Eleição nos EUA: as gigantes das redes sociais realmente 'jogam contra' os republicanos?
Muitos americanos conservadores acusam Facebook e Twitter de ser parciais e praticar moderação injusta contra eles; mas até que ponto isso é verdade? Twitter, Google e Facebook participam de audiência no Senado dos EUA nesta quarta (28)
Jose Luis Magana, LM Otero, Jens Meyer/AP Photo
Quarta-feira (28/10) promete ser mais um dia estressante para Facebook, Google e Twitter.
Seus principais executivos serão questionados por senadores no Congresso dos Estados Unidos sobre se estão abusando de seu poder.
Para os republicanos, esta é a oportunidade que estavam esperando.
Duas semanas atrás, o Twitter impediu que usuários postassem links para uma reportagem investigativa do jornal New York Post criticando Joe Biden.
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Em seguida, a rede social pediu desculpas por não ter explicado por que fizera isso antes de descartar uma regra que havia usado para justificar a ação.
Para muitos republicanos, essa foi a gota d’água — evidência incontestável de que as mídias sociais são tendenciosa e atuam deliberadamente contra os conservadores.
A acusação é que o Vale do Silício (apelido da região em San Francisco, no Estado americano da Califórnia, onde estão sediadas diversas empresas de tecnologia) é basicamente liberal e um mau árbitro do que é aceitável em suas plataformas.
Nesse caso, republicanos como o senador Ted Cruz acreditavam que o Twitter teria agido de forma diferente se a história fosse sobre o presidente Donald Trump.
A acusação
Quando os conservadores acusam as empresas de mídia social de parcialidade, geralmente se referem ao que consideram moderação injusta.
É a ideia de que suas postagens são excessivamente censuradas e/ou suprimidas.
Mas é difícil provar definitivamente que as redes sociais são tendenciosas.
Por um lado, empresas como Facebook e Twitter mantém várias informações sob sete chaves — eles não compartilham todos os seus dados ou revelam exatamente como seus algoritmos funcionam.
Como resultado, quando os republicanos reclamam, geralmente é “acusação anedótica (sem evidência científica)”. Ou seja, um único exemplo usado para provar uma tendência maior.
Eles argumentam que o Twitter “escondeu” um tuíte do presidente Trump dizendo “quando a pilhagem começa, o tiroteio começa” durante os protestos em Minneapolis. Mas não escondeu um tuíte de aiatolás iranianos pedindo resistência armada em Israel.
Isso — de acordo com muitos à direita — prova os dois pesos e duas medidas do Twitter.
Esses exemplos foram citados repetidamente durante uma audiência no Congresso em julho, onde os chefes do Google, Facebook, Apple e Amazon foram interrogados.
“Vou direto ao assunto”, disse o congressista republicano Jim Jordan. “A Big Tech quer pegar os conservadores.”
Os CEOs das gigantes de tecnologia negam essa acusação.
Mas, de fato, várias dessas empresas adotaram recentemente uma abordagem muito mais ativa em relação à moderação.
Ao fazer isso, estão lutando com os tipos de problemas que os editores de jornais enfrentam todos os dias: o que deve e o que não deve ser publicado?
O que pensam os americanos
Uma pesquisa do instituto Pew Research Center em agosto indicou que 90% dos republicanos acreditavam que sites de redes sociais censuravam pontos de vista políticos. Cerca de 59% dos democratas defendem a mesma opinião.
Então, eles têm razão?
Uma das críticas dos republicanos às mídias sociais é que seus algoritmos eliminam o conteúdo conservador. Mas isso não é confirmado pelos dados do Facebook.
Os dados do CrowdTangle, uma ferramenta de insights públicos de propriedade do Facebook, reúne as postagens mais populares de cada dia nesta rede social. Em qualquer dia, os 10 principais posts políticos mais populares são dominados por comentaristas de direita como Dan Bongino e Ben Shapiro, junto com os posts da Fox News e do presidente Trump.
A página de Trump no Facebook tem 32 milhões de seguidores, quase 10 vezes mais do que seu adversário na eleição do próximo mês, Joe Biden, do Partido Democrata.
Se a acusação é de que o Facebook suprime o conteúdo da direita, não parece fazer isso muito bem.
Então, o conteúdo de direita está de fato sendo favorecido em relação ao conteúdo de esquerda?
Não é tão simples assim.
“Acho que é um erro olhar para isso como um viés de direita versus esquerda”, disse Siva Vaidhyanathan, professor de estudos de mídia da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos.
“A tendência é em direção a conteúdos que geram emoções fortes.”
