‘Exijo uma live com Gal cantando em paz!’, clama Fernando Guerreiro
A nossa musa maior, Fatal, Legal, Tigresa, Índia, Plural, Estratosferica quase foi massacrada por uma equipe despreparada na live comemorativa de suas 75 primaveras.
Fato histórico, feito único, nossa musa continua cantando lindamente, arriscando em repertórios novos aos 75 anos. Podemos falar de 75 gravações memoráveis, em 75 ousadias, em 75 audições repetidas de clássicos como India, Objeto Não Identificado e recentemente a pop O Que Que Há, que Gracinha encheu de significados novos.
Mas vamos ao desastrado evento da noite de sábado. Começa, percebo Graça nervosa, pouco a vontade, num cenário escuro, cheio de fumaça, com um figurino horrendo. Tudo bem, ela continua cantando lindamente, com um trio de músicos excepcionais. Alívio!
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De repente ouço uma voz feminina fazendo perguntas soltas e obrigando a intérprete a se deslocar por um espaço cheio de altos e baixos, mal iluminado, para ver depoimentos projetados na parede do prédio vizinho. Não caiu, alívio! Volta a cantar lindamente, tensa, dedos retesados no microfone, retorno com problemas, ainda assim nossa musa sorri e continua cantando lindamente.
O calor é infernal, a iluminação inadequada e mais uma vez ela é obrigada a se mover de um lado para o outro, para mostrar a beleza do espaço. Quero lá saber de espaço, de projeções mirabolantes, de efeitos especiais….quero Maria das Graças cantando, e só.
É o suficiente e o que se espera de uma senhora digna de 75 anos, que já subiu em telhado cenográfico, já fez a capa mais ousada da MPB, segurou a onda quando Gil e Caetano foram exilados, gravou um trabalho arriscado e conceitual aos 65, mostrou os peitos no palco, foi musa dos transformistas com sua Gal Tropical …..chega!
Agora ela só precisa cantar, com um ouvido e uma voz únicos na MPB. Chega…Exigo uma live decente, com Gal cantando… e só!
*Guerreiro é colunista do CORREIO e diretor teatral