Escolas apostam em unidades na Linha Verde após migração de famílias para a região
Os apartamentos ficaram pequenos para a rotina diária de isolamento com crianças. Famílias de médio e alto poder aquisitivo buscaram mais espaço para passar o período de pandemia e migraram de Salvador para suas casas de veraneio no Litoral Norte da Bahia. O movimento fez crescer ainda mais a demanda por instituições de ensino na região e duas grandes escolas estão apostando em unidades por lá: o Villa Global, que inaugurou uma filial, e a canadense Maple Bear, já no local desde o ano passado. Uma terceira escola, a Gurilândia, também estuda se instalar na região.
Embora a volta às aulas presenciais ainda não tenha sido liberada, as instituições de ensino já se preparam para esse retorno. CEO do Villa Global Education, Viviane Brito conta que a ideia de abrir uma unidade na Linha Verde já vinha sendo estudada antes do cenário atual. As obras foram iniciadas após o Carnaval, e mesmo com a suspensão das aulas, os pedidos de matrícula não pararam.
“Houve um movimento migratório acentuado para essa região, acredito que as pessoas repensaram as vidas, especialmente aquelas que têm crianças pequenas, que estavam em locais trancados e apertados como são os apartamentos de hoje em dia. A gente vive uma mudança civilizatória sem precedentes, os territórios estão mudando de lugar. Em maio, junho, o volume de pessoas que nos procuraram era muito grande, elas começaram a mandar mensagem para o institucional do colégio solicitando, perguntando, falando o quanto era importante ter um colégio ali”, conta ela.
A CEO relata que a diretora do campus Litoral Norte está se mudando para a região para acompanhar mais de perto a nova escola, e tem enfrentado dificuldades para encontrar um imóvel para morar justamente por causa da grande migração. Quando a pandemia foi decretada, o colégio chegou a pensar em suspender o projeto na região, mas os pedidos de famílias fizeram a construção voltar a todo vapor para atender essa demanda futura.
Quando a pandemia foi decretada, o colégio chegou a pensar em suspender o projeto na região, mas as solicitações fizeram. “A gente ainda não fez mídia sobre a abertura de matrículas na unidade e temos diariamente, pelo menos, três a quatro entrevistas com pais. Não estamos dando conta”, diz Viviane.
Destino turístico e moradia
Morando há cinco anos em Mata de São João, o empresário Luciano Mandelli, 47, relata que a região até tem boas escolas que atendem à primeira infância, mas ainda não há opções por lá que vão muito além disso, o que, ao seu ver, dificulta a consolidação do destino como um local de moradia. “Causa um transtorno porque você acaba tendo que mudar toda a sua vida de novo, voltar para Salvador”,opina.
Nesta primeira etapa de implantação, o novo campus do Villa, localizado na região do Busca Vida, terá capacidade para 1,3 mil alunos, com oferta de ensino da educação infantil ao ensino médio, com opção bilíngue. A unidade está com seleção aberta para contratação de professores que irão compor o quadro. Para Luciano, a chegada do Villa foi “uma grande sacada”: “O Villa trouxe uma possibilidade real de se morar no litoral e os filhos terem uma educação num nível bacana”.
Diretor da Gurilândia International School, Márcio Teixeira lembra que a instituição acaba de abrir uma filial na Av. Magalhães Neto, na Pituba, e agora tem feito estudos preliminares para a abertura de uma unidade na região da Linha Verde, com foco na Praia do Forte.
“É embrionário, estamos em fase de pesquisa, análise inicial mesmo. De fato, a pandemia fez muitas pessoas optarem por morar no Litoral Norte e uma deficiência que existe é escola. No mercado, existem escolas até Busca Vida, que são a Maple e agora o Villa, mas em Guarajuba, Praia do Forte até tem boas escolas locais, mas nenhuma escola de grande porte”, observa.
‘Pioneira’
Pertencente ao grupo Acbeu, a escola canadense Maple Bear, de metodologia bilíngue, foi a primeira que seguiu rumo ao no Litoral Norte. Prevendo a expansão imobiliária naquela direção, a instituição chegou por lá no início do ano passado, também em Busca Vida, com oito salas de aula, voltadas primeiramente para crianças de 2 a 4 anos. A escola está em fase de implantação de turmas de até 5 anos, com uma meta de abertura progressiva, até chegar ao ensino médio, previsto para ser ofertado em 2029.
Com grandes salas de aula, a Maple Bear já se prepara com protocolos para a volta às aulas presenciais (Foto: Divulgação/Acbeu) |
Para a instituição, a pandemia “acentuou e acelerou” o processo de ida de escolas para a região e já há um crescimento da busca pela pré-matrícula, aberta a partir de outubro.“Quando me mudei para a capital baiana, há 40 anos, a Pituba era uma área de veraneio, então a gente sabia que existia esse movimento geográfico e achamos melhor partir para o Litoral Norte, fomos pioneiros nesse sentido”, explica Athiná Leite, superintendente do Acbeu.
Diretor do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino da Bahia e fundador da Rede Miró de colégios, Jorge Tadeu Coelho enxerga que houve uma interiorização dos serviços, potencializada pela chegada do metrô na capital. Segundo ele, Salvador tem cerca de 700 escolas particulares e o ano difícil fez com que as escolas menores, sem capital de giro para se manter, se vissem em dificuldades, o que acabou abrindo ainda “mais espaço para as instituições mais profissionalizadas”.