Fim de pausa aumenta prestação da casa própria na Caixa
Depois de 180 dias de pausa no pagamento das prestações de financiamento habitacional na Caixa Econômica Federal, os cidadãos já voltaram a pagar as parcelas de crédito imobiliário. A pausa, que representou um alívio em um momento de aperto financeiro para mais de dois milhões de brasileiros, agora, resulta no aumento do valor pago mensalmente pelos beneficiados já que a quantia dos seis meses sem pagamento foi diluída no quantitativo total do contrato. Quem respirou com a interrupção do pagamento em março, está fazendo as contas e buscando maneiras de quitar as prestações, que podem ser reduzidas em até 75% nesse retorno.
O CORREIO conversou com cidadãos que voltaram a pagar as parcelas para conferir como está sendo o retorno da despesa. Os entrevistados que realizaram o sonho da casa própria alegaram que ainda não estão totalmente recuperados dos prejuízos causados pela pandemia do novo coronavírus, mas que o modelo de retorno e as opções de negociação os permitem quitar as prestações ao passo em que a rotina de mercado em território nacional se adapta ao novo normal em um ambiente ainda pandêmico. Solicitação de redução pode acontecer por aplicativo da Caixa e só a assinatura de novo contrato precisa ser presencial.
Cidadãos não precisam ir até as agências para dar entrada no pedido de redução (Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO) |
Esse é o caso de Alexandra de Souza, 40, que está desempregada e optou por pausar as prestações, mas voltou a pagar com a prestação mais alta, o que, na opinião dela, fez com que o período de pausa não compensasse. “Quando voltou, o preço da prestação aumentou mais de R$ 200, não compensou o tempo que ficamos sem pagar porque já voltou com esse valor alto e a nossa situação não mudou. Porém, não vamos negociar porque precisaríamos pagar juros para isso e só pioraria a nossa situação”, revela.
Outra que volta a lidar com os vencimentos habitacionais após o hiato é Nyedja Cabral, 46. A autônoma aproveitou os seis meses oferecidos pela Caixa para sair do aperto criado pela pandemia. No retorno, ela também teria que arcar com o aumento do valor das prestações, mas se adiantou e optou por alocar os valores das parcelas do período de pandemia no fim do contrato, acertando uma extensão de seis meses com o banco. “Eu negociei com a Caixa para pagar no final. Então, as seis prestações foram jogadas para o fim já que não tinha como arcar com o retorno da parcela e ainda por cima o aumento dela, né. Foi tudo para o fim e conseguimos fazer sem precisar pagar juros”, conta.
Nyedja negociou com a Caixa para não ter que pagar parcelas mais altas na volta (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal) |
Aloísio Moreira, 61, aposentado que, se não fosse a opção de pausa oferecida pela Caixa, também precisou para as prestações para não ficar em situação complicada. “Com a pandemia, minha esposa, que é professora, parou de trabalhar e eu tive que assumir as contas. Os preços das coisas aumentaram muito e não foi fácil lidar com tudo. Se ainda tivesse que pagar o financiamento, a gente ficaria muito apertado. As coisas pararam, mas as contas não deixaram de chegar”, revela o aposentado.
Aloísio afirma que a volta das prestações vai fazê-lo apertar um pouco os cintos, mas a possibilidade de negociação e a volta das oportunidades de trabalho para esposa podem resolver a equação. “É uma despesa considerável, mas agora temos muito mais condições de pagar. Com a flexibilização, minha esposa está dando banca e tirando um dinheirinho. Coisa que não foi possível nos últimos meses. E também tem o fato de que não vamos precisar pagar tudo de vez”, conta Aloísio, que também transferiu as quatro mensalidades em que solicitou pausa para o banco para o fim do contrato de crédito.
Aloísio também precisou transferir as parcelas para o fim do contrato (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal) |
Tem conversa
Através de nota encaminhada, a Caixa informou que os brasileiros têm a opção de reduzir uma porcentagem do valor das parcelas nessa volta. “Os clientes que apresentem dificuldade para pagar integralmente a prestação neste momento de pandemia poderão realizar, por um período, o pagamento de parte da prestação. O cliente poderá optar pelo pagamento de 75% do valor integral da parcela, por seis meses, ou 50% do valor, por um período de três meses”, escreve.
