Estudantes fazem teste para covid-19 gratuitamente no Subúrbio de Salvador

Maioria dos professores foi no início da manhã para evitar aglomeração

O estudante do ensino médio Deivison Tavares, 18 anos, acordou cedo nesta segunda-feira (31). Tomou um banho, engoliu o café da manhã, vestiu camisa e calça jeans e foi para a escola. Uma rotina que ele não vivia desde março e da qual sentia falta, só que ainda não foi dessa vez que ele matou a saudade das aulas. O jovem foi um dos 400 alunos convocados para fazer o teste gratuito para covid-19, em Salvador. 

A iniciativa é do governo estadual e já aconteceu em outras seis cidades da Bahia. Na capital, o Colégio Estadual Raymundo Matta, no bairro do Lobato, no Subúrbio Ferroviário, foi o primeiro a oferecer esse serviço. O cronograma vai atender 10 mil estudantes e 12 escolas até o dia 23 de setembro. Deivison gostou da ideia. 

“É uma ação necessária para a nossa segurança, dos professores e de toda a escola. Antes de voltar às aulas é preciso saber como a nossa saúde está. Alguns não têm sintomas e não têm condições de fazer os testes por falta de recursos financeiros, então, oferecer o exame gratuitamente é muito bom”, disse.

Ele soube da ação através dos grupos de WhatsApp da escola. Chegou na unidade por volta das 8h30, e antes de entrar precisou higienizar as mãos e medir a temperatura. Um funcionário da escola está fazendo esse serviço. Em seguida, aguardou para fazer a identificação e depois caminhou para a sala onde está sendo feito o exame. Toda a operação durou cerca de 1h30.

Equipe aguarda pelo próximo paciente (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

O diretor da unidade, Antônio Augusto Costa, contou que a convocação dos estudantes aconteceu através da rádio comunitária do Lobato e de grupos nas redes sociais. Nesta segunda-feira, estão sendo atendidos apenas alunos, professores e servidores da escola. Cerca de 400 pessoas. Na terça e na quarta-feira, será a vez dos discentes, docentes e funcionários dos colégios Ailton Pinto de Andrade e Dalva Matos, respectivamente. 

“Serão 500 testes por dia, que é a quantidade de alunos, professores e funcionários de cada uma dessas escolas. Essa ação é importante porque o Lobato está em uma região com alto índice de contaminação e essa é uma forma de ver como estão nossos alunos, professores e funcionários. É uma forma de preservar vidas. Queremos voltar, mas com segurança”, disse. 

Testes são do tipo PCR, não usam agulhas (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

Agulha ou cotonete
No primeiro dia em que voltaram a pisar na escola depois da paralisação das aulas, os adolescentes aproveitaram para tirar sarro dos colegas que estavam com medo de fazer o teste. A maioria confessou que estava com receio da agulha, mas ficaram mais tranquilos ao saber que isso não seria necessário. 

O exame que está sendo realizado é do tipo PCR, que usa um cotonete no nariz. O método é mais seguro, mas nem por isso menos incômodo. Jeferson Vitor Bispo, 18, saiu da sala com os olhos lacrimejando. “É uma agonia porque o cotonete vai bem fundo. Eu tive que segurar a vontade de espirrar”, contou, enquanto enxugava as lágrimas. 

Para a trabalhadora autônoma Rovanilda Silva, 47, o teste foi um alívio. A filha dela, Larissa Silva, 20, não estava se sentindo bem nos últimos dias e essas foi a primeira vez em que a jovem fez o exame. 

“Lá em casa somos três, eu, ela e meu filho, ninguém tinha apresentado sintomas ainda. Mas na casa de minha mãe, ela e meus dois irmãos tiveram perda de olfato e paladar, mas quando procuram o posto de saúde eles já estavam com a temperatura normal e tinham melhorado os sintomas. O pessoal do posto não fez o teste”, disse. 

O exame de Larissa e dos outros estudantes está sendo analisado pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) e o resultado será enviado por mensagem de celular em alguns dias, mas a jovem contou que já está se sentindo melhor por outro motivo. “Pensei que eles iam furar meu dedo, mas a moça explicou que não, que o teste com o cotonete é mais eficiente que o de sangue. Ainda bem”, desabafou. 

