Escolas iniciam matrículas para 2021; previsão é que ensino híbrido dure até junho
Outubro é o mês em que, tradicionalmente, começa a temporada de matrículas escolares, quando mães e pais renovam a inscrição de seus filhos ou saem em busca de novas escolas. Neste ano, mesmo sem definição de quando haverá o retorno das aulas presenciais, muitas instituições de ensino de Salvador e Lauro de Freitas já começaram a matricular os alunos para 2021, prioritariamente de forma online, enquanto fazem os últimos ajustes dos protocolos sanitários para o ano que vem.
No último sábado (3), o CORREIO mostrou que a gestão municipal já definiu o modelo de retorno das aulas – faculdades primeiro, escolas depois. A expectativa de alguns gestores de escolas ouvidos pela reportagem é de que as atividades presenciais retornem em novembro. Contudo, tudo depende do aval da prefeitura e do governo do estado. Até lá, a maioria das instituições de ensino se preparam para os dois cenários: a manutenção do ensino remoto ou o presencial – com certas limitações – e também apostam no ensino híbrido, mesclando as duas modalidades.
A rede do Colégio Nossa Senhora do Resgate, que fica nos bairros de Brotas, Cabula e São Lázaro, e o colégio Montessoriano, na Boca do Rio, estão renovando primeiramente as matrículas para os alunos que são da casa. A estrutura das escolas já foi adaptada com dispensers de álcool em gel, sinalizações para manter o distanciamento mínimo de 1,5m e tapetes sanitizantes. Mesmo com a liberação dos governos, eles pretendem manter algumas atividades remotas.
“Estamos nos preparando para os dois modelos: híbrido, transmitindo as aulas simultaneamente, ou presencial. A maioria das famílias quer que seja mantido o ensino remoto, mas nós temos que oferecer as duas opções, com o ok dos governos”, disse o diretor geral dos Colégios Nossa Senhora do Resgate, Sérgio Pires. Ele informou ainda que a equipe de professores está passando por um treinamento para se adaptar a esse novo formato.
São mais de 2 mil alunos nas três unidades, que atendem da educação infantil até o ensino médio. Pires disse ainda que a escola “está com saudade do aluno” e não vê a hora de recebê-los novamente. “Quem dá vida à escola é o aluno, sem eles, vira um prédio morto”, desabafa.
Colégio Nossa Senhora do Resgate já se adaptou aos protocolos sanitários (Foto: Divulgação) |
No Montessoriano, a expectativa é que as aulas continuem no online, pelo menos até o final do ano. Segundo a diretora da escola, Lúcia Matos, foi feita uma pesquisa com as 950 famílias dos estudantes e apenas 14% dentre os 580 que responderam desejam o retorno das aulas presenciais em 2020.
“É um público bem restrito, a gente pensa que seria melhor a manutenção. Mas se tiver demanda para fazer o ensino híbrido, não seria problema e nenhuma família ficará sem atendimento”, explicou Matos. A rematrícula está aberta de 14 de outubro a 30 de novembro, com descontos para quem pagar as primeiras parcelas adiantadas. Os valores das mensalidades não foram ajustados para o ano que vem. Bebedouros com acionamento de pedal foram instalados e as salas de aula estão com as mesas mais espaçadas.
Redisposição das carteiras dos alunos na escola Montessoriano (Foto: Divulgação) |
Não querer o ensino presencial é o posicionamento da maioria dos pais de alunos de escolas particulares de Salvador e Lauro de Freitas, de acordo com uma pesquisa feita pelo Grupo de Valorização da Educação (GVE), que reúne mais de 60 instituições de ensino nas duas cidades. “O índice de retorno era muito baixo, cerca de 30%. Ele tem aumentado em torno de 15%, mas a maioria prefere não retornar. Mas a decisão não é nossa, é do governo, e só podemos voltar com a maior segurança possível”, disse o porta-voz do GVE e diretor do grupo Perfil, Wilson Abdon.
Apesar da maioria das matrículas estarem sendo de forma virtual, o atendimento presencial, por hora marcada, já é possível em Lauro de Freitas é possível desde a semana passada. A expectativa, se o ensino for híbrido, é que cada escola adote um modelo diferente, com um escalonamento gradativo, isto é, 50% dos alunos irão à escola num primeiro momento, depois 70%, até se chegar ao contingente total.
O Colégio Educacional Maria José, em Pernambués, não deu detalhes sobre o planejamento, que já está pronto, mas informou que as matrículas serão abertas a partir deste mês. Já o Colégio Nossa Senhora Conceição, em Brotas, não definiu valores para o próximo ano letivo, pois espera as diretrizes do Conselho Estadual de Educação. O mais provável é a hibridização do ensino. Na Escola Ribeiro de Araújo, na Plataforma, os gestores aguardam um posicionamento da prefeitura junto ao Sinepe (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado da Bahia) para poder iniciar o processo de matrículas.
Protocolos
Sem bebedouro compartilhado, sem o baba no intervalo, sem todos os alunos na sala. Com entradas diferentes, câmeras na sala. Essa deve ser a nova realidade na maior parte das escolas particulares para 2021. “Todas as rotinas foram revisitadas”, contou Viviane Brito, CEO do Villa Campus de Educação, na Avenida Paralela. O infectologista Roberto Badaró, que também é diretor do Hospital Espanhol, unidade de saúde exclusiva para atender doentes da covid-19, assessorou a elaboração do protocolo da escola.
