Drama sobrenatural estreia no Globoplay
As comparações são inevitáveis: a série brasileira Desalma, que estreia nesta quinta-feira (22), lembra produções recentes como a alemã Dark e a americana Stranger Things. Apesar de os criadores negarem a referência direta, quem gosta de um drama sobrenatural vai identificar na estética visual e sonora da produção original Globoplay elementos que remetem ao universo das duas atrações de sucesso da Netflix.
Principalmente porque a trilha sonora de Desalma teve consultoria do mesmo designer de som de Dark, o sonoplasta alemão Alexander Wurz. Além disso, a série brasileira está ambientada em duas épocas separadas pelo intervalo de 30 anos, como se vê em Dark. A fase mais madura mostra a vida de três mulheres, interpretadas pelas atrizes Cassia Kis, Claudia Abreu e Maria Ribeiro.
“A gente acaba fazendo parte de um movimento de obras que você está sujeito a comparação. Comparam a gente com Dark, porque tem uma atmosfera densa e chamamos Wurz. Mas não existe um referencial. Desalma mistura as nossas características. A gente achou um lugar nosso para contar a história desse povo que está no Brasil”, defende o diretor artístico Carlos Manga Jr.
A comunidade da Ucrânia no Sul do Brasil foi que serviu de inspiração para a roteirista Ana Paula Maia, que assina sua primeira obra audiovisual. Vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura por dois anos seguidos (2018 e 2019), Ana Paula viu naquelas tradições do leste europeu um mote para o roteiro da série gravada na serra gaúcha que já está com a segunda temporada confirmada.
“Desalma é um clássico narrativo. O que difere são os elementos que compõem a obra e a maneira com que você conduz os personagens. A gente nunca fez a obra preocupado em ser diferente ou parecido com nada. Fizemos buscando os elementos que fazem uma obra de fato”, justifica Ana Paula, que consome o gênero terror desde pequena, é fã de Arquivo X e dos filmes de Hitchcock (1899-1980).
Suspense
Assim como Dark, Desalma começa com o suicídio de um personagem que se arrepende de algo do passado. A partir desse mote, se desenrola a trama na pequena Brígida, cidade do interior do Sul do país, onde fenômenos sobrenaturais assombram a população ao longo de décadas e rituais de bruxaria prometem trazer de volta ao mundo dos vivos almas de pessoas que já se foram.
É voltando ao passado que se compreende os traumas de Brígida. Nos anos 80, sua população se reúne para comemorar a Ivana Kupala, considerada a noite mais escura do ano, mas a jovem Halyna (Anna Melo) que é filha da feiticeira Haia (Cassia Kis) some em meio à floresta. Seu corpo só aparece dias depois. Com a cidade traumatizada pela tragédia, a celebração é banida do calendário festivo da cidade.
“A série tem várias camadas”, explica a autora, “e há uma não aceitação da morte, uma relação com a transmigração de almas”. O tema escolhido mexeu muito com Cassia Kiss, que perdeu a mãe durante a pandemia. “Acredito na finitude de nosso corpo, na alma. Acredito com muita força na continuidade e na evolução espiritual. Isso para mim tem muita importância”, comenta Cassia.
O mergulho no tema fez também com que a atriz relembrasse dois abortos que teve na vida, um provocado e outro espontâneo. “Você quer enfiar o pé nesse autoconhecimento. Eu já disse para Ana Paula: Você está diante de uma atriz em plena transformação”, comenta sobre a série que a fez observar “a relação com meus filhos e a força do amor”. “É preciso que se considere a oportunidade que a gente está tendo da série ser lançada exatamente neste momento”, reforça.