Ele diz que embora “algumas postagens de extrema direita” tenham se espalhado amplamente nas redes sociais nos Estados Unidos, sua popularidade não é prova de que as plataformas sofrem de viés estrutural.
“No México, você pode ver um arranjo completamente diferente do que é promovido”, acrescenta.
Mas, se você observar o que está sendo censurado, poderá ver por que mais pessoas da direita podem ter mais problemas com moderação do que as da esquerda.
Por exemplo, poucos democratas afirmam que o voto por correspondência é fraudado.
O presidente Trump e muitos republicanos, sim.
O Facebook tem uma política de rotular alegações sobre fraude eleitoral. A empresa argumenta que está tentando combater a desinformação que pode minar a fé no sistema eleitoral dos EUA.
Mesmo assim, os republicanos são afetados de forma desproporcional.
Tome-se como exemplo o movimento Black Lives Matter.
O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, declarou abertamente que apoia a iniciativa. A página Black Lives Matter no Facebook tem pouco mais de 740 mil seguidores.
No entanto, outra página do Facebook chamada Blue Lives Matter possui cerca de 2,3 milhões de seguidores. Tem como objetivo apoiar os policiais e resistir a uma narrativa “antipolicial”.
O grupo foi criticado por se apropriar da sigla BLM — e acusado de racismo, algo que o fundador do grupo, Christopher Berg, nega.
Berg diz acreditar que o Facebook é tendencioso contra vozes conservadoras. Isso pode ser verdade considerando a popularidade da página?
“Não devemos observar a contagem de seguidores e o alcance. Em vez disso, temos que olhar para as coisas nos bastidores, que os indivíduos podem impactar… coisas como desmonetizar uma página”, diz ele.
Isso ocorre quando o Facebook julga que uma página violou suas regras e a impede de ganhar dinheiro com anúncios e assinaturas, por exemplo.
Berg diz acreditar que este é um tipo de preconceito menos perceptível, e as páginas de direita são mais suscetíveis.
Mas sua suspeita é difícil de provar. O Facebook não publica uma lista de páginas nas quais realizou ações.
E quanto ao Twitter?
O Twitter é uma plataforma muito diferente do Facebook.
Apenas uma pequena minoria de seus usuários publica regularmente conteúdo próprio.
E um estudo do Pew na semana passada descobriu que 70% dos usuários adultos altamente prolíficos dos EUA eram democratas.
Isso faz o Twitter parecer um lugar mais liberal, mas, mais uma vez, é difícil provar que é tendencioso contra os conservadores.
E no caso da pandemia de covid-19?
É verdade que o Twitter influenciou os tuítes de Trump mais do que os de Biden. Por exemplo, ao bloquear uma postagem de Trump sugerindo que a gripe era mais perigosa do que a covid-19.
Mas, ao mesmo tempo, estudos sugerem que Trump tem muito mais probabilidade de espalhar desinformação em torno da doença causada pelo novo coronavírus.
Na verdade, uma pesquisa da Universidade Cornell sugeriu que o presidente era o maior impulsionador da desinformação da covid-19.
Portanto, talvez não surpreenda que ele seja alvo dos moderadores do Twitter de forma “desproporcional”.
O dilema da mídia social
É exatamente por isso que as empresas de mídia social preferem não ter que moderar suas plataformas. Assim que se começa a decidir o que pode e o que não pode ser publicado, escolhas políticas são feitas.
Na verdade, alguns republicanos tratam qualquer tipo de moderação como um ataque à liberdade de expressão.
Uma ordem executiva assinada pelo presidente Trump em março dizia: “Não podemos permitir que um número limitado de plataformas online escolha o discurso que os americanos podem acessar e transmitir na internet”.
Em outras palavras, a decisão de arbitrar pode ser vista como filosoficamente anticonservadora.
Trump também disse que removerá a Seção 230 do Communications Decency Act. Essa lei protege as empresas de mídia social de serem responsabilizadas pelas coisas que as pessoas postam — mas também as protege das consequências de moderar ou censurar vozes conservadoras. Para as empresas, o fim dessa lei poderia devastar o setor.
E à medida que as grandes empresas de tecnologia sigam adotando uma abordagem mais intervencionista — seja contra QAnon (teoria de conspiração de extrema direita), discurso de ódio ou qualquer outra atividade proibida —, acusações de parcialidade vão continuar sendo feitas.
Assim como elas são difíceis de provar, também são muito difíceis de refutar. É aqui que as empresas de mídia social se encontram. Claro que negam agir de maneira tendenciosa. Mas a maioria dos americanos não acredita nelas.
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