Lá, houve marcações no chão para relembrar o distanciamento de um metro e meio entre as pessoas, potes de álcool em gel foram fixados no chão e lavatórios distribuídos e máscaras serão obrigatórias. Mas as mudanças se estendem a toda rotina no próximo ano. O ensino também tende a ser híbrido e haverá rodízio entre os alunos para respeitar o distanciamento – uns irão terça e quinta e outros segunda e quarta, depende da quantidade da turma.
Todos os alunos ficarão, pelo menos uma vez por semana, na escola. As salas também foram equipadas com câmera, caixas de som e microfone para que, de casa, os alunos possam acompanhar as aulas. “O que a gente acredita é que muitas famílias vão voltar, mas outras vão esperar até a vacina chegar”, disse Viviane, que diz que a escola está pronta para o retorno a qualquer momento.
Nem todos os pais decidiram quanto ao futuro escolar dos filhos – principalmente se os filhos retornarão, em 2021, sem uma vacina. O administrador André Lima, 41, ainda tem dúvidas quanto a deixar, ou não, as duas filhas, alunas de um colégio particular, voltarem às atividades presenciais. “Acho que vamos esperar um pouco antes do retorno total. Ver como será o comportamento, como será na prática, até lá continua como estão, estudando de casa”, opinou.
As rotinas
Os protocolos foram criados pelas próprias escolas, com orientação de infectologistas e com base em recomendações científicas internacionais, mas pode passar por alterações de acordo com o determinado pela prefeitura e pelo Governo do Estado da Bahia. O plano mostrado pelo CORREIO, no sábado, estabelece redução no número de alunos por cada turma e escalonamento de horários e escolas, como já previam as instituições em seus respectivos estudos para a retomada.
A ideia, segundo detalhou Bruno Barral, secretário municipal de Educação, é que, quando reabrirem as escolas, primeiro sejam liberadas as unidades do Ensino Médio, depois o Ensino Fundamental e, por último, a Educação Infantil – provavelmente a partir de 2021. “No início do próximo ano letivo, os pais ainda assim vão poder escolher se vão ou não para o presencial. Nossa ocupação deve ser em torno de 15 crianças por sala”, acredita Márcia Schwartz, diretora da Acbeu Maple Bear Canadian School.
As aulas serão gravadas e os alunos poderão assistir, ao vivo, em casa. Tudo que não é lavável será evitado e o digital será sempre a primeira escolha. A biblioteca ficará fechada, justamente por isso. Os professores, coordenadores e diretores sabem que o retorno deve ser acompanhado de um acompanhamento muito próximo dos alunos, que precisarão, na verdade, se readaptar a antiga rotina, mas de uma nova forma.
“A gente planejou também o acolhimento com equipe de psicologia, já estamos passando para treinar em casa, dia a dia, é uma nova rotina, uma nova maneira de viver”, complementou.
As aulas de educação física, por exemplo, foram reformuladas, e os encontros em grupos – para jogos na quadra, durante o intervalo, por exemplo – serão proibidos. O professor, diretor operacional da DOM e consultor da Unesco para alfabetização, Tony Lima, diz que as atividades serão transformadas, mas continuarão existindo.
“Estamos tentando entender como se faz isso, porque boa parte das experiências vem pelo contato e a educação física, além de ser indicada a saúde, também traz isso”. Os bebedouros coletivos também serão banidos. “É um possível espaço aglutinador de contaminação”, explicou Tony.
O ensino híbrido ainda não é regulamentado pelo Ministério da Educação, apenas em cursos técnicos, mas os gestores acreditam que é possível haver uma mudança nesse sentido. No caso das três escolas – Villa, Maple Bear e DOM – será possível escolher a modalidade de ensino. As mudanças devem valer para os futuros cuidados com a higiene, mesmo com uma possível vacina no horizonte. “Eu acho que isso é algo que veio para ficar, que se tiver resfriado, qualquer coisa, os pais avisem”, concluiu Tony.
Conselho Estadual de Educação aconselha se preparar para os dois cenários
O presidente do Conselho Estadual de Educação, Paulo Gabriel Nacif, explicou que as escolas têm autonomia para manter as atividades remotas. “Enquanto perdurar a pandemia, nós temos uma resolução que determina que a escola pode adotar o modelo remoto. Nada impede que a matrícula para o ano que vem adote os mesmo moldes”, afirmou.
A resolução, publicada em março, estabeleceu uma flexibilização do cumprimento dos 200 dias letivos para as escolas. Para este ano, é necessário apenas cumprir a obrigação das 800 horas. O presidente disse que vai avaliar com o conselho nacional como será a configuração das aulas para o ano que vem, mas que incentiva que as escolas já comecem a se planejar com as famílias dos alunos. “A gente incentiva que esse processo seja o mais regular possível e que as escolas se preparem para os dois cenários. É muito provável que o primeiro semestre ocorra com mais atividades remotas e híbridas, mais do que as presenciais”, prevê Nacif.
*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro