Desinformação sobre vacina pode ser mais perigosa que Covid, alerta especialista

A polêmica em torno da afirmação do presidente Jair Bolsonaro sobre a CoronaVac deu vida a um debate político em todo o Brasil. O embate, no entanto, não ficou só na esfera federal. O vendedor ambulante Raimundo Freire, garante que não vai tomar a vacina mesmo sem saber direito o motivo. “Essa da China por enquanto tenho medo. Se fosse pra vacinar hoje, pretendo esperar uma outra vacina. Não vou dizer que é preconceito, mas tenho insegurança em tomar essa vacina aí.”

O autônomo Nauro Gattini tem medo de qualquer imunizante que seja aprovado neste momento. “Eu acho que precisa mais testas, né? Necessitaria mais testes. Por enquanto, nenhuma. Esperar mais um tempo e ver o que acontecer com as pessoas. Não sou contra mas acho tem que testar mais, né?” Já o marceneiro Romário dos Santos está ansioso por qualquer vacina aprovada pela Anvisa. “Eu tomaria se fosse aprovada direitinho tomaria, sim. Sem medo vai ter que servir de cobaia. então tomaria, sim.”

Especialistas afirmam, não haver motivo para dúvidas ou pânico. No Brasil, quatro vacinas contra a doença estão na terceira fase de testes — que é a última antes da liberação da Anvisa. O infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, explica que a falta de informação sobre a segurança da vacina pode ser mais perigosa do que a própria Covid-19. “Essa epidemia da desinformação que a OMS chama de infodemia, a circulação de noticias falsas, é uma doença digitalmente transmissível. Estamos vivendo a falta de apenas uma vacina, se fossem mais seria muito pior.”

Mãe de dois meninos, de 18 e 9 anos, Patrícia Angeli Dias conta que sempre soube da importância de manter a carteira de vacinação em dia. “Esse daqui é do Lucas, de 18 anos, completinha. Essa é do Thiago, de 9, e já estamos começando na parte de trás. Eu sempre segui o calendário certinho porque acho que ninguém pega as doenças porque estão se cuidando. Aqui em casa todo mundo se vacina.” Apesar dos esforços de Patrícia, muita gente está deixando de se proteger contra doenças que não apareciam há anos no país e voltaram a ser uma preocupação, como o sarampo.

A Organização Mundial da Saúde classifica a queda na cobertura vacinal como um dos dez maiores problemas de saúde pública no planeta. No Brasil, a redução é uma das maiores do mundo e vem acontecendo há cinco anos.A situação pode ser ainda pior em ano de pandemia. Segundo a OMS, 125 campanhas de vacinação que estavam marcadas para o primeiro semestre de 2020 em todo o mundo foram adiadas. O Brasil mantém o calendário e, durante todo o mês de outubro, realiza uma campanha contra a poliomielite e para a atualização da carteira de crianças e adolescentes de até 14 anos.

*Com informações da repórter Beatriz Manfredini