Para o educador financeiro, Ângelo Costa, estamos em um período em que a situação das pessoas está ficando mais clara, os negócios estão voltando e já se pode ter uma ideia da situação empregatícia das pessoas. Mas alerta que nem todos estão nesse momento e que é necessário avaliar com cuidado o cenário na hora de decidir se vai voltar a pagar integralmente ou reduzir o valor das prestações. “Quando há uma crise dessa, o principal objetivo é sobreviver. Foi isso que todo mundo fez nesse tempo. Passaram seis meses e, agora, as coisas começam a ficar mais transparentes. Nesse momento, as pessoas tem um cenário mais sólido para saber qual vai ser o rendimento nos próximos meses e saber qual a melhor forma de voltar a pagar”, diz
O economista Edísio Freire concorda que o cenário atual seja diferente do que o enfrentado em março, momento em que a pausa foi concedida. Porém, na visão dele, temos situações que não se alteraram e o retorno do pagamento ocorre porque o banco não teria mais condições de ampliar a pausa. “De modo geral, o cenário é de fato melhor do que foi em março, quando a suspensão começou. Mas é lógico que não dá pra falar que estamos em uma situação normalizada. Muitas pessoas que perderam renda não recuperaram ainda. Só que a Caixa deu prazo longo para o pagamento dessas parcela, maior do que outros bancos, que deram 60 ou, no máximo, 120 dias para que os cidadãos pagassem as parcelas da época. Então, é claro que chega uma hora que precisa voltar”, declara.
Volta a pagar ou negocia?
Para Edísio, os cidadãos precisam voltar a quitar as parcelas para que não tenham prejuízo ainda maior por conta dos juros no futuro. “Quanto mais tempo você demora a pagar, mas você sofre com os juros no futuros. Quem tem condição, precisa voltar a quitar as prestações porque a inadimplência vai ter uma consequência ruim, mesmo com a país ainda em um cenário de pandemia. Dá pra decidir se opta pela redução dos oferecida por eles. Mas hoje, ou depois, as pessoas vão precisar pagar. Se puder, que seja agora”, orienta.
Ângelo também falou sobre a necessidade de pagamento, mas, na hora de dizer se as pessoas devem optar pela redução, deu orientações distintas para os cidadãos que estão voltando a lidar com a prestação habitacional no dia a dia. “Se a pessoa foi muito afetada e continua com problemas, deve procurar a Caixa para tentar um acordo. Quem foi menos afetado e já começa a ter de volta parte dos rendimentos, mas não sabe se isso se manterá, deve optar por essas reduções de 50% e 25%. Qualquer decisão tem que ser tomada a partir da sua situação atual. É preciso ter cautela para não passar por mais problemas. Para alguns casos mais difíceis, acho que é melhor até transferir essas parcelas para o final do contrato, fazendo uma extensão deste”, aconselha.
O educador acredita que apenas os cidadãos que têm certeza de um fluxo financeiro sólido e contínuo devem retornar pagando a totalidade destes valores. Para ele, não é interessante optar pelo pagamento integral se não há garantias de que o cidadão não vai ficar sem renda durante esse período de recuperação e reabertura comercial. “Os únicos que devem voltar a pagar na totalidade são os que foram pouco afetados e já têm uma perspectiva estável dos rendimentos futuros. Mesmo quem retorna para o trabalho, mas percebe que as coisas estão diferentes e se vê numa posição de instabilidade, deve ver a redução como uma solução necessária”, recomenda.
Como obter redução
Se quiser obter a possibilidade de redução das parcelas na volta das prestações, o cliente nem precisa sair de casa para iniciar o processo. Basta baixar o aplicativo Habitação Caixa, disponível em Android e IOS. No app, o cidadão deve logar com seus dados e clicar na opção de “negociação emergencial”. Após clicar na opção de negociar, é só escolher qual financiamento você pretende reestruturar de acordo com a sua situação atual. É importante lembrar que a reestruturação do contrato só pode ser realizada se o cliente não estiver com parcelas pendentes junto ao banco. A única etapa que precisará da presença do cliente na agência é a de assinatura do contrato renegociado.
Quem não estiver em condição de pagar as parcelas nem mesmo com as reduções oferecidas pela instituição financeira, deve procurar a sua agência da Caixa para saber sobre outras soluções a partir do seu caso.
*Com orientação de Perla Ribeiro.