em que a carne não pode ser consumida, de mais de 40 milhões de suínos e de 950 milhões de aves, repetindo o que ocorreu nos Estados Unidos.
“Há razões que mostram que precisamos de extrema responsabilidade. Há produtores envolvidos, tem produtos vivos… é diferente do que se fechar uma fábrica de móveis”, diz Turra.
Produção de carne bovina nos Estados Unidos cai 21% em abril por conta do coronavírus
Críticas ao MPT
Os dirigentes criticaram também a atuação do Ministério Público do Trabalho (MPT) em relação às ações contra empresas frigoríficas.
“Houve uma obrigação de se fazer TAC, os Termos de Ajustamento de Conduta com o MP, e poucas não fizeram”, diz Francisco Turra.
Segundo o MPT, até o dia 7 de julho, o MPT fechou TACs com 87 unidades frigoríficas. Aurora, BRF, Marfrig e Minuano são algumas das empresas que assinam o acordo.
Turra afirma também que os testes rápidos, exigência dos TACs, não foram efetivos e geraram divergências nos números de trabalhadores infectados. O G1 já explicou como funcionam os testes rápidos e a eficiência de cada um.
Outra crítica é sobre a cobrança de procuradores do trabalho para que os frigoríficos façam mais do que prevê uma portaria publicada pelo governo federal com medidas destinadas à prevenção e controle da Covid-19 nos frigoríficos e laticínios.
Alguns estados, como Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul fizeram portarias próprias, consideradas pelo MPT mais rígidas em relação à normativa nacional.
“Precisamos de segurança jurídica para ter um fluxo de produção normal. Temos uma regra nacional, que foi criada pelos infectologistas do Ministério da Saúde, pelos veterinários do Ministério da Agricultura e pelos especialistas em segurança do trabalho da Secretária do Trabalho”, diz Ricardo Santin.
“Se o procurador quiser fazer lei, que vire deputado federal”, completa.
Os frigoríficos pedem para que os estados, no caso Paraná e Santa Catarina, revoguem as medidas locais e seja mantida apenas a orientação do governo federal.
O G1 procurou grupo do Ministério Público do Trabalho (MPT) que cuida do acompanhamento da Covid em frigoríficos, para comentar as declarações da ABPA e, até a última atualização deste texto, não houve resposta.
Embargos da China
A ABPA disse que continuam sendo 6 frigoríficos com exportações suspensas pela China. Do total, 4 são de aves e suínos (todas no Rio Grande do Sul) e 2 de carne bovina.
Antes da pandemia, eram 63 unidades de carnes de frango e porco que poderiam vender aos chineses, agora são 57.
“Houve um pedido formal do Ministério da Agricultura para reabrir (mercado) para essas plantas. Óbvio que agora depende da China”, afirma Francisco Turra.
O dirigente cita a boa relação com os chineses e diz que o governo do país asiático realizou duas inspeções virtuais recentemente para autorizar a exportação de mais dois frigoríficos brasileiros.
A pedido da China, empresas de carne do Brasil assinaram termos assumindo a boa procedência da carne, que não tenham relação com a Covid.
O setor reitera que não existem evidências científicas que o vírus pode ser transmitido por meio da carne.
Covid em frigoríficos
Não existe um levantamento nacional sobre casos de coronavírus em frigoríficos. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou em entrevistas que há um estudo interno do governo com essa informação. O G1 pediu acesso ao conteúdo, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.
Os frigoríficos são considerados como atividade essencial na pandemia e, portanto, não paralisaram seu funcionamento. Os locais possuem baixas temperaturas e costumam reunir muitos funcionários nas linhas de produção, o que é um risco para o contágio.
O Brasil possui 446 frigoríficos, segundo dados do Ministério da Agricultura.