Jeferson Vitor lacrimejou durante o exame e controlou a vontade de espirrar (Foto: Gil Santos/ CORREIO)

Primeira fase
A testagem dos estudantes e professores faz parte dos protocolos que vem sendo realizados pela Secretaria da Educação do Estado (SEC) para a retomada das aulas, mesmo sem a data de retorno ainda definida e já aconteceu em seis municípios da Bahia: Ipiaú, Itajuípe, Itabuna, Ilhéus, Uruçuca e Jequié.

O superintendente da SEC, Helder Amorim, contou que estão sendo priorizados os municípios com altos índices de contaminação, e que os resultados têm sido similares as taxas de casos de casa cidade. Em Salvador, a ação começou pelo Subúrbio Ferroviário pelo mesmo motivo. Nessa primeira etapa, serão 12 escolas estaduais e 11.103 pessoas testadas, sendo 10.392 estudantes, 224 funcionários e 487 professores. 

“A testagem é importante porque conseguimos compreender como essa contaminação acontece dentro da comunidade escolar. A gente sempre tem dados de como isso acontece na sociedade, mas como isso acontece com estudantes, professores e funcionários são essas testagens que nos dirão. Isso ajuda o sistema de saúde a se planejar e a SEC a pensar um modelo de escola que possa ajudar a dar segurança à comunidade escolar”, disse .

Os exames acontecerão de forma centralizada nas escolas, denominadas de polos, nos bairros do Lobato, São João do Cabrito, Plataforma, Itacaranha e Alto da Terezinha. O objetivo é facilitar a ida dos estudantes, professores e funcionários para as unidades nos bairros onde estudam ou trabalham. 

O serviço acontece sempre das 8h às 12 e das 14 às 18 horas. Cada escola terá um dia para a testagem e cada gestão convocará a comunidade escolar. O objetivo é evitar aglomerações. Na segunda etapa serão 16 escolas e mais 19 mil pessoas testadas. Ela está prevista para começar no final de setembro. Outras áreas de Salvador não estão descartadas de serem testadas. 

Confira o calendário de aplicação: 
Segunda-feira (31)
– Colégio Estadual Raymundo Matta, no Lobato. 
Terça-feira (1º) – Colégio Estadual Raymundo Matta testa alunos, professores e servidores do Colégio Estadual Doutor Ailton Pinto de Andrade;
Quarta-feira (2) – Colégio Estadual Raymundo Matta testa alunos, professores e servidores do Colégio Estadual Dalva da Matos; 
Quinta-feira (3) – Testagem de estudantes, professores e funcionários do Colégio Estadual Tereza Helena Mata Pires, no Alto do Cabrito, na própria unidade escolar.
Nos dias 4 e 8 de setembro – Será feita a testagem da comunidade escolar do CPM do Lobato, na própria unidade escolar.
No dia 9 de setembro – Será realizada a testagem da comunidade escolar do Colégio Estadual Aristides de Souza, escola-polo de São João do Cabrito e Plataforma. 
Nos dias 10 e 11 de setembro – Colégio Estadual Aristides de Souza sediará a testagem da comunidade escolar do Bertholdo Cirilo;
No dia 14 de setembro – Colégio Estadual Aristides de Souza sediará a testagem da comunidade escolar do Colégio Estadual de Plataforma;  
Nos dias  15, 16 e 17 de setembro – Colégio Estadual Clériston Andrade será polo para os bairros de Itacaranha e Plataforma e testará a sua própria comunidade escolar; 
No dia 18 de setembro – Colégio Estadual Clériston Andrade será sede para a comunidade escolar do Colégio Estadual Josias de Almeida Melo; 
No dia 21 de setembro – Colégio Estadual Clériston Andrade será sede para a comunidade escolar do Colégio Estadual Luiz Rogério de Souza.
Nos dias 22 e 23 de setembro – Colégio Estadual Sara Violeta, no Alto da Terezinha, haverá testagem para a sua própria comunidade escolar.