FMI negocia novo programa de ajuda à Argentina a partir de novembro
Equipe do fundo se reuniu com autoridades em Buenos Aires para discutir os desafios do país em meio à pandemia de coronavírus. Multidão protesta contra o governo da Argentina em Buenos Aires durante a pandemia, em agosto
Agustin Marcarian/Reuters
O Fundo Monetário Internacional (FMI) enviará outra missão para Buenos Aires, em novembro, com o objetivo de iniciar conversas sobre um novo programa de ajuda para a Argentina, país que enfrenta “desafios excepcionalmente difíceis sem soluções fáceis” — informou a instituição nesta segunda-feira (12).
Uma equipe do fundo se reuniu com autoridades em Buenos Aires de 6 a 11 de outubro para discutir os desafios do país em meio à pandemia de coronavírus — incluindo a bilionária dívida contraída com a organização — e para “trocar opiniões sobre a melhor maneira de abordá-los”, disse o FMI em um comunicado.
“A equipe planeja retornar para Buenos Aires em meados de novembro para iniciar as discussões sobre um novo programa apoiado pelo FMI”, afirma a nota.
No início da missão na semana passada, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, disse que o organismo não chega à Argentina com a proposta de “ser parte de uma solução duradoura”.
O FMI “não tem a intenção de pressionar a Argentina neste momento”, declarou Georgieva à rede CNN.
“Temos muito claro nesta crise que é importante dar apoio às empresas e, o que é mais importante, aos trabalhadores”, completou.
Com uma inflação de mais de 40% em ritmo anual e em recessão desde 2018, a Argentina também viu dispararem os índices de pobreza (40,9%) e de desemprego (13,1%), em meio à pandemia da covid-19. Segundo as projeções do FMI, seu PIB sofrerá uma contração de 9,9% em 2020.
‘Sem solução fácil’
A vice-diretora do Departamento das Américas do FMI, Julie Kozack, e o chefe da Missão para a Argentina, Luis Cubeddu, destacaram o alcance da crise argentina em um comunicado conjunto.
“A Argentina enfrenta dificuldades econômicas e sociais complexas, no contexto de uma crise de saúde sem precedentes. A profunda recessão provocou um aumento dos já elevados níveis de pobreza e desemprego, cujos efeitos são agravados por pressões significativas no mercado cambial”, disseram.
“Esses são desafios excepcionalmente difíceis, sem soluções fáceis. Um conjunto abrangente de políticas pode apoiar a restauração da confiança, mas deve ser devidamente calibrado para fomentar a recuperação econômica e garantir a estabilidade macroeconômica”, observaram.
“Compartilhamos o compromisso das autoridades com políticas que garantam uma consolidação orçamental favorável ao crescimento e, ao mesmo tempo, protejam os mais vulneráveis, permitam uma redução gradual da inflação e estimulem a criação de emprego, o investimento e as exportações”, indicaram.
Kozack e Cubeddu consideraram “produtivas” as reuniões com o governo Alberto Fernández, bem como com congressistas, membros do setor privado, sindicatos e representantes da sociedade civil.
A Argentina tem um acordo em vigor com o FMI de US$ 57 bilhões desde 2018. Desse total, recebeu US$ 44 bilhões em meio a uma crise cambial.
Fernández se recusou a receber o restante do dinheiro quando assumiu o cargo em dezembro passado, enquanto buscava um acordo com credores privados para reestruturar dívidas de mais de 100 bilhões de dólares.
A relação com o FMI foi retomada em 2018, depois de ter sido congelada em 2006, após pagamento de sua dívida com a instituição.
Em discurso na Assembleia Geral da ONU, no mês passado, Fernández disse que as negociações com o Fundo serão abordadas, “com respeito aos compromissos assumidos, evitando, ao mesmo tempo, pôr em risco as condições que permitam a reativação econômica”.