Fogo avança na Chapada Diamantina e queima projeto Sempre-Viva em Mucugê

As queimadas iniciadas nesta semana na Chapada Diamantina seguiram avançando ainda nesta sexta-feira (9). O fogo teria partido das imediações do Rio Piabas, no município de Andaraí, e foi em direção à cidade vizinha, Mucugê, a cerca de 78 km de distância. As chamas destruíram parte do Projeto Sempre-Viva, que tem base no Parque Municipal de Mucugê, uma reserva ambiental. A prefeitura ordenou o fechamento do espaço por tempo indeterminado. Fogo e fumaça tomaram a paisagem da Chapada justamente no momento em que os municípios da região reabrem para o turismo. 

Situação do Parque Municipal de Mucugê (Foto: Divulgação/@chapada_diamantina_oficial)

Comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia, o coronel Francisco Telles disse que a situação já está mais controlada em Andaraí, mas as condições climáticas de vento e temperatura têm dificultado o trabalho dos brigadistas. Segundo ele, o incêndio começou na terça-feira (6) e foi se alastrando principalmente porque, além de ser uma área de vasta vegetação, os ventos na Chapada mudam de direção com facilidade, espalhando o fogo. Ainda de acordo com Telles, tudo indica que os incêndios foram provocados por pessoas.

No momento, 33 bombeiros florestais atuam no local em regime de 24h, com apoio de três aviões modelo air tractor, um helicóptero, braços voluntários de brigadas municipais da região, além de equipes do Instituto do Meio Ambiente (Inema) e também do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio). 

O secretário municipal de Turismo de Mucugê, Tiago Profeta, disse que o fogo adentrou na cidade um dia após ter sido iniciado em Andaraí. As chamas já estão seguindo para o Rio Cumbuca, no limite da cidade, o gestor espera que os carros-pipas que têm sido colocados à disposição possam conter o incêndio. Até o momento, as queimadas já consumiram boa parte do parque municipal e o banho na famosa Cachoeira do Tiburtino está proibido.

Um vídeo gravado por uma família, a bordo de um veículo, mosta a situação em uma fazenda de Mucugê. A situação preocupa bastante as crianças que estão no carro, que temem pelo pior, enquanto os adultos tentam acalmar a situação. O condutor desiste de seguir caminho e faz a volta, com receio de que o fogo mais adiante esteja fora de controle. Assista à gravação.

Em nota, a coordenação do Projeto Sempre-Viva, que funciona no parque, descreveu que o fogaréu danificou “irreparavelmente a vegetação e paisagem do entorno do centro de visitantes”. Pousadas e hotéis viram reservas serem canceladas por causa da situação, afirma o secretário, que diz que a opção possível agora é o passeio pelo roteiro de frutas vermelhas. Ainda segundo ele, turistas e donos de casas que têm chegado ou que já se encontravam por lá têm metido a mão para ajudar.

Um destes voluntários foi o estudante Ygor Almeida, 24, que vem apoiando os brigadistas e, mesmo assim, na noite desta sexta viu o fogo a 10 min da sua casa. Ygor conta que na noite de quinta o fogo estava na altura do Alpina e os ventos jogaram as chamas para uma área que não tinha material para queimar, o que ajudou a controlar. 

“Eu estava indo para Mucugê e quando cheguei no meu condomínio, vi uma fumaça gigante. Aí a gente desceu do carro para ajudar, só que o fogo pega muito rápido porque o mato está seco. Quando o vento sopra, o fogo muda de direção. Todo ano tem incêndio por aqui nessa época, mas dessa vez atingiu reservas ambientais. É extremamente doloroso ver o que está acontecendo porque você tem esse lugar aqui como um canto de paz, então a gente se sente impotente. Eu não tenho experiência com isso, batia no fogo e ele ia para outro lado. A gente tenta fazer o que pode, mas o fogo se alastra muito rápido”, desabafa.

Os aviões air tractor fazem entre 10 e 15 lançamentos de sacos de água por dia, segundo estima o comandante do CBM. A corporação informou que enviou à Chapada o seu melhor especialista em incêndios florestais, o capitão Murilo Rocha, que coordena as ações. Os grupos estão fazendo aceiros — uma estratégia de retirada de plantas de uma faixa de terra — para evitar que o fogo passe para áreas de vegetação. Na quinta, uma cobra cascavel que fugia das chamas foi resgatada pela equipe.

Cobra cascavel foi resgatada pelos bombeiros (Foto: Divulgação/CBMBA)

Só neste mês, 486 focos de incêndio foram identificados entre Andaraí, conforme dados de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O coronel Francisco Telles sobrevoará a região neste sábado (10) para decidir se desloca ou não mais efetivo militar para o combate às chamas. Segundo ele, o governo estadual já enviou equipamentos de proteção individual e de controle como luvas e abafadores, que estão sendo distribuídos aos brigadistas locais capacitados pela corporação.

O secretário estadual do Meio Ambiente, João Carlos Oliveira, ressaltou que, até dezembro, teremos altas temperaturas e baixa umidade por aqui. “Estamos alertando a população, pois um fogo iniciado descuidadamente, criminoso ou não, ao encontrar uma condição favorável, se espalha facilmente e torna-se de difícil controle”, advertiu.