Empresa mineira tem 62 funcionários com covid-19 em Macarani, no sudoeste Bahia

No sudoeste da Bahia, a cidade de Macarani – que tem 18 mil habitantes – teve um aumento súbito no número de casos do novo coronavírus na última semana: o total saltou de 10 para 79 de sábado para esta sexta-feira (26). Destes 69 novos casos, 62 são funcionários de uma empresa mineira de transmissão de energia elétrica, a Tabocas. A 40 km dali, na cidade de Bandeira (MG), 136 trabalhadores da mesma empresa também testaram positivo para a doença na semana passada.
Após os episódios, o prefeito de Macarani, Miller Ferraz (PMDB), entrou com uma ação no Ministério Público da Bahia (MP-BA) para tentar responsabilizar a empresa e fazer com que ela faça uma testagem em massa da população. O MP pediu, então, nesta sexta-feira (26), a abertura de um inquérito policial à Delegacia de Macarani para que se investigue se houve ou não crime contra a saúde pública, pois a Tabocas já teve funcionários infectados em outros municípios da região e pode ter causado um foco de contaminação da doença.
O primeiro caso de trabalhadores da empresa de energia infectados com o vírus foi na semana passada, em Bandeira (MG), que fica a 40 km de Macarani. Dos 148 casos confirmados, 136 são trabalhadores da Tabocas, como foi informado pela Prefeitura de Bandeira. Quando o prefeito Miller Ferraz soube que havia contaminados no alojamento da cidade vizinha, ele exigiu que a firma testasse também todos os funcionários da cidade baiana.
“Quando a gente tomou conhecimento, eu me reuni com o diretor da empresa e exigi que ele fizesse a testagem nos dois alojamentos em Macarani”, explicou o prefeito. Dos 62 operários que testaram positivo (94 foram testados), dois deles são moradores do município do sudoeste baiano. Como quase todos estão assintomáticos ou com sintomas leves, eles cumprem a quarentena em alojamentos.
Isolamento
O prefeito de Macarani informou que visitou os alojamentos e que eles “não são adequados” para cumprir o isolamento social, pois ficam muitos infectados no mesmo quarto – uns têm de 4 a 5 beliches. Os funcionários infectados estão divididos entre uma casa alugada na cidade e a pousada Nossa Senhora- a empresa alugou os três apartamentos do 2º andar do estabelecimento.
Cada apartamento contém de 2 a 3 quartos, e cada um deles abriga 4 a 5 pessoas. No andar de baixo, moram três famílias. Segundo a dona da pousada, Zenilsa, a empresa está “transitando” na cidade há 8 anos e em janeiro passaram a alugar seu estabelecimento para alojar as equipes da firma.
Uma vizinha da pousada Nossa Senhora, que não quis se identificar, se mostra apreensiva com a descoberta dos novos casos na cidade. “Todos fomos pegos de surpresa e é um susto, porque é uma quantidade muito grande de infectados, que são pessoas que vieram trabalhar aqui. Macarani toda está alarmada e eu só saio de casa por extrema necessidade”, disse.
Contaminação em cadeia
O grande problema é que esses funcionários tiveram contato direto com a população local. “Nós temos informação de que 100 moradores tiveram contato direto com esses funcionários. Eles criaram um vínculo, fizeram amizade. E nós temos que lembrar que essas pessoas têm famílias, ou seja, esse número deve se elevar e pode ter um aumento muito significativo”, informou o secretário de saúde de Macarani, Gerson Ferraz.
O secretário também disse que está mapeando e monitorando todos os contactantes, mas que não há como fazer o teste em todo mundo e ter a real dimensão do contágio.
Até então, o município recebeu 600 testes rápidos pela Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), mas quase 500 já foram usados. O prefeito informou que foram comprados mais 300 pelo orçamento municipal – por R$79 cada – e que deverão chegar até a próxima terça-feira (30). Entretanto, o número não é suficiente.
“Nós estávamos preparados antes dos casos da Tabocas, só tínhamos 10 casos. Estava sob controle e agora não, porque o número de contactantes aumentou muito”, desabafa o prefeito Miller.
Medidas
Após o episódio, a Prefeitura de Macarani limitou o acesso da Tabocas ao município e proibiu que as obras continuassem. Ela também intensificou as barreiras sanitárias nas três vias que dão acesso à cidade e colocou dois seguranças em cada alojamento para garantir que os infectados não saiam às ruas.
Além disso, a gestão municipal entrou com uma ação no Ministério Público baiano para tentar responsabilizar a empresa. “É justo que a empresa arque com as responsabilidades”, explicou o prefeito Miller Ferraz. Foram solicitados também, à Sesab, mais testes rápidos para mensurar quanto da população foi infectada. Porém, a pasta informou que a compra dos testes rápidos é feita pelo Ministério da Saúde e que a secretaria apenas distribui entre os municípios.
O CORREIO também entrou em contato com o promotor de Justiça da Bahia George Elias, que foi quem recebeu, nesta quinta-feira (25), o pedido do prefeito de Macarani. Segundo ele, a empresa pode ter cometido crime contra a saúde pública. “Como já existia um foco em outras cidades, a gente precisa saber se a empresa sabia que os funcionários estavam contaminados”, esclarece.
O promotor ainda diz que não pode obrigar a Tabocas a fazer as testagens em massa na população de Macarani. “Seria arbitrário de nossa parte agir de forma coercitiva nesse momento”, completa. Elias pediu então que um inquérito policial fosse aberto para apurar se houve ou não prática criminosa.
Procurado, o titular da Delegacia de Macarani, o delegado Roberval Nolasco, disse que o pedido do MP ainda não chegou em suas mãos.
A rede de transmissão da Tabocas vai de Padre Paraíso (MG) até a cidade de Poções (BA). Após saber dos dois casos, o prefeito de Itapetinga, Rodrigo Hagge, pediu a que empresa também testasse todos os 400 funcionários que estão na cidade. Foi dado um prazo de 48h para que ela entregue os laudos dos testes dos funcionários. O prazo vence neste sábado (27).
*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro