Fed diz em relatório ver “fragilidades persistentes” para famílias e empresas dos Estados Unidos
A conclusão está no Relatório de Política Monetária semestral enviado pelo Banco Central americano ao Congresso nesta sexta-feira (12). BC dos EUA alerta para danos prolongados do novo coronavírus na economia
O Federal Reserve (Fed) projeta que as finanças das famílias norte-americanas e os balanços das empresas vão sofrer “fragilidades persistentes” como resultado do choque da atividade econômica em decorrência da pandemia do coronavírus.
A conclusão está no Relatório de Política Monetária semestral enviado pelo Banco Central americano ao Congresso nesta sexta-feira (12).
O Fed também delineou uma série de riscos que, na sua avaliação, vão perseguir qualquer recuperação na produção após colapso causado pelas paralisações generalizadas impostas a fim de conter a disseminação do Covid-19.
BC dos EUA mantém juros e vê queda do PIB de 6,5% em 2020 no país
“As tensões para famílias e para balanços de empresas devido a choques econômicos e financeiros desde março provavelmente criarão fragilidades persistentes”, afirma o texto.
O Fed também listou outras preocupações, como perspectiva incerta de contenção do surto e risco de novas de infecções; uma onda de falências de empresas — em especial as pequenas — decorrente do colapso da demanda; uma incerteza sobre a recuperação do consumo por parte dos trabalhadores e pressões negativas sobre salários; entre outras.
Além disso, a recessão causada pelo Covid-19 pesou ainda mais no setor de serviços, que responde por cerca de dois terços da produção econômica dos Estados Unidos, e pode dificultar a recuperação.
“Diferentemente das recessões passadas, a atividade de serviços caiu mais do que a manufatura – reduzindo gastos com viagens, turismo, restaurantes e recreação –, e os requisitos e atitudes de distanciamento social podem pesar ainda mais na recuperação desses setores”, afirma o relatório.
O Fed disse que o impacto da pandemia no mercado de trabalho foi “repentino, severo e generalizado”, mas apontou que as perdas de emprego afetaram desproporcionalmente trabalhadores de baixos salários, que podem estar menos preparados para um longo período sem remuneração.
Outra observação foi de que governos estaduais e locais estão sob “estresse significativo” depois de enfrentarem queda acentuada nas receitas. Governos estaduais e locais continuaram a fechar empregos em maio, mesmo com a economia geral criando postos de emprego. Trata-se de uma sinalização de que o pior da perda de empregos relacionada ao coronavírus pode ter passado.
A divulgação do relatório do Fed – que precede dois dias de depoimentos ao Congresso pelo presidente do Fed, Jerome Powell, na terça e quarta-feira da semana que vem – ocorreu dois dias após o fim de sua última reunião de política monetária.
Na reunião, o Banco Central sinalizou que a economia dos Estados Unidos enfrenta uma recuperação árdua e incerta ante a recessão desencadeada pela pandemia de coronavírus. “É um longo caminho. Vai levar algum tempo”, disse Jerome Powell, em entrevista coletiva via webcast após a reunião.
Fed afrouxa condições de empréstimo e pede a bancos que comecem a liberar crédito
Em suas projeções econômicas divulgadas na quarta-feira (10), as primeiras desde dezembro, os formuladores de política monetária do Fed previram encolhimento da economia a uma taxa anualizada de 6,5% em 2020 e taxa de desemprego de 9,3% ao fim do ano.
O resultado fica abaixo do nível de 13,3% de maio, porém mais de duas vezes e meia superior à taxa de fevereiro (3,5%), quando uma expansão econômica recorde foi interrompida abruptamente em razão da pandemia.
Essa avaliação sombria da perspectiva ofuscou grande parte do otimismo em relação a uma rápida recuperação econômica – que havia sido desencadeado pelo crescimento do emprego em maio – e foi responsável pela dramática liquidação de quinta-feira (11) em Wall Street, quando as ações norte-americanas sofreram a maior queda desde março.