‘É uma responsabilidade muito grande’, diz novo arcebispo de Salvador

Dom Sergio estava servindo como arcebispo em Brasília

Uma tradição secular se repetiu na manhã desta sexta-feira (5), em Salvador. Em uma cerimônia simples, mas repleta de simbolismo o Cardeal Dom Sergio da Rocha tomou posse como o 28º Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil. Ele sucedeu a Dom Murilo Krieger, que esteve à frente da Igreja Católica por nove anos.

A cerimônia aconteceu no Palácio Arquiepiscopal, na Praça da Sé, no Centro Histórico. Na primeira entrevista coletiva em Salvador, Dom Sergio foi comedido. Disse que não tem fórmulas prontas e que vai estudar as questões da Igreja antes de estabelecer as prioridades da nova gestão.

“Minha chegada a Salvador, primeiramente, é motivo de alegria, de ações de graças a Deus, de gratidão, mas também tenho senso de responsabilidade porque sei que a missão que estou recebendo é grande demais. Ser o arcebispo da Diocese Primaz da Igreja no Brasil é uma graça, mas também é uma responsabilidade muito grande. Por isso, espero poder honrar essa tradição bonita, histórica, cultural e religiosa que caracteriza Salvador”, afirmou.

Dom Sergio (à esquerda) assume o posto de Dom Murilo (à direita) (Foto: Tiago Caldas/ CORREIO)

Quando foi nomeado arcebispo de Salvador, no dia 11 de março deste ano, Dom Sergio falou em agradecer, amar e servir. Nesta sexta, ele voltou a agradecer aos fiéis pelo acolhimento, disse que tem para oferecer aos baianos o amor de pai, irmão e amigo e que, através desse sentimento, pretende servir ao povo. O religioso contou que admira e se inspira no exemplo de Santa Dulce dos Pobres e que, por isso, as Obras Sociais Irmã Dulce foram o primeiro local que ele visitou assim que chegou à cidade.

Dom Sergio também falou sobre a relação do catolicismo com outras religiões.

“Estou assumindo uma Igreja que já tem uma tradição longa de convivência com várias expressões religiosas. Quero aprender com Salvador. Espero valorizar a caminhada feita por essa Igreja querida ao longo de tantos anos, mas também fazer o máximo que posso para o diálogo e respeito entre as pessoas das diferentes comissões religiosas, sempre procurando a fidelidade à missão da Igreja”, afirmou.

Ele disse que a pacificação é uma das funções da Igreja e que pretende dar continuidade ao trabalho do antecessor como mediador de conflitos. Afirmou que a Arquidiocese estará à disposição sempre que for chamada para ajudar nos momentos mais difíceis, e que vai voltar os olhos, sobretudo, para os mais necessitados.

“A Igreja, através de seus representantes, deve participar da construção da fraternidade, da justiça e da paz. Queremos colaborar no diálogo. Espero que não tenhamos maiores conflitos, mas se houver alguma situação mais delicada, com certeza o novo arcebispo estará disposto para colaborar, sem ter a pretensão de controlar a sociedade, mas voltado para colaborar na superação dos desafios sociais que vão surgindo”, disse.

Novo arcebispo disse que está aberto ao diálogo com as religiões e a sociedade (Foto: Tiago Caldas/ CORREIO)

O novo chefe da Igreja Católica em Salvador é formado em Filosofia e doutor em Teologia, pela Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma, desde 1997. Ele tem 60 anos, é natural de São Paulo, e fez a ordenação em 1984. Ele já foi bispo auxiliar de Fortaleza (CE), arcebispo de Teresina (PI), e arcebispo metropolitano de Brasília (DF). Ele também foi presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e foi ordenado Cardeal, em 2016, por ordem do Papa Francisco.

Despedida
Dom Murilo participou da solenidade, deu as boas-vindas ao colega, e fez elogios à Igreja soteropolitana, à imprensa e à sociedade baiana. Ele disse que a aposentadoria vai permitir se dedicar as ações da igreja sem a responsabilidade de comandar uma Diocese. Perguntado sobre quais conselhos deixa para Dom Sergio, foi rápido na resposta:

“Ele é muito experiente para eu dar conselhos”, disse Dom Murilo, provocando risos.

“Mas eu disse para ele: ‘Não se preocupe, você vai sentir que o povo é muito acolhedor’. Para quem chega há sempre um medo, um medo que eu tive. ‘Como é que vão me receber? Será que vou me adaptar?’, mas isso desapareceu já na chegada, no aeroporto, com a festa que fizeram pra mim. Infelizmente, ele não pode ter essa recepção por conta de toda essa situação (pandemia), e eu estou saindo também em um momento muito difícil, mas tenho certeza que logo ele vai se sentir que é bem acolhido”, disse.

Dom Murilo se despede após nove anos de gestão (Foto: Betto Jr/ Arquivo CORREIO)

Dom Murilo contou que vai voltar para Corupá, cidade de 16 mil habitantes a 65 quilômetros de Joinville, em Santa Catarina, onde ele morou por sete anos na época do seminário. A gestão do agora antigo arcebispo de Salvador foi marcada, entre outras coisas, pela canonização de Santa Dulce dos Pobres e pela participação como mediador de conflitos, como as greves da Polícia Militar.

Ele disse que vai sentir falta da vida agitada, mas fez uma observação. “Eu penso que quem faz a vida agitada sou eu, tenho essa impressão”, disse, provocando mais risos.

O religioso explicou que o pedido de aposentadoria deve ocorrer sempre que o arcebispo completa 75 anos. Por isso, a solicitação de Krieger foi oficializada em 18 de setembro de 2018, data em que completou a idade, e foi aceita no dia 11 de março pelo Papa Francisco.

Cerimônia aconteceu no Palácio Arquiepiscopal (Foto: Betto Jr/ Arquivo CORREIO)

Solenidade
A cerimônia de posse aconteceu no Palácio Arquiepiscopal de Salvador, no Centro Histórico. O local é simbólico para a Arquidiocese porque foi onde viveram os principais bispos e arcebispos do país, durante 233 anos, e foi o Centro Administrativo e Pastoral da Igreja Católica no Brasil por séculos. O equipamento passou por reforma, foi transformado em um museu e reaberto ao público em dezembro do ano passado.

As celebrações terão continuidade mais tarde. Às 19h, será celebrada a missa de posse do novo arcebispo na Catedral Basílica, no Terreiro de Jesus. Por conta da pandemia provocada pelo novo coronavírus, a Celebração Eucarística será restrita e os fiéis poderão acompanhar, de casa, pelas redes sociais e pelas ondas da rádio da Arquidiocese.

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Missa será celebrada às 19h (Foto: Arisson Marinho/ Arquivo CORREIO)

Um dos momentos importantes da solenidade será quando Dom Sergio receberá o báculo, uma espécie de cajado que simboliza a missão de pastorear o Povo de Deus. O objeto pertenceu ao 21º Arcebispo de Salvador, Dom Jeronymo Thomé da Silva, que exerceu o cargo de 1893 a 1924. O báculo foi um presente do então Governador José Joaquim Seabra para a celebração do Jubileu de Prata do arcebispo, em 26 de outubro de 1915.

A peça tinha sido danificada e passou décadas sem uso, mas foi restaurada para a cerimônia. Ela foi encomendada em Paris, em estilo Art Nouveau, é dourada e possui várias pedras preciosas. Ela tem na parte curva superior (gancho) o motivo do “Bom Pastor”.

A Pastoral da Comunicação Arquidiocesana (Pascom) e a Rede Excelsior de Comunicação realizarão a transmissão da primeira missa de Dom Sergio, ao vivo, através dos canais:

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Rádio Excelsior AM 840

Rádio Excelsior FM